Quaresma 2020 - Mensagem de D. Manuel Felício, Bispo da Guarda
Quaresma, tempo forte de reconciliação
O Papa Francisco, na mensagem que envia ao Povo de Deus sobre a próxima Quaresma, faz este apelo: “Pedimos-vos, em nome de Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus”.
Ora, a reconciliação com Deus coincide com a reconciliação de cada um consigo mesmo e com os outros, a caminho daquele ideal de comunhão que habita o coração de todos os seres humanos.
Por isso, podemos dizer que a Quaresma é percurso de cada um de nós, com ajuda da comunidade, rumo à tomada de consciência de que Deus nos habita no mais fundo de nós mesmos e o que precisamos é de avivar essa consciência e fazer dela a grande força que transforma a nossa vida e a vida da própria sociedade.
Ora, nesta caminhada, não temos pela frente só sucessos, mas também temos de contar com os insucessos, que derivam uns da nossa fragilidade e outros das decisões erradas que chamamos pecado.
A relação com Deus quer tomar conta desses insucessos e transformá-los em oportunidade de salvação ou seja de reforço da nossa relação com Deus e com os irmãos.
É este o sentido da verdadeira reconciliação que o Papa Francisco quer pôr em evidência na sua mensagem para a Quaresma deste ano.
Para motivar e alimentar esta caminhada de renovação pessoal e comunitária, a Igreja, na sua sabedoria bimilenar, propõe uma pedagogia centrada na oração mais intensa, no jejum e na abstinência, a que se liga a esmola e no encontro mais frequente com a Palavra de Deus. Os tempos de silêncio e de alguma paragem, na rotina do dia-a-dia, fazem parte também dessa pedagogia.
Por isso, vamos procurar, durante este tempo forte da Quaresma, deixar-nos orientar, de uma forma especial, pela Palavra de Deus proclamada em cada domingo. O ciclo A, que nos acompanha, este ano, propõe-nos passagens bíblicas especialmente significativas para a nossa caminhada de Fé. Assim, nos três domingos centrais da Quaresma vamos escutar passagens bíblicas que nos ajudam a refundar a Fé, como são as da água viva (3º domingo) da luz (4º domingo) e as da Ressurreição (V domingo)
Conforme fomos muito ajudados, durante o ciclo do Advento/Natal, pelas dinâmicas que o Departamento Diocesano da Catequese nos preparou e apresentou, esperamos que tal venha a repetir-se neste tempo quaresmal.
Por sua vez, momentos de pausa e algum silêncio fazem igualmente parte da pedagogia da Igreja para nos levar ao essencial da Fé e ao cerne do sentido da nossa existência. Daí que as propostas de retiros quaresmais, quer por arciprestados quer por iniciativa de grupos e movimentos apostólicos serão todas muito bem-vindas.
Quanto às nossas fragilidades e pecados, o tempo forte da Quaresma é especialmente propício para os identificarmos e, com a graça de Deus, os podermos superar. E aqui o Sacramento da Reconciliação ou Confissão é instrumento que havemos de saber valorizar e aproveitar, de forma especial, neste tempo santo.
A esmola e a partilha são também expressões muito importantes do nosso compromisso de renovação na caminhada da Quaresma. E este ano, a renúncia quaresmal será orientada para os seminários, respondendo, por um lado, a pedidos que nos vêm de algumas dioceses africanas, que têm muitos seminaristas maiores e dificuldade em os sustentar, nomeadamente a de Sumbe, onde a Liga dos Servos de Jesus tem a Missão D. João de Oliveira Matos e, por outro, para ajudar a requalificação do nosso Seminário da Guarda para que possa cumprir os serviços de seminário que acolhe os nossos seminaristas e pré-seminaristas, casa sacerdotal, logística dos movimentos serviços e obras de apostolado diocesanos, casa de retiros e casa sacerdotal.
Que Maria santíssima nos ajude a viver, com renovada esperança, este tempo forte da Quaresma, uma grande oportunidade que Deus nos dá e nós desejamos aproveitar da melhor maneira.
20.2.2020
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda