Carta Pastoral sobre a receção da Assembleia Diocesana
Guiados pelo Espírito Santo, Igreja em Renovação
(Carta Pastoral de D. Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda sobre a receção da Assembleia Diocesana de 2017)
Diocese da Guarda Junho de 2018
Introdução
Preparámos a nossa Assembleia Diocesana durante 3 anos, à luz do Concílio Vaticano II e dos últimos documentos do Papa Francisco. Convocámos, depois, duzentos e vinte delegados para as suas quatro sessões nas quais foram aprovadas 89 proposições. Dedicámos o ano pastoral 2017-2018 a um primeiro esforço de receção da mesma Assembleia nas nossas comunidades, durante o qual tive oportunidade de fazer um encontro com cada um dos nossos párocos e seus principais colaboradores.
A culminar estes contatos feitos ao longo do ano, em que as 89 proposições da nossa assembleia estiveram presentes, embora de formas variadas, tenho a alegria de apresentar agora a prometida Carta Pastoral, com algumas opções para a Diocese nos próximos tempos. Invocando o Espírito Santo, como guia principal e a Jesus Cristo, a referência primordial da nossa caminhada, que pretendemos continue a ser sinodal, apontamos agora caminhos de comunhão e de renovação.
I Critério pastoral e destinatários
Conduzidos pelo Espírito Santo, procuraremos que a vontade de Jesus Cristo sobre a Sua Igreja seja o critério da nossa caminhada de renovação pessoal e das nossas comunidades cristãs.
A ação da Igreja Diocesana deve proporcionar os meios necessários para um caminho pessoal e comunitário de amadurecimento da Fé e encontro com Cristo, através do Espírito Santo.
Esta ação da Igreja é dirigida a todos os que vivem no espaço da nossa Diocese, sejam os que vivem uma Fé já amadurecida, sejam os que, apesar de se considerarem católicos, não fizeram os necessários progressos na mesma Fé, sejam os que dela se afastaram, sejam mesmo os que ainda não tiveram oportunidade de experimentar o verdadeiro encontro com Cristo.
Tendo tudo isto em conta, vamos considerar, primeiro, a realidade do Espírito Santo, que nos habita e guia; depois, alguns traços fundamentais da vontade de Cristo sobre a Sua Igreja e a necessidade de educar para a aplicação deste critério.
1 - O Espírito Santo, fonte da desejada renovação das nossas comunidades
Desejo lembrar, antes de mais, o que diz à Igreja o Papa Francisco, na exortação apostólica Evangelii Gaudium, sobre a renovação eclesial inadiável, nos seguintes termos: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal capaz de propiciar mais a evangelização do mundo atual do que a auto- preservação” (EG 27).
Para conseguirmos dar cumprimento a este sonho do Papa Francisco, que é igualmente nosso, aplicando as proposições da Assembleia, sentimos a necessidade de fazer algumas opções, embora não muitas ou em demasia, que passem a marcar o ritmo do nosso trabalho pastoral, nos próximos tempos. Desejamos fazer essas opções, deixando-nos guiar pelo Espírito Santo.
1 - 1 O Pentecostes
Começamos por recordar algumas passagens bíblicas mais expressivas da realidade e da força do Espírito Santo na vida da Igreja, a começar pelo relato do Pentecostes, nos Atos dos Apóstolos (2, 1-13). Prestamos especial atenção aos seguintes passos desta passagem:
No dia de Pentecostes encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar. Sempre foi prática comum os discípulos reunirem-se com regularidade; geralmente no primeiro dia de semana, isto é, no domingo, como continua a acontecer nas nossas assembleias dominicais.
Nessa ocasião, apareceram os sinais do Espírito Santo – a rajada de vento e as línguas de fogo. Tenha-se em conta que o vento é linguagem bíblica para designar o Espírito Santo; por sua vez, o fogo pretende simbolizar tanto o aquecimento como a iluminação. Ora, hoje acontece que o mesmo Espírito continua a passar pelo meio de nós, com os seus sinais.
Todos ficaram cheios do Espírito Santo; mais ainda, os apóstolos falavam e, naquele mundo cosmopolita, apesar das línguas diferentes, cada um os ouvia na sua própria língua. Temos aqui o contrário daquilo que se passou no episódio da Torre de Babel (Gn 11, 1-9) - à confusão das línguas, por causa do orgulho dos homens, sucede agora a nova linguagem inspirada pelo Espírito Santo, que leva ao encontro de pessoas, povos e culturas.
A Igreja fica, assim, a partir do Pentecostes, interpelada para a missão que não tem fronteiras, porque é universal.
1 - 2 Carismas e ministérios suscitados pelo Espírito Santo
O Espírito Santo guia a Igreja despertando nela os carismas e serviços ou ministérios necessários à vida de cada uma das suas comunidades.
De facto, como lembra o Apóstolo Paulo na I Carta aos Coríntios (12, 3-13), o Espírito Santo é a força que faz despertar em cada comunidade os diversos carismas e ministérios, na medida em que distribui a cada um dos fiéis dons diferentes, sempre para o serviço do bem comum. O modelo utilizado por Paulo para dizer a ação do Espírito Santo na vida da Igreja e, particularmente em cada uma das suas comunidades, é o do corpo humano animado interiormente por um princípio de vida, que costumamos chamar a alma.
Neste, também há variedade de membros e de operações que cooperam para o mesmo objetivo que é o bem de toda a pessoa, sendo a alma o seu princípio vital.
É por isso que, na tradição cristã, se generalizou a ideia de aplicar ao Espírito Santo a denominação de alma da Igreja, como a pessoa humana também tem uma alma, que é o princípio dinamizador de todas as suas capacidades e operações.
1 - 3 O Espírito Santo e o mandato missionário
O Espírito Santo guia a Igreja também na medida em que preside ao cumprimento do mandato missionário dado por Jesus aos seus discípulos.
Jesus, entre as muitas surpresas que lhes fez, depois de ressuscitado, no primeiro dia da semana, entrou na casa onde eles se encontravam fechados com medo dos judeus, apresentou-se diante deles e disse-lhes: “Como o Pai me enviou também eu vos envio a vós”. Depois, soprou sobre eles e continuou a dizer-lhes: “Recebei o Espírito Santo: a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados e a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 19-23).
Nós queremos sentir que o Espírito Santo é realmente o condutor e o animador de toda a vida da Igreja, e concretamente desta nossa Diocese da Guarda e das suas comunidades. Todo o esforço de renovação que queremos continuar a fazer só terá resultados se acontecer na abertura de todos nós e nossas comunidades à luz e à força do Espírito Santo.
2 O que Jesus quer da Sua Igreja
Qualquer programa de renovação das nossas comunidades cristãs tem de partir sempre da vontade de Jesus quanto ao que deve ser a Sua Igreja.
Ora, nós sabemos que Jesus, pelo testemunho da Sua Palavra, quis expressamente que a missão recebida do Pai fosse continuada na Igreja que Ele próprio fundou. Por isso, como Mestre da Fé, preparou cada um dos discípulos, mas cuidou principalmente o Colégio dos Doze, constituindo a Pedro como sua cabeça.
Esta vontade original de Jesus passou, de facto, à vida e à prática dos primeiros cristãos. Por isso, eles organizaram-se em comunidades à volta de cada um dos apóstolos, vivendo como irmãos e em partilha de bens (cf. Act 4. 32-35); nunca, porém, como comunidades isoladas, mas vivendo a comunhão entre si mesmas. Daí a proeminência de uma dessas comunidades, aquela que foi presidida por Pedro e agora o é pelos seus sucessores – a Igreja de Roma.
Está, assim, justificada a comunhão que deve existir dentro de cada comunidade presidida por um dos apóstolos ou algum dos seus sucessores, mas também a comunhão que, por vontade de Cristo, tem de haver entre as distintas comunidades ou Igrejas, tendo uma delas a responsabilidade de presidir.
2 - 1 O mandato de Cristo
Continuando ainda a considerar a vontade de Cristo, cada uma das comunidades ou Igrejas presididas por um sucessor dos apóstolos – o Bispo com a sua Diocese – é chamada a cumprir a comunhão e a unidade, feitas da diversidade de carismas e ministérios que o Espírito Santo hoje continua despertar pela sua ação permanente na vida dos fiéis e das comunidades.
Por sua vez, as comunidades localizadas em que se organiza cada Diocese, sejam paróquias ou conjuntos de paróquias presididas pelo mesmo Pároco, hão-de procurar cumprir, o mais possível, a mesma comunhão, fraternidade e unidade que Jesus encomendou a toda a Sua Igreja.
É bom lembrar ainda que, em todos e cada um dos vários âmbitos em que a Igreja fundada por Cristo se expressa – seja nas comunidades paroquiais ou interparoquiais, seja na comunidade diocesana entendida como comunidade de comunidades (cf. Prop. nº 10, 1º), seja no âmbito da Igreja universal- há a obrigação de cumprir o mandato de Jesus para:
a - Aprender e ensinar o Evangelho (ser assíduos ao ensino dos apóstolos);
b - Celebrar o louvor de Deus, principalmente na fração do Pão (Eucaristia), mas também em outras formas de oração;
c - Praticar a caridade, crescendo na vida comunitária, sob inspiração do Espírito Santo.
2 - 2 O primeiro anúncio da Pessoa de Jesus Cristo
Temos aqui o ideal e o modelo da Igreja desejada por Cristo e de que as comunidades das origens nos dão exemplo.
De facto, este tripé aparece-nos, desde a primeira hora, na comunidade-modelo de Jerusalém descrita no livro dos Atos dos Apóstolos (2, 42-47 ).
Não pensemos que estas comunidades-modelo viviam exclusivamente centradas sobre si mesmas para criar aconchego aos seus membros, porque elas cumpriam, de facto, o mandato de Jesus lembrado no Evangelho – “Ide por todo o mundo e anunciai a Boa Nova a toda a criatura” (Mc 16,15). Eram, por isso, desde o início comunidades missionárias, a arder no desejo de lavar a Boa Nova àqueles que a não conheciam. É isso o que justifica a preocupação do Apóstolo Paulo passada aos cristãos de Roma, quando lhes lembrava: “Como poderão invocar Aquele em quem não acreditaram? Como poderão acreditar, se não ouviram falar d´Ele? Como poderão ouvir, se não houver quem O anuncie? Como poderão anunciar, se não houver quem seja enviado?” (Rm 10, 14 -15). Sobre nós hoje continua a pesar a grave responsabilidade de fazer o anúncio explícito da Pessoa de Jesus Cristo, procurando renovar dia a dia o encontro pessoal com Ele, sempre no desejo de o levar de novo a muitos ambientes, onde abundam sinais da Fé, mas que hoje não passam de restos de um passado sem retorno à vista (cf. EG 3. 110).
3 Educar para o espírito e a vontade da renovação
3 - 1 Imperativo da renovação
Na medida em que se deixar conduzir pelo Espírito Santo, a Igreja, em todos os níveis da sua vida comunitária, está sempre e necessariamente em renovação.
A renovação que hoje lhe é pedida passa principalmente por três preocupações:
a - A primeira delas assenta na formação, que leva os fiéis a conhecer mais e melhor o Evangelho, mas também os seus destinatários, que são as pessoas e o mundo de hoje.
b - A segunda consiste em cuidar a linguagem e as diferentes formas de transmissão da mensagem do Evangelho.
c - A terceira pede-nos para revermos constantemente as estruturas e os meios disponíveis, tanto materiais como humanos, usados para cumprimento da missão evangelizadora.
Ora, sobre esta disponibilidade para a renovação permanente, sempre com o objetivo da missão, o Papa Francisco diz o seguinte: “A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cómodo critério pastoral – sempre se fez assim. Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e o método evangelizadores das respetivas comunidades” (EG 33).
De facto, sobre a necessidade de fazermos mudanças na maneira de nos organizarmos para atingir objetivos novos que estão a ser pedidos à Igreja nos tempos de hoje, não podemos querer, com os mesmos procedimentos repetidos à maneira do passado, atingir resultados diferentes. Daí a razão do que nos recomenda o Papa Francisco para rompermos com a mentalidade muito comum de querer fazer hoje como sempre se fez.
Nesta linha, queremos fazer nosso o sonho do mesmo Papa Francisco materializado numa “opção missionária capaz de transformar tudo” (EG 27) e também na atitude da “saída missionária como paradigma para toda a Igreja” (EG 15) ou ainda na atenção ao apelo que ultimamente nos fez para cumprirmos, em 2019, um especial Outubro Missionário.
3 - 2 Dimensões da desejada renovação
Claro que as mudanças guiadas pelo Espírito Santo são transversais às várias dimensões da nossa vida pessoal e comunitária.
Assim, a primeira dimensão que requer mudança é a maneira de pensar, de olhar a vida da sociedade e procurar compreendê-la. Não é por acaso que o resumo da mensagem evangélica colocado nos lábios de Jesus começa por recomendar a metanoia arrependei-vos e acreditai no Evangelho (Mc 1, 15).
A mudança no pensar repercute-se necessariamente na nossa maneira de falar, sabendo nós que, como atrás ficou dito, é preciso cuidar a linguagem com que procuramos transmitir o Evangelho às gentes do nosso tempo.
Mas também tem efeito na maneira como os evangelizadores procuram auscultar os verdadeiros anseios das pessoas e responder às perguntas que elas fazem. Lembra-nos, a este propósito, o Papa Francisco: “Nunca se deve responder a perguntas que ninguém se põe” (EG 155). E nós podemos acrescentar: nem a perguntas que foram feitas no passado e que hoje já ninguém faz.
De facto, é necessário e urgente passar de “uma pastoral de conservação para uma pastoral decididamente missionária” (EG 15), de uma “simples administração” para “um estado permanente de missão” (EG 25).
E a maneira como auscultamos as pessoas também tem que mudar ou pelo menos ser o mais cuidada possível. Os decisores na vida da Igreja e também os comunicadores precisam de identificar bem o que decidem e comunicam num verdadeiro processo de discernimento, em que conta a escuta da Palavra de Deus, a oração intensa, mas também a auscultação, o mais alargada possível, das pessoas implicadas (cf. Prop. nº 3, 1º).
O Evangelho pede-nos que cultivemos ainda a mudança na maneira de olhar o mundo e as pessoas. Isto de tal maneira que, em vez de ajustarmos a nossa compreensão e nos regularmos somente pelos aspetos exteriores, procuremos compreender o interior das pessoas e mesmo do próprio mundo no que eles são de espelho de Deus, seu criador.
Essa compreensão profunda das pessoas, da sociedade e do próprio mundo ultrapassa as capacidades da inteligência e envolve aquele íntimo de nós mesmos, que costumamos traduzir com a palavra coração.
E uma vez mudado a sério o coração, o nosso agir também muda, traduzindo as atitudes próprias dos verdadeiros seguidores do Mestre que é Jesus.
Na medida em que nos deixamos trabalhar pelo Espírito Santo, com os seus sete dons, esta mudança plurifacetada, que é de verdade uma conversão transversal a todas as dimensões da nossa pessoa, vai acontecendo. Assim, o Espírito Santo, na medida em que nos deixarmos guiar por Ele, transforma, em primeiro lugar, a nossa maneira de pensar, oferecendo-nos os dons da Ciência, do Entendimento e da Sabedoria; trabalha o nosso coração, orientando-nos principalmente nas grandes decisões que temos de tomar e para isso nos concede o dom do Conselho; ajuda-nos a levar à prática as boas decisões e para isso nos dá o dom da Fortaleza. E também nos garante o clima de proximidade, boa relação e segurança, nas opções que precisamos de tomar, muitas delas ao arrepio da mentalidade dominante e, por isso, nos confere os dons da Piedade e do Temor de Deus.
II Opções pastorais
Para definir os caminhos do nosso trabalho pastoral nos próximos tempos preparámos e realizámos uma Assembleia Diocesana que agora está em processo de receção. E quisemos que esta Assembleia acontecesse em caminhada sinodal, quer na sua preparação, quer na sua realização, quer agora na sua receção. Entendemos por caminhada sinodal a conjugação dos esforços de todos com todos à procura dos melhores caminhos para viver a Fé com as suas implicações na nossa vida pessoal e comunitária, para dentro e para fora da Igreja.
Depois do percurso até agora realizado, aponto algumas opções sobre as quais deverá assentar o nosso trabalho pastoral no futuro imediato, inspirando os nossos próximos planos diocesanos de pastoral.
Depois desta Assembleia e à luz das suas proposições, como também da realidade pastoral e sociológica que nos envolve, sentimos ter pela frente um longo caminho a percorrer para que a nossa Igreja Diocesana cumpra o mandato missionário de Cristo. Precisamos de esforço continuado e progressivo para implementar algumas medidas que envolvam a todos, pois sentimos evidente inadequação entre muitos dos nossos meios, métodos e estruturas pastorais, por um lado, e a realidade cultural, sociológica e mesmo eclesial por outro. Vemos a necessidade de fazer algumas renovações profundas e queremos dispor-nos para elas, deixando-nos guiar pelo Espírito Santo.
1 Cuidar a vida comunitária nas nossas comunidades
É facto que a vida das nossas comunidades precisa de ser cuidada para elas espelharem o mais possível aquela comunhão que existe no seio de Deus, Trindade Santíssima. (cf. Prop. 1 e 2, 1º).
Para cuidar da vida destas nossas comunidades precisamos de ministérios – os ministérios ordenados derivados do Sacramento da Ordem administrado aos sacerdotes e diáconos; e os ministérios laicais, assentes no Sacramentos do Batismo e da Confirmação.
1.1. Sobre os ministérios ordenados (cf. Prop. nº 4, 1º)
a - Sentimos que é urgente estimular em todos nós sacerdotes e diáconos, mas também nos outros ministérios e nas próprias comunidades o entusiasmo pela promoção das vocações sacerdotais.
Não temos no nosso Seminário Maior Interdiocesano ainda os seminaristas que precisamos. Não temos o Seminário Menor, com candidatos principalmente incluídos na área do Ensino Secundário, que desejamos ter. E os participantes nas iniciativas do Pré-Seminário são em número muito reduzido. Com apoio da equipa que temos a trabalhar no Seminário e Pré- Seminário, precisamos de ir mais longe no convite a candidatos para depois se poder realizar o discernimento.
b - A santificação dos sacerdotes e a procura de uma espiritualidade sacerdotal forte continuam a ser o fator decisivo em qualquer processo de renovação pastoral. Por isso, levei esta intenção para todos os encontros que tive, ao longo deste ano, com cada pároco e seu conjunto pastoral.
E como lembra a proposição nº 4 do 1º conjunto, aos presbíteros é-lhes pedido que, de acordo com a sua identidade de membros de um Presbitério, saibam conjugar bem o princípio da jurisdição com o princípio da cooperação.
c - Aos Diáconos Permanentes pede-se-lhes que, com a criatividade que o exercício deste ministério na vida da Igreja continua a pedir, encontrem, sob orientação do Bispo e com a superintendência do Sacerdote ou Sacerdotes a que se encontram ligados, os melhores caminhos para exercerem bem, como lembra o Diretório, a Diaconia da Palavra, a Diaconia da Liturgia, a Diaconia da Caridade, a que acrescentamos também a Diaconia da Administração.
1 - 2 Quanto aos outros ministérios (cf. Prop. nº7 e 8, 1º)
a - É necessário que cada comunidade, com a condução do Pároco, identifique os ministérios que precisa, procure as pessoas indicadas para o seu exercício, lhes faça o devido convite e lhes garanta a formação e o acompanhamento necessários ao bom desempenho da sua missão. Quer sob a forma de instituição quer de nomeação, sejam devidamente mandatados e credenciados perante as comunidades (cf. Prop. 7 e 8, 1º).
b - Todos os ministérios – os ordenados e os não ordenados – precisam de viver entre si a comunhão coordenada pelo sacerdote para poderem servir bem a comunhão da Igreja. Como lembra a exortação apostólica do Papa João Paulo II Christifideles laici (1988), “A eclesiologia de comunhão é a ideia central e fundamental nos documentos do Concílio Vaticano II” (nº 19).
c - É necessário cuidar os movimentos laicais de apostolado, avaliando os que já existem e perspectivando a introdução de outros que se julguem mais adaptados às presentes necessidades pastorais.
1 - 3 Comunhão entre comunidades
Por sua vez, é preciso promover entre as comunidades também relações de comunhão, sobretudo nos conjuntos paroquiais confiados ao mesmo ou a vários párocos.
a - Isso implica partilha de ministérios e serviços, nomeadamente serviços de formação, a começar pela formação de formadores e celebrações, incluindo a celebração Eucarística Dominical. Isto, sem prejuízo de dar a devida atenção e fazer atendimento a todas as pessoas, a começar por aquelas que, por razões de limitação de mobilidade, não podem deslocar-se.
b - A nossa Diocese, como lembra a proposição nº 10 do 1º conjunto, é chamada a ser cada vez mais comunidade de comunidades voltadas para a missão, o que implica progredir para um novo modelo de paroquialidade, que se concretiza na interajuda com as paróquias mais pequenas ou mais carenciadas de meios, assim como na corresponsabilidade com paróquias que venham a ser confiadas a diáconos ou mesmo leigos (cf. Prop. nº11, 1º).
c - Saudamos a recomendação de uma pastoral de conjunto (cf. Prop. 12, 1º) bem coordenada, que valorize os distintos ministérios, as várias iniciativas já existentes e introduzindo outras mais ajustadas ao que as pessoas necessitam e que procure chegar a todos.
d - É recomendável que nos grandes centros populacionais se desenvolva uma “pastoral de cidade” que articule, da melhor maneira, as formações, as celebrações, outras iniciativas das diferentes paróquias implicadas, com a colaboração bem coordenada dos diferentes ministérios.
1 - 4 Construir comunidades em processo de caminhada sinodal.
Como diz a proposição nº 3 do 1º conjunto, aos decisores pastorais pertence fazerem o discernimento a que estão obrigados com base na Palavra de Deus e na auscultação dos membros do Povo de Deus.
a - Depende muito da atitude de cada Pároco, do Arcipreste e do Bispo Diocesano, na maneira como cuidam os seus órgãos de aconselhamento, previstos na legislação canónica, que se cumpra este belo desígnio de caminhada sinodal. De facto, ao Pároco com o seu conselho pastoral paroquial ou interparoquial ou simplesmente apoiado na sua equipa pastoral; ao arcipreste, dinamizando o Conselho Pastoral Arciprestal e ao Bispo, constituindo e motivando o Conselho Pastoral Diocesano, pertence a grande responsabilidade de manter e aprofundar continuamente o autêntico espírito da caminhada sinodal.
b - Precisamos de fazer repousar cada vez mais nestes órgãos de participação, aconselhamento e decisão os nossos programas pastorais diocesano, arciprestal e paroquial ou interparoquial.
c - O Bispo Diocesano conta ainda com a ajuda dos outros conselhos previstos na lei canónica, tais como o Conselho Presbiteral, o Colégio de Consultores e o Conselho Diocesano para os Assuntos Económicos.
2 - Cuidar a formação da Fé esclarecida e comprometida
A formação da Fé de todos os fiéis e a todos os níveis tem de ser a nossa grande aposta. O futuro das nossas comunidades depende, em grande medida, do empenho que formos capazes de colocar nos nossos programas de formação cristã, em ordem a uma vida de Fé cada vez mais esclarecida e comprometida, tanto na vida interna da Igreja como no meio do mundo, com a vivência dos valores humanizantes de inspiração cristã. Neste processo de formação, tendo em conta as proposições da Assembleia Diocesana, são de ter em conta as iniciativas seguintes.
2 - 1 A centralidade da Palavra de Deus na nossa vida pessoal e comunitária
Temos de saber priorizar, nas nossas tarefas e programas, a formação bíblica e o encontro vivo com a Palavra de Deus lida, meditada, partilhada, rezada e aplicada tanto na vida pessoal como nas relações comunitárias.
Grupos bíblicos, assembleias de famílias que fazem oração alimentadas pela Palavra de Deus, mas também outras formas de “lectio divina”, que podem ser a partilha em grupo da Palavra que é proclamada em cada assembleia dominical, são bons instrumentos para procurarmos chegar a este encontro vivo e vital com o Senhor presente na Sua Palavra. Recomenda-se a todas as expressões de Igreja na nossa Diocese (paróquias, grupos de paróquias, e outras comunidades, secretariados, serviços e obras de apostolado) que façam aposta séria em viver da Palavra de Deus, fazendo dela a fonte inspiradora e reguladora das suas preocupações e serviços variados. As proposições nºs 1 a 5 do 2º conjunto para ela chamam a nossa atenção.
A Palavra de Deus tem a sua força própria, que nos surpreende e não podemos prever. Por isso, recomenda-nos o Papa Francisco que toda a evangelização deve fundar-se sobre “esta Palavra escutada, meditada, vivida celebrada e testemunhada” (EG 174).
Como é que os nossos programas e as recomendações feitas aos fiéis hão-de refletir cada vez mais esta centralidade da Palavra de Deus é assunto que temos de retomar constantemente, nos variados âmbitos de diálogo, de aconselhamento e decisões a tomar.
2 - 2 A catequese da infância e adolescência
Este sector da formação é um daqueles que se apresentam, nas nossas paróquias e conjuntos de paróquias, como sendo uma rede consideravelmente montada e organizada, atendendo sobretudo ao número de catequistas espalhados por toda a Diocese; isto sem prejuízo de atendermos à renovação que também nele se impõe.
Por isso, a formação, motivação e acompanhamento dos catequistas há-de ser merecer a nossa especial atenção.
Por sua vez, é muito importante o envolvimento dos pais na catequese dos filhos, quer através das reuniões específicas previstas nos catecismos, quer através da catequese familiar, quer de outras formas, que podem chegar à constituição e funcionamento da escola paroquial ou interparoquial de pais.
Também o reduzido número de crianças existentes em muitas paróquias pede iniciativas adaptadas à situação, quer constituindo grupos de catequese transversais a várias idades, quer convocando as crianças e adolescentes para sessões de catequese em lugares determinados com mais visibilidade e centralidade. A definição de formas de atuar nestas situações tem toda a vantagem em ser pensada com ajuda quer da equipa pastoral ligada a cada Pároco quer do Conselho Pastoral Arciprestal.
Estamos a falar de um assunto que já foi tratado numa das nossas jornadas de formação para o clero e a que precisamos de recorrentemente a voltar.