Bênção dos finalistas da UBI
Homilia
Caros finalistas
Hoje é dia de festa.
Festa para os finalistas da Universidade da Beira Interior que cumprem uma das etapas mais importantes da sua vida.
De facto, caros finalistas, o diploma que passais a poder apresentar é prova de que tendes capacidades para servir de forma qualificada a sociedade e o bem das pessoas. A partir de agora assumis a responsabilidade de estar á altura das legítimas expectativas que as pessoas em vós colocaram e de uma sociedade que investiu em vós para poder ter o devido retorno.
Por isso, a nossa oração de hoje é de acção de graças pelo percurso que até agora fizestes, mas também de prece para que nunca vos falte o auxílio necessário para saberdes sempre transformar em efectivo serviço aos outros as competências que o vosso diploma representa.
Este é dia para também darmos os parabéns aos vossos pais e outros familiares que vos deram apoio decisivo no percurso académico que fizestes até agora. É, por isso, legítimo o natural orgulho que eles sentem com este vosso êxito.
E a nossa Universidade da Beira Interior tem igualmente direito a sentir-se honrada com esta vossa festa. Vós sois, de facto, os frutos da colheita que a Universidade agora realiza depois de ter semeado abundantemente durante os anos em que vós a frequentastes.
Mas mais ainda, vós sabeis que esta colheita, diga-se o vosso diploma, não pode ser considerada o fim da vossa relação coma Universidade ou outros instrumentos de formação permanente. Sim, porque a formação que adquiristes até agora é tão só a formação inicial. A seguir vem a formação em exercício, na qual as vossa competências são testadas, aperfeiçoadas e mesmo completadas, em nome da progresso da ciência enquanto tal, mas também porque surgem novas necessidades às quais é necessário dar a devida resposta.
Igualmente por este motivo, o dia de hoje é especial para a nossa Universidade que quer continuar presente nas vossas vidas e nos vossos projectos.
Recebeis o vosso diploma universitário em hora de profundas mudanças na história do mundo e na vida da nossa sociedade, incluindo a realidade portuguesa que mais directamente nos diz respeito.
São mudanças que trazem novos desafios e eu desejo nesta hora lembrar-vos três de ordem geral e mais um que implica de forma especial as nossas terras que são periferia de um país que por sua vez também é periferia da Europa.
Um desses novos desafio prende-se com a tendência para, no tecido empresarial, substituir as pessoas por máquinas. Há estudos recentemente feitos a dizerem-nos que nos próximos tempos, em Portugal, esta tendência vai gerar mais de um milhão de desempregados. Este é, de facto, um problema novo que estamos já a sentir.
Outro dos grandes desafios da atualidade prende-se com as mudanças climáticas e a procura de novas formas de gerir e usar os recursos da natureza. Está em causa uma profunda mudança de mentalidade que não se esgota na procura de energias alternativas, mais amigas da natureza, mas tem de alargar-se à criação de novos hábitos de consumo que exigem mais contenção na utilização dos recursos criados que são em si mesmos escassos.
As migrações são um outro grande desafio.
A Europa, e Portugal também se inclui, precisa de mão de obra para garantir os níveis do seu desenvolvimento e, dada a baixa natalidade a que assistimos desde há décadas, não tem recursos humanos suficientes. Por isso precisa de acolher pessoas que venham de outros países e continentes para garantir a sua própria sustentabilidade.
Claro que não basta abrir as fronteiros. É preciso organizar formas de acolhimento, de formação e de encontro de culturas que permitam uma sadia cooperação, integrando as diferenças.
O choque das civilizações tem de dar lugar ao diálogo entre culturas e também de credos religiosos para chegarmos à desejada e necessária cooperação entre pessoas de diferentes nacionalidades e diferentes percursos educativos. Disto estão a precisar os países da Europa como de pão para a boca dos seus cidadãos.
A vós, caros finalistas, pertence também intervir nos processos de acolhimento, preparação e acompanhamento desta gente que, umas vezes foge da guerra, outras vezes vem à procura de melhores cindições materiais e em alguns casos decide-se pela aventura de procurar outras formas de viver a relação em sociedade e com a natureza.
A estes desafios que são conjunturais desejo acrescentar um outro que nos é especialmente próprio. Prende-se com o facto de sermos uma periferia dentro de um país que também é periférico. Somos, de facto, a região interior do nosso país, sujeitos a pressões de abandono e estagnação, que já vêm desde há algumas décadas, mas se têm acentuado nos últimos anos, apesar das muitas promessas em contrário. A perda de população e a deslocalização das actividades económicas para fora dos nossos meios estão a pôr em causa o nosso futuro.
Honra seja feita à nossa Universidade pelo esforço que tem feito para manter este assunto em agenda e pelas suas propostas para se conseguir inverter a tendência. Mas o certo é que só com pessoas qualificadas podemos chegar ao almejado objectivo da convergência com as restantes áreas do nosso país. E vós, caros finalistas, sois, a partir de agora, essas pessoas qualificadas de que nós precisamos. Com as competências que a universidade vos deu, com a vossa imaginação e criatividade, com o saber e a vontade de inovar que transportais convosco, sois, de facto, a grande esperança de que os nossos meios ditos de baixa densidade, mas com grandes potencialidades, realmente precisam.
A iluminar-nos nesta festa e para conseguirmos responder a estes e outros desafios que a sociedade hoje nos coloca, temos a Palavra de Deus que acaba de ser proclamada.
E a primeira coisa que ela nos lembra é a lei primeira do amor, do “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. E aqui não se trata de um amor qualquer, mas daquele amor que leva a entregar a vida por causas válidas, como Jesus a entregou.
E será que nós estamos mesmo decididos a entregar a vida por causas válidas ou queremos tão só jogar no tabuleiro dos interesses, onde a corrupção espreita em cada esquina?
Uma outra realidade que a Palavra de Deus hoje ilumina é a necessidade de lideranças clarividentes e fortes. Precisamos de líderes que saibam o que querem, mas simultaneamente sejam respeitadores de todos e capazes de valorizar os anseios e competências de cada um. O modelo do Bom Pastor, que o Evangelho hoje lido nos propõe, pode inspirar boas lideranças. Para isso é necessário que quem nos governa saiba para quem governa e com quem governa e que conhecimento procura ter dos verdadeiros e legítimos interesses das pessoas que se propõe servir.
Só assim poderemos caminhar para a desejada sociedade de plena inclusão.
Que os nossos governantes saibam aprender com o quadro do Bom Pastor, que sempre nos guia pelos caminhos mais seguros.
Parabéns caros finalistas e coragem para as novas etapas que aí vêm. A ajuda de Deus não vos faltará.
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda
18 de Maio de 2019