Celebramos hoje a festa de S. José - Em tempos de Crise

Em tempos de crise

Temos o tempo todo para nós

 

Celebramos hoje a festa de S. José.

S. José é o homem da missão cumprida. E foi uma missão de alta responsabilidade, pois se tratou nada mais nada menos do que proteger o Filho Único de Deus e sua Mãe Maria Santíssima. Fê-lo com  dedicação mais do que exemplar e nele sentimos o apelo para assumirmos com igual entrega e dedicação, a missão que também está confiada a cada um de nós.

Ficamos com o seu exemplo de dedicação familiar e de tra­ba­lho, sendo, por isso, apresentado como modelo dos trabalhadores do mundo inteiro.

Contamos com a sua proteção, nesta crise, para os que já estão infe­tados, para os que previsivelmente vão está-lo, para os que já fale­ceram vítimas deste virus, para os que previsivelmente vão falecer da mesma doença e para todos nós, que não estamos isentos de parti­cipar da mesma sorte.

 

Queixamo-nos muitas vezes de que não temos tempo para nada, tal a velocidade da vida diária e dos acontecimentos que a condicionam.

Agora, o estado de emergência decretado faz com que tenha­mos o tempo todo para nós, o que reforça a respon­sabi­lidade de o usar bem.

A esse propósito, lembra-nos o Papa Francisco que o tempo é sempre mais do que o espaço (Exortação apostólica, Evangelii Gaudium, nº 222). E com esta afirmação transmite-nos a ceretza de que o tempo vivido no presente nunca nos fixa só no imediato, mas aponta-nos para um horizonte de futuro que supera os diferentes momentos vividos.

Portanto, a relação entre tempo e espaço assim concebida representa uma tensão inevitável entre cada momento que vi­vemos num determinado espaço necessariamente limi­ta­do e o horizonte sem limites que lhe dá sentido e que também  podemos chamar de utopia configuradora de um  futuro novo que nos atrai, mas onde ainda não chegámos.

 

Viver voltado para o futuro e organizar o presente em função das etapas que a ele nos hão-de conduzir não signi­fica que não usemos o tempo presente para exercer a res­pon­sabilidade de contribuir  para a melhor organiza­ção do hoje que estamos a viver.

Assim, no hoje da crise, queremos continuar atentos uns aos ou­­tros, mesmo cumprindo escrupulosamente as recomenda­ções que as autoridades nos fazem, na atual situação de emer­gência.

Queremos colaborar com as autoridades manifestando-lhes o nosso sentir sobre o que julgamos ser prioritário. Por isso, ao tomarmos conhecimento de algumas das medidas preconizadas pelo nosso governo para gerir a atual crise, cumpre-nos lembrar o seguinte:

            A economia pode recuperar no futuro, os mortos é que não. Por isso, há que investir prioritariamente na defesa das pessoas.

            Nas medidas anunciadas, não se ouviu falar no sector social. Ora, todos nós sabemos que a população idosa, que é a mais vulne­rável aos efeitos deste inimigo comum, em grande percentagem, está acolhida em lares, que precisam de ser apoiados para não lhes faltarem os meios materiais indispensáveis. Claro que não estará em causa o princípio inaceitável de deixar morrer os mais idosos, porque esses já não fazem falta e até deixam de ser peso.

 

Estamos gratos aos profissionais de saúde e também a tantos voluntários e muitos outros cidadãos que, longe de pensarem só em si, manifestam disponibilidade para ajudar onde é preciso, mesmo correndo riscos inevitáveis.

Nós padres reafirmamos o nosso propósito de estar­mos sem­pre contactáveis para ajudar quem precisa, das mais vari­a­das ma­nei­ras, a viver, com esperança, estes momen­tos difíceis. O telefone e, em geral, as redes sociais  queremos aproveitá-los, o mais possível, para continuarmos em rela­ção com as pessoas, embora por outros meios diferentes dos habituais, que, de facto, estão proibidos.

Dentro dessa rede de relações, somos convidados para hoje, dia de S. José, participarmos na proposta da corrente de oração, rezando o terço onde cada um de nós se encon­trar, às 21H00 e confiando-nos à proteção divina através do Patriarca S. José.

Como sabemos os modernos meios de comunicação  conse­guem dispensar o contacto físico, como ontem aconte­ceu, no Conselho de Estado, que se realizou por vídeo-confe­rência.

 

19.3.2020

 

+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda