Homilia de D. Manuel Felício na ordenação do padre Daniel Barroso
Celebramos já, nesta tarde, a solenidade do Nascimento de S. João Baptista, o Precursor, e grande modelo de quanto havemos de realizar no cumprimento da missão que recebemos do Senhor Jesus.
Hoje damos abundantes graças a Deus pelo dom não apenas desta Ordenação Sacerdotal, mas também do Ministério Ordenado enquanto tal que prolonga no tempo e no meio de nós o serviço do Único Bom Pastor.
Louvemos, por isso, o Senhor, que hoje nos dá mais uma importante prova de amor e a garantia de que nos acompanha e guia a sua Igreja pelos caminhos da história no cumprimento da missão que ele mesmo lhe confiou.
A solenidade do nascimento de S. João Baptista remete-nos para o mistério de toda a vocação já experimentado na vida dos profetas.
Anunciado pelo Anjo, enquanto Zacarias cumpria as suas funções sacerdotais e o Povo orava no exterior do santuário, este nascimento foi resposta à oração intensa daquela família e constituiu motivo de grande alegria não só para os pais do menino, mas também para muita outra gente. Aquele que vai nascer, como diz o Anjo, será grande aos olhos do Senhor e com notável missão a cumprir.
Como o grande Elias, ele vem para promover a conversão e a reconciliação, trazendo o coração dos pais para os filhos e em geral aproximando as pessoas entre si, como sinal antecipador do Messias esperado e que estava para vir.
E, de facto, foram a conversão e o arrependimento a nota mais marcante do seu ministério, quando começou a pregar no deserto e a batizar, anunciando a chegada do Messias.
Incluído nos desígnios de Deus desde antes do seu nascimento, este João Baptista João Batista faz-nos pensar na experiência e na história pessoal do profeta Jeremias, como refere a primeira leitura hoje escutada.
Também este foi escolhido antes de começar a existir e consagrado desde o ventre materno. A sua vocação está definida desde o início.
Sente-se enviado para anunciar a Boa Nova. E nem a experiência das próprias limitações o pode eximir do cumprimento deste mandato. Isto porque na sua boca estão a palavras do próprio Deus, que o envia com poder, para atuar sem medo, diante de povos e nações.
E hoje a história repete-se com todos os evangelizadores, no número dos quais nós nos queremos incluir.
De facto, como lembra a I carta de Pedro, amamos a Jesus sem o termos visto, e assim anunciamos a Fé e a Salvação como anteriormente o fizeram também anteriormente tantos outros, a começar pelos profetas.
Como discípulos de Cristo, sentimo-nos enviados hoje para sermos ministros do Evangelho, como João Baptista o foi para cumprir a missão de Precursor.
E dele recebemos importantes incentivos de coragem e verticalidade para cumprirmos a missão evangelizadora que nos está confiada.
Damos, por isso, graças a Deus porque o Senhor continua a enviar mensageiros da Boa Nova e servidores das comunidades da sua Igreja chamadas a cumprir o mesmo mandato evangelizador e missionário.
Estimado Daniel,
Damos-te as boas vindas ao cumprimento do mandato que o Senhor Jesus hoje, pela imposição de mãos, te confia.
De facto, és escolhido para, em nome do único Bom Pastor participares no serviço da condução do Povo de Deus e das suas comunidades.
E se é verdade que todo o Santo Povo de Deus participa, pelo Baptismo, no único sacerdócio de Cristo, o certo é que Ele também escolheu e continua a escolher especialmente alguns para desempenharem na Igreja, em seu nome, o Ministério Sacerdotal.
Entre eles, a partir de hoje, estás também tu, Daniel, enquanto presbítero integrado num presbitério e cooperador da ordem dos Bispos.
Ao seres especialmente configurado Com Cristo pelo Sacramento da Ordem ficas, de facto, investido na especial responsabilidade de anunciar o Evangelho, mas também apascentar todo o Povo de Deus e celebrar os santos mistérios principalmente no Sacrifício Eucarístico, que é oferecido sobre o altar pelas tuas mãos a partir de hoje.
Completarás a missão de santificar todo o Povo de Deus pela celebração dos outros sacramentos, nomeadamente o Baptismo, a Penitência, a Santa Unção e também pela celebração da Liturgia dos Horas de cada dia.
Seja por isso o teu ensino, mas também todo a tua forma de viver, edificante e dedicada à causa de Jesus Cristo e do seu Evangelho, verdadeiro alimento para o Povo de Deus e motivo de alegria para todos os fiéis.
Conserva sempre diante de ti o modelo da Pessoa de Jesus, que veio para servir e não para ser servido.
Por isso, desempenharás, a partir de hoje o Ministério Sacerdotal nunca movido pelos teus interesses, mas procurando sempre os interesses de Cristo. Ele é, de facto, o Bom Pastor que veio para a todos congregar numa única família, e se mostrou especialmente empenhado em procurar e salvar o que estava perdido.
Daniel,
És ordenado sacerdote e inicias este ministério quando continuamos a sentir os efeitos da diminuição do número de sacerdotes, o que nos obriga a repensar e reorganizar o serviço do ministério sacerdotal na vida das nossas comunidades.
De facto, temos hoje menos sacerdotes do que tínhamos há algumas décadas atrás, mas temos também diáconos permanentes ordenados no primeiro grau do Sacramento da Ordem, que antes não tínhamos.
Temos menos sacerdotes, mas temos número considerável de Ministros extraordinários da comunhão e agora também coordenadores de assembleias dominicais na ausência do Presbítero.
Temos menos sacerdotes, mas, graças a Deus, tem crescido a responsabilidade e a preparação dos nossos catequistas.
Temos menos sacerdotes, mas também tem crescido a responsabilidade dos leigos na administração paroquial.
É verdade que o número de sacerdotes que hoje temos não nos permite celebrar a Eucaristia ao domingo em todas e cada uma das nossas Igrejas paroquiais. Mas também não é menos verdade que as populações nos nossos meios têm diminuído drasticamente, nos últimos tempos, e é significativo o número das nossas paróquias que não são capazes de garantir sozinhas a dignidade que se requer nas celebrações dominicais.
Isto significa que as paróquias têm de saber congregar-se para poder realizar celebrações dignas, mas também para outros serviços como é o caso da formação da Fé, a começar pelas primeiras idades, para dar condigna respostas às exigências da Caridade Cristã organizada e mesmo quanto à administração do seu património.
Claro que implementar estas e outras vertentes da renovação das nossas comunidades exige significativa mudança de mentalidade nos fiéis em geral, mas também em nós próprios sacerdotes.
E contamos, desde já contigo, no esforço para sabermos discernir conjuntamente os caminhos do Espírito para a Igreja nos dias de hoje.
E na medida em que viveres com entusiasmo e verdadeira alegria o Ministério que o Senhor hoje te confia, outros jovens ouvirão também a voz do mesmo Senhor que continua a chamar e corajosamente lhe hão-de responder e lhe vão dar o seu sim.
Que Deus seja louvado e o Seu desígnio de Salvação para o mundo de hoje se cumpra cada vez mais e melhor no meio de nós.
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda