Vigília Pascal 2019

Vigília Pascal 2019

 

Irmãs e irmãos:

 

Naquela primeira madrugada da Ressurreição, era o primeiro dia da semana e o dia seguinte à celebração da Festa da Páscoa para os judeus, ao romper da manhã, as mulheres foram ao sepulcro de Jesus, levando consigo os perfumes próprios das cerimónias fúnebres.

Acompanhemos nós também estas mulheres, deixando-nos surpreender por aquilo que as surpreendeu a elas e deixando-nos envolver pela decisão que elas tomaram diante de tamanha surpresa.

 

De facto, contra todas as expectativas, encontraram a pedra de entrada removida e o sepulcro vazio. Entraram, mas não viram lá o corpo de Jesus, o que as deixou perplexas e sem palavras.

Apareceram-lhes dois anjos, em vestes resplandecentes, que as amedrontaram. Disseram-lhes palavras que mais inquietas as deixaram, como foram as seguintes: “Porque buscais entre os mortos aquele que está vivo? Não está aqui, ressuscitou”.

 

Alegremo-nos também nós irmãos, nesta Vigília Pascal, com as mulheres que, de facto, não entenderam a mensagem que lhes estava a ser transmitida. Foi uma surpresa tão grande que  não dava entender.

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autorefém nós hoje temos de continuar o nosso esforço de compreensão desta grande novidade que está no centro da nossa Fé, da nossa identidade cristã, enquanto baptizados e discípulos de Cristo. Por isso, juntamente com as mulheres queremos deixar-nos conduzir pela explicação  que esses homens vestidos de branco as ajudaram a encontrar. Apelaram á sua memória para recordarem o que o mesmo Jesus lhes tinha dito, em terras da Galileia, ao avisá-las, como aos outros discípulos,  de que o seu caminho passava por ser entregue às mãos dos pecadores e ser crucificado, mas ao terceiro dia havia de ressuscitar. E foi mesmo esta recordação sugerida pelos anjos que as levou a iniciar o processo da Fé na Ressurreição do Senhor Jesus.

E não perderam tempo, pois, como diz o mesmo Evangelho de S. Lucas, correram a contar tudo aos apóstolos, assim como a todos os outros.

Claro que o sucesso desta sua decisão de partirem, a correr, para contar tudo aos apóstolos não foi imediato. Aos apóstolos estas palavras pareciam um desvario, ou seja uma coisa sem sentido e, por isso, não acreditaram. Mas, pelo sim pelo não, Pedro foi averiguar o que se passava e correu ao sepulcro. Constatou que o corpo de Jesus não estava lá, mas somente as ligaduras. Voltou admirado com o que viu, mas sem se dizer que acreditou logo.

 

Hoje, ao celebrarmos esta Vigília Pascal, damos graças a Deus pelas primeiras testemunhas do acontecimento que inaugurou os novos tempos do Reino anunciado por Jesus, isto é a sua Ressurreição.

Não podemos deixar de registar que as primeiras testemunhas foram mulheres, que já tinham acompanhado Jesus durante a sua vida pública, nomeadamente na Galileia. E foram elas as que transmitiram esta novidade aos apóstolos.

Alegremo-nos e demos graças, porque, se nós hoje vivemos a Fé no Senhor Ressuscitado, devemo-lo a estas primeiras testemunhas do sepulcro vazio, depois às primeiras experiências das aparições de Jesus e à Igreja nascente reunida à volta dos apóstolos que acreditou e encontrou meios de transmitir às gerações futuras esta Fé no Senhor Ressuscitado.

 

Irmãos e irmãs:

Somos discípulos deste Senhor Jesus vivo e fonte de vida. E essa é também aquela nossa condição que recordamos e vamos reafirmar, dentro de momentos, com a renovação das promessas do nosso baptismo.

Escutámos a carta de S. Paulo aos Romanos, que é sempre lida na Vigília Pascal e nos dá a verdadeira chave de leitura da importância do nosso Baptismo e da razão de ser das promessas que nele fizemos ou alguém fez por nós e hoje renovamos, de viva voz, perante a comunidade. De facto, reafirmamos hoje, de novo, que pelo Baptismo estamos configurados com Cristo, sendo sepultados com Ele na sua morte e também ressuscitados com Ele para uma vida nova. E a explicação do apóstolo continua. Bem sabemos que o nosso homem velho foi crucificado com Cristo para que fosse destruído o corpo de pecado e, com o mesmo Jesus Cristo, vivamos uma vida nova para Deus.

Fica, assim,  delineado o que nós somos, discípulos de Cristo e com ele configurados, desde o dia do nosso baptismo e também o programa que havemos de cumprir.

 

A Festa da Páscoa, com a novidade de Cristo Ressuscitado e vivo no meio de nós, inicia-se hoje, na Vigília Pascal, continua no Domingo e Páscoa da Ressurreição e durante toda a semana pascal, que é um  domingo continuado. Depois, todo o tempo pascal, até ao domingo de Pentecostes, nos convida a manter viva a chama da Fé na Ressurreição de Cristo com  todas as implicações na nossa vida pessoal e comunitária, tanto no interior da Igreja como na sociedade que também é a nossa..

 

Vamos, por isso, procurar qu o tempo pascal seja para nós oportunidade bem aproveitada para entrarmos por caminhos de renovação, primeiro pessoal, a partir do nosso interior, e depois com efeitos visíveis nas nossas relações

Celebrar a Páscoa é imperativo para intervir na construção do mundo novo inaugurado  por Jesus Cristo. E esse mundo novo não é nem a restauração do passado, como se do tradicionalismo e das seguranças passadas quiséssemos fazer o nosso seguro de vida; nem é, pelo contrário, embarcar em qualquer utopia de futuro que seria só para aliviar as dores e curar as desilusões do presente.

Queremos, sim, pela ligação à Pessoa de Cristo Ressuscitado, cultivar o verdadeiro e legítimo sonho que se pode definir como Deus a sonhar em nós, ajudando-nos a experimentar neste mundo que é passageiro as certezas do mundo que há-de vir, eterno; certezas essas, porém, muito diferentes daquelas que, em geral, este mundo nos propõe.

E cito, para terminar, um caso ilustrativo desta diferença.

Um dia, interpelaram a Madre Santa Teresa de Calcutá, dizendo-lhe que o seu esforço pelas ruas daquela cidade a recolher moribundos não passava de uma gota de água no oceano. Pois recolhia por dia 2 ou 3 e os moribundos eram ás  centenas. Portanto não valia a pena fazer tanto esforço.

Resposta de Madre Teresa, agora Santa Teresa de Calcutá: “Não vim para aqui à procura de êxito, mas tão só para tentar espelhar o amor infinito de Deus , onde há lugar para todos, mesmo para aqueles que eu não tenho capacidade para socorrer”.

Que esta resposta de Madre Teresa nos inspire as melhores formas de vivermos com determinação esta Páscoa.

 

20.4.2019

 

+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda