Primeiro Domingo da Quaresma - Homilia de D. Manuel Felício

I domingo da Quaresma

10.3.2019

 

Homilia de d. Manuel Falício Bispo da Guarda

Quaresma em ano missionário

 

1. Entrámos na Quaresma, este tempo favorável, este tempo de salvação. É a grande oportunidade que Deus nos oferece para revermos a nossa vida, tanto pessoal como comunitária, diante do espelho que é a Pessoa de Jesus e o Evangelho.

Vivemos esta Quaresma num ano missionário, preparatório do especial Outubro Missionário/2019. E queremos, especialmente durante ela aproveitar para redescobrirmos a nossa vocação missionária. Sim, porque a vocação missionaria não é apenas de alguns, mas de todos os discípulos de Cristo, que, pelo facto de o serem, são enviados em missão. E o cumprimento deste envio pode não exigir que nos desloquemos para muito longe. Isto porque também o nosso país faz parte daqueles espaços de tradição cristã, onde, para além de uma nova evangelização ou reevangelização, se requer, em muitos casos que se faça a primeira evangelização.

De facto, nós estamos habituados a identificar os missionários com aqueles que partem das suas terras para longínquas paragens a fim de aí fazerem missão ad gentes. Mas a realidade é outra, porque este velho continente da Europa, que em outras épocas e ainda recentes  exportou missionários em relativa abundância, agora tem extensas áreas sociais e culturais onde se torna necessária uma verdadeira e própria missão ad gentes.

E nós verificamos todos os dias como mudou muito a relação da sociedade, nomeadamente as suas instituições e órgãos de poder, com a Igreja. Na realidade, as pessoas querem ter as suas opiniões sobre tudo e todos, e em total autonomia, sem receberem orientações de ninguém nem de nenhuma instituição e menos ainda sem terem de dar contas seja a quem for. Por isso, as orientações da Igreja  e a moral cristã m na Igreja se cometembir-se que o seja. Dacessidade de uma refer cayequese sem os conhecimentso e prsão frequentemente consideradas como uma ingerência indevida na vida individual de cada um.

Além disso, o Evangelho e a vida de Jesus são cada vez menos conhecidos e bem assim as atitudes básicas que a Fé inspira, como é o caso da oração. Não vai longe o tempo em que era raro uma criança aparecer na catequese sem os conhecimentos e práticas básicas de oração. Hoje não é assim.

Apesar de tudo, o comum das pessoas continua a sentir necessidade de uma referência para os comportamentos em sociedade e à Igreja continua a pedir-se que o seja. Daí a repercussão mediática dos erros que também na Igreja se cometem.

Esta nova situação da sociedade em geral, sobretudo europeia, com a tentativa clara de afastar a Igreja da esfera pública, remetendo a Fé para a vida privada individual e o mundo das consciências, constitui em si mesma exigência redobrada de uma nova aposta na evangelização. É de lembrar que, desde os início da vida da Igreja o Evangelho foi sempre considerado mais do que um livro. O Evangelho foi e é o acto de anunciar a Boa Nova de Cristo Ressuscitado. Ora bem, todo o discípulo de Cristo é chamado a empenhar-se sempre e cada vez mais nesse acto de anunciar o Evangelho. E para aí que nos chama a atenção o ano missionário que estamos a viver.

 

2. A Quaresma é este tempo de 40 dias em que procura­mos preparar-nos para celebrar o Mistério Pascal de Cristo. É, de fato, esse tempo favorável de salvação de que nos fala a Palavra de Deus. É tempo especialmente convidativo para abrirmos as portas da nossa vida a Deus que vem para nos ajudar a rever e a recompor toda a nossa existência. Por isso, queremos, por um lado contemplar as maravilhas que Deus fez e continua a fazer em nosso favor. Esse foi também a atitude do Povo de Deus do Antigo Testamento que, na sua profissão de Fé recomendada por Moisés na I leitura passava em revistas a história da libertação do Egipto e a sua entrada na terra prometida. Por outro lado, queremos fazer a nossa revisão de vida, reconhecendo os nossos erros e os nossos pecados em ordem à conversão.

 

O mesmo Espírito que esteve sempre com Jesus e o conduziu ao deserto onde foi tentado depois de jejuar 40 dias e 40 noites, está também connosco. Esse mesmo Espírito que acompanhou Jesus na resistência às tentações, nunca nos falta com a sua assistência..

E as tentações por que passou Jesus também passam por nós.

 

De facto, somos discípulos de Jesus com uma missão a cumprir. Essa missão precisamos de a identificar bem para depois a cumprirmos com coragem. Ora, em todo o processo que nos leva a identificar bem essa missão há sempre dificuldades e por vezes cometemos erros.

Quantas vezes nos falta a coragem e então nos vem a tentação de a trocar por outra, que nos parece mais agradável.

Também Jesus foi tentado, como nos lembra o Evangelho de hoje, pelo demónio que procurou desviá-lo do cumprimento da missão que o Pai lhe havia confiado. Jesus venceu com recurso á Palavra de Deus.

E podemos identificar as tentações de Jesus como sendo recorrentes na vida de hoje, como são as tentações do dinheiro acima de tudo, do poder que cega as pessoas ou então da tentativa de manipular as relações mais sagradas como é a religião para fins perversos. Hoje continua a ser verdade que nem só de pão vive o homem como também perante tantas formas de idolatrar o poder continua a ser libertador lembrar que Deus está acima de tudo ou então que perante formas infelizmente actuais de utilizar a religião para fins perversos a resposta continua a ser a de que não tentarás o Senhor teu Deus.

 

Tal como Jesus fez também nós devemos fazer, procurando a luz e a força da Palavra de Deus para vencermos as muitas tentações que passam pela nossa vida.

A Palavra de Deus, tal como Paulo o lembra aos cristãos de Roma, está perto de nós, na nossa boca e antes disso no nosso coração. Ela é Palavra de salvação para nós na medida em que nos leva a professar a Fé na Pessoa de Cristo morto e ressuscitado.

 

3. É no mundo de hoje, feito de muitas possibilidades e contradições, que somos chamados a viver a Fé e a comunicá-la, cumprindo a missão que o próprio Deus nos confia.

E nós damos conta de que há muitos ambientes onde a Fé e os seus valores já estiveram presentes e agora não estão.

O nosso mundo ainda tolera alguma religiosidade e que se preservem as tradições mesmo religiosas, mas quando se trata de levar a Fé e o Evangelho as suas últimas consequências nos comportamentos das pessoas e da própria sociedade, isso com frequência já não é aceite.

A Igreja e as suas instituições são ainda toleradas, mas não devidamente valorizadas. E mesmo as relações institucionais entre a Igreja e o Estado passam por dificuldades.

É neste mundo concreto que temos de hoje ser missionários, enquanto discípulos de Cristo.

 

Ao vivermos este ano missionário preparatório do Outubro missionário/2019, lembramos os muitos missionários que partiram das nossas terras para a missão ad gentes em países onde a Pessoa de Cristo e o Evangelho não eram conhecidos. Damos graças a Deus por eles, mas ao mesmo tempo sentimos o apelo para sermos missionários nos nossos ambientes que, tendo já, em tempos mais ou menos passados respirado a Fé em abundância agora precisam de ser evangelizados  de novo. É essa a razão por que se reconhece que esta velha Europa, onde nos incluímos, também é terra de missão ad gentes. Mas mesmo quando procuramos dinamizar a vida das nossas comunidades de Fé, dando-lhes novo vigor e capacidade para cumprirem a tarefa da evangelização, estamos também a ser missionários.

 

Neste ano missionário, a nossa renúncia quaresmal é destinada a iniciativas de missão, tanto para fortalecer as estruturas de missrte daqueles espaços de tradiçãosimples, o que pode revestir forma de abstençdes de Fas tentaçso ajudar a rever e a recompor todão desta diocese que tantos missionários enviou para países distantes como também ajudar iniciativas de missão em países distantes, respondendo a pedidos que nos foram feitos.

 

Lembramos também que toda a Quaresma é tempo especial para vivermos a reconciliação, com especial aproveitamento do sacramento da Penitência e também que a meditação do Mistério da Paixão de Cristo nos é especialmente recomendado. Por isso, todas as sextas-feiras do ano, mas especialmente as da Quaresma, são dias de abstinência, fazendo nós refeições mais pobres e simples, o que pode revestir a forma de abstenção de carne.