Festa anual da Liga dos Servos de Jesus
Homilia de D. Manuel Felício, na Missa de Acção de Graças (Rochoso)
- Celebramos a festa anual da Liga dos Servos de Jesus, num sábado, que é sempre o dia da semana mais dedicado a fazer memória de Nossa Senhora.
Ora, como referem as nossas Constituições, entre os padroeiros da Liga dos Servos de Jesus, aparece à cabeça a figura de Nossa Senhora. E aí se diz porquê.
Porque a Liga nasceu oficialmente num dia mariano e muito relacionado com o mistério da Imaculada Conceição. Porque através de Maria, nós queremos, enquanto servos de Jesus, identificar-nos cada vez mais, com o mistério de Cristo e participar na ação apostólica.
Por Maria queremos aprender sempre na Escola da Sagrada Família de Nazaré.
Desejamos sobretudo progredir no conhecimento do Evangelho e testemunhar, com a maior fidelidade possível, as palavras do próprio Cristo que os Evangelhos nos apresentam como sendo o Servo por excelência.
Por sua vez, de acordo com as mesmas constituições, a Festa anual da Liga dos servos de Jesus, principalmente nos seus momentos de vigília, da Eucaristia e Procissão Eucarística e ainda da sessão solene pretende suscitar em todos nós atitudes de ação de graças, de reparação e incentivo ao aperfeiçoamento pessoal (ver constituições, nºs 18 e 19)
Estas indicações presentes nas nossas Constituições encontram-se exaradas praticamente todas na ata da Fundação da Liga dos Servos de Jesus, onde expressamente se referem as recomendações do Sr. D. João de Oliveira Matos a todas as associadas. Especificou-lhes mesmo o pormenor das intenções a colocar em cada dia da semana quer para a Santa Missa quer para a oração pessoal e outras obras de reparação.
Assim,nessas recomendações lembra que o sábado é por todas as associadas, outro dia pelo Prelado, sacerdotes e seminários; outro, pela conversão dos pecadores e outro ainda para que Deus abençoe a obra da Liga dos Servos de Jesus, e ela seja, cada vez mais, obra de apostolado e oração. E acrescentou que ainda restavam 3 dias da semana para que cada uma pudesse colocar as suas intenções, mais particulares.
- Estes são pontos especialmente marcantes do nosso carisma que havemos de procurar saber viver no mundo de hoje em que o Senhor nos coloca para o compreendermos, o amarmos, o evangelizarmos e, quanto de nós depende, o ajudarmos a corrigir, pelo menos na medida em que cumprimos o mandato da reparação que esteve na intenção original do Fundador e as Constituições nos recordam.
De facto, estamos num mundo envolvido em profundas mudanças e grande complexidade. É um mundo onde se fecham muitas portas, implicando serviços e atividades que preenchiam grande parte do nosso tempo e onde gastávamos as nossas energias.
Também nos oferece novas possibilidades para o anuncio da Boa Nova e para o serviço às pessoas.
O certo, porém, é que nós estamos a ser mais sensíveis
às portas que se fecham do que às novas possibilidades que também se nos abrem.
De facto, tem-nos faltado nos últimos tempos, capacidade para identificar bem os novos serviços que a Igreja e o mundo nos pedem, ao mesmo tempo que sofremos por verificarmos que, pelo menos alguns dos serviços que tradicionalmente nos estão confiados, chegam ao fim.
Ora, conscientes das nossas muitas limitações de vária ordem, mas também de que a luz e a graça de Deus não se extinguem, esta festa anual da Liga dos Servos de Jesus há-de servir para reforçarmos o sentido do verdadeiro discernimento que as circunstâncias atuais nos pedem.
E não temos que ter medo das mudanças que estão a acontecer no mundo e na Igreja e necessariamente repercutem na nossa vida e na vida da Liga dos Servos de Jesus.
De facto nós demos tudo e temos a esperança e a garantia de que não nos faltará o necessário.
- A Palavra de Deus que escutámos ajuda-nos a identificar as atitudes que havemos de saber assumir perante este mundo concreto e a Igreja de que somos membros e ativos colaboradores, na missão de servir este mesmo mundo com a luz e a força do Evangelho. Assim, as recomendações de S. Paulo sobre o mandamento do amor aplicam-se também a cada uma e a cada um de nós, quando nos mandam progredir sempre para vivermos em paz, empenhados no cumprimento da nossa missão e no trabalho, dentro da medida das nossa forças.
Momentos como este em que celebramos a festa anual da Liga dos Servos de Jesus como também outras datas especialmente significativas, como é o caso das festas dos santos Padroeiros S. José, S. Miguel, Santa Teresinha ou Santo António, são boas oportunidades para nos interrogarmos sobre as formas como estamos a aplicar os talentos, também chamados carismas, que o Senhor distribui a cada um de nós para os colocarmos ao serviço das comunidades e dos outros.
Quantas vezes a nossa ingratidão começa logo no momento em que não fazemos esforço sequer para os identificar; e, outras vezes, queixamo-nos de que não temos talentos ou temos só um e, por isso, não vale a pena e enterramo-lo. O apelo da palavra de Deus é para que, sejam muitas ou sejam poucas as nossas capacidades, elas sejam desenvolvidas e colocadas ao serviço. Podemos ter a certeza de que o Senhor não nos julgará pelo muito ou pouco que fizemos, mas sim pela forma como usamos as capacidades que Ele nos dá.
Este também é um caminho de purificação e de conversão. E quem nos purifica e converte não somos nós. Como refere a passagem do Profeta Isaías, a iniciativa é sempre de Deus, que manda o seu anjo com um carvão ardente para fazer desaparecer os nossos pecados e a nossa culpa. Esse anjo enviado pode ser um sacerdote, pode ser o nosso confessor, o nosso superior ou superiora ou mesmo outro alguém que as circunstâncias nos deparam como nosso companheiro ou companheira de viagem. O importante é deixarmos que o Senhor, através dos meios que Ele entender, nos trabalhe e nos prepare para podermos dar a mesma resposta do profeta – “Eis-me aqui, podeis enviar-me”.
Sim é esta disponibilidade para o envio que queremos mantar e cultivar até ao fim da nossa vida
- E o ano missionário que estamos a viver com o especial outubro missionário que nos bate à porta pretendem estimular ainda mais essa disponibilidade para o envio, no cumprimento da responsabilidade missionária que deriva do nosso batismo. Não envolve necessariamente sairmos dos lugares físicos em que nos encontramos.
E isto porque a geografia da missão mudou e está continuamente a mudar. Isso sentimo-lo nós todos os dias, porque lugares tradicionalmente de vivência da Fé e que nós percorremos diariamente hoje estão a esvaziar-se dos valores cristãos e, por consequência, de atitudes e comportamento, verdadeiramente humanizantes.
Perante o apelo que nos é feito para reforçarmos a nossa responsabilidade missionária, procuremos dar atenção às recomendações que o Papa nos faz sobre esse assunto.
Assim, lembra-nos ele que qualquer acção missionária ou começa no encontro pessoal com Cristo ou está condenada ao fracasso.
Depois convida-nos a dar atenção aos santos que dedicaram a sua vida à missão para aprendermos com o seu exemplo e beneficiarmos da sua intercessão.
E a nossa formação na Fé há-de ser também ainda mais motivada por este ano missionário e o especial outubro missionário, sabendo que ela não tem idade nem a podemos dar por concluída em qualquer etapa da nossa vida. Temos de saber aprender até ao fim.
Finalmente pede-nos o Papa que façamos partilha missionária; partilha essa de meios materiais e humanos com as Igrejas em maiores necessidades.
Com certeza que estas recomendações não se aplicam de igual modo a todas e cada um de nós. Mas pedem-nos disponibilidade até ao fim para que o Senhor nos possa enviar como entender, o que nunca acontece à margem das possibilidades ou capacidades que Ele próprio nos oferece.
Por isso, nunca é de mais nem nunca é tarde para procurarmos organizar a nossa vida pessoal de acordo com a atitude do profeta – “Eis-me aqui, podeis enviar-me”.
Rochoso, 31.8.2019
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda