Ordenação de um novo sacerdote, na Dio­cese da Guarda

Ordenação de um novo sacerdote, na nossa Dio­cese da Guarda

 

Sacerdotes ao serviço de uma Diocese em renovação

 

1. Aspectos da realidade da nossa Diocese

 

A Diocese da Guarda é uma Diocese com muita história e importante tradição de Fé.

A vida das Paróquias, com as suas celebrações, incluindo festas religiosas, os serviços de apoio aos mais carenciados, a formação cristã sobretudo das novas gerações a partir da mensagem do Evangelho, a boa administração do patrimó­nio que nos está confiado são as nossas grandes preocupa­ções.

Isto para além de procurarmos sempre motivar a melhor vivência comunitária que é factor decisivo para o bem estar das pessoas.

 

A fim de conseguirmos estes e outros objectivos para os quais a Fé nos orienta sentimos que as nossas formas de vivência comunitária e os nossos serviços têm de renovar-se para responder às novas realidades do mundo e da Igreja.

Se, por um lado, a mensagem evangélica permanece a mesma, por outro, as realidades do mundo e da própria Igreja não estão paradas, mas em constante mudança, como é o caso da demografia e a distribuição da população, mas também das novas culturas e mentalidades que elas inspiram, as quais chegam a todos e condicionam a vida de todos.

 

2. A organização da Diocese e o Ministério Sacerdotal

 

Em assembleia diocesana, decidimos entrar por caminhos de reorganização pastoral da Diocese.

 E, na verdade, o Ministério Sacerdotal é decisivo para que essa renovação seja devidamente pensada e posta em prática.

Porém, a diminuição do número de sacerdotes nos últimos tempos também nos obriga a repensar e a reorganizar o serviços que eles são chamados a prestar às comunidades e á Diocese no seu todo.

 

De facto, temos menos sacerdotes do que há décadas atrás, mas temos também diáconos permanentes, ordenados no primeiro grau do Sacramento da Ordem, que não tínhamos.

Temos menos sacerdotes, mas temos número considerável de Ministros Extraordinários da Comunhão e agora também Coordenadores das Assembleias Dominicais na ausência do Presbítero.

Temos menos sacerdotes, mas a responsabilidade e a preparação dos nossos catequistas têm crescido, graças a Deus.

Temos menos sacerdotes, mas todas as paróquias, com raras excepções, têm o seu Conselho Paroquial para os Assuntos Económicos, vulgarmente chamado Comissão da Fábrica da Igreja, que havemos de saber formar e responsabilizar para assuntos de administração, libertando assim mais os párocos para outros fins.

É verdade que  o número de sacerdotes que hoje temos não nos permite celebrar a Eucaristia, ao domingo, em todas e cada uma das 365 Igrejas paroquiais que existem na nossa Diocese.

Mas também não é menos verdade que  as populações nos nossos meios diminuíram drasticamente, nos últimos tempos e pelo menos algumas das nossas paróquias, de facto, não são capazes de garantir, sozinhas, número de participantes que justifique a celebração da Missa Dominical.

Isto significa que as paróquias têm de saber congregar-se para poderem celebrar com dignidade, mas também programar conjuntamente a formação da Fé, a começar pela catequese das primeiras idades; enfim para dar resposta condigna às exigências da caridade cristã e mesmo quanto á administração do seu património.

 

É neste contexto que o Senhor Jesus vem oferecer um novo sacerdote ao nosso Presbitério.

O diácono Daniel Barroso vai ser ordenado sacerdote  no próximo dia 23 do corrente mês de junho, na nossa Sé da Guarda, às 16H00.

Rezamos, por isso, para que o novo sacerdote, mas também aqueles que já o somos, possamos organizar-nos da melhor maneira para dar as devidas respostas às novas necessidades da nossa Diocese e sobretudo ajudando a fazer as opções certas para a vivência da Fé nas nossas comunidades e na vida dos nossos fiéis.

Para tal, lembramos pontos essenciais da nossa vida de sacerdotes ao serviço da Igreja.

 

Assim, o Sacerdote é, antes de mais, o que preside à Eucaristia e a outras celebrações da Fé. Por isso, sobretudo a Eucaristia Dominical precisamos de a cuidar bem, com preparação adequada e condições de tempo e lugar para ser vivida com serenidade, ajudando, assim, os participantes a fazerem a verdadeira experiência do encontro com o Senhor Jesus e a sua Palavra. Através da Eucaristia e dos outros sacramentos, mas também da celebração diária da Liturgia das Horas e de outras formas de oração, o Padre é o Homem visivelmente preocupado em rezar por si e pela porção de Povo de Deus que lhe está confiado.

 

O Padre é o Homem da reconciliação e do acompanhamento dos fiéis nas suas várias situações de vida. Por isso, as comunidades compreenderão que ele deve dedicar parte significativa do seu tempo para acolher, acompanhar  e orientar, incluindo com celebração do sacramento da Penitência, aqueles que o procuram e outros que ele também saberá procurar.

 

O Sacerdote é o Homem da Palavra de Deus, procurando ele próprio fazer a  experiência do encontro com a Palavra e motivando os fiéis para fazerem igual caminho.

Por isso, pertence-lhe também, a começar pela catequese das primeiras idades, tudo fazer para que as comunidades que lhe estão confiadas, cada uma por si ou em cooperação com outras, organizem devidamente os seus programa de formação cristã.

 

O Sacerdote é o que preside à comunidade e, como tal, tem o encargo de motivar, formar e coordenar  bem os diferentes ministérios e serviços dos quais depende a vida das comunidades.  Alguns desses serviços são estruturantes e, por isso, têm de existir necessariamente, como são os ligados à Liturgia, à Catequese, à Caridade organizada e à Administração. Há outros que podem existir ou não. Tanto uns como outros pedem o seu acompanhamento e a sua coordenação.

 

O Sacerdote é o Homem sempre empenhado em cuidar a máxima participação de todos os fiéis na vida da sua comunidade. Por isso, sobretudo através da rede dos seus mais directos colaboradores, procurará motivar para essa participação, ao mesmo tempo que cuida os instrumentos necessárias para o efeito.

Entre esses instrumentos, estão os Conselhos Paroquiais para os Assuntos Económicos, que, salvo raras excepções, de facto, já existem em todas as paróquias; mas está também o Conselho Pastoral Paroquial ou Interpa­roquial, que precisamos de valorizar cada vez mais. E aqui temos longo caminho a percorrer até atingirmos o objectivo fazermos caminhada sinodal, como insistentemente nos recomenda o Santo Padre, o Papa Francisco.

 

3. Motivar para a reorganização pastoral

 

Neste momento nós sacerdotes temos pela frente uma preocupação acrescida, que é levar à compreensão e poste­rior aceitação dos fiéis a reorganização pastoral da Diocese que temos em marcha.

E esse esforço tem pontos concretos que se impõem com evidência, embora exigindo de todos nós coragem para não vivermos só do passado, mas procurarmos abrir convenien­temente os caminhos do futuro.

Um desses pontos é a verificação de que poucas são as nossas paróquias que têm capacidade para sozinhas darem a devida resposta á missão que lhes está cometida.

Outro é que nos nossos arciprestados precisamos de aumentar a massa crítica para podermos tomar as decisões pastorais ajustadas e as levarmos à prática. E a maior parte dos arciprestados que hoje temos não satisfaz esta exigência.

Outro ainda é que precisamos de operacionalizar mais os nossos serviços diocesanos estruturantes, como são aqueles que se destinam a apoiar, por toda a Diocese, a Liturgia,  a Catequese e a formação da Fé, a Caridade organizada que tem de existir em cada paróquia ou conjunto de paróquias, a administração e ainda sectores especialmente importantes na nossa acção pastoral como os jovens e as famílias.

Para além destes serviços que consideramos estruturantes da vida da Igreja presente nas nossas comunidades, é bom que haja outros, com carismas e finalidades específicas, que possam ajudar os fiéis na sua vida de oração, na sua formação, na atenção às grandes preocupações da Igreja espalhada pelo mundo.

 

4. Cuidar a nossa formação pessoal e a vida em Presbitério

 

Para cumprirmos estas e outras dimensões do Ministério Sacerdotal que nos está confiado, nós sacerdotes também não podemos descurar as nossa formação pessoal, seja a formação espiritual, seja a  formação pastoral e doutrinal seja em outros aspectos que ajudam o nosso trabalho pastoral.

Por isso as comunidades compreenderão que todos os tem­pos que nós dermos quer ao nosso retiro anual e a outros mo­men­tos de oração pessoal quer às iniciativas de  forma­ção permanente que nos são propostas, longe de  as empo­bre­ce­rem são para elas sempre ajuda importante e valor acrescentado.

 

Finalmente não é demais lembrar que o nosso serviço sacerdotal nunca pode ser prestado a título individual, mas a Igreja pede-nos que o prestemos sempre em Presbitério, ou seja com critérios comuns a todos os sacerdotes, nomeada­mente aos que trabalhamos na nossa Diocese da Guarda.

 

Quando preparamos a Ordenação sacerdotal do agora diácono Daniel Barroso, peçamos ao Senhor para os nossos sacerdotes a graça de prestarem bem este serviço às comunidades e aos fiéis que o Senhor lhes confia.

 

Guarda, 10 de junho de 2019

 

+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda