Em tempos de pandemia (25) Aprender a renascer
Continuamos condicionados nos nossos movimentos e relações sociais, até ao final do dia 2 de maio, devido à emergência decretada para todo o nosso país.
As indicações que nos estão a ser dadas é que até ao final de abril precisamos de guardar o máximo de contenção, para, durante o mês de maio, as medidas poderem ser aliviados e iniciarmos o regresso à normalidade.
Isto depreende-se das declarações prestadas pelo Sr. Primeiro Ministros aos jornalistas, à saída de uma reunião com o Sr. Cardeal Patriarca e Presidente da Conferência Episcopal, D. Manuel Clemente, realizada na Casa Patriarcal de Lisboa, esta manhã. Preveniu que será um regresso à normalidade naturalmente lento, com todos os cuidados sanitários, e lembrou que “ninguém tenha ilusões de que a partir de maio vamos viver como até fevereiro, pois vamos ter que viver com este vírus até que exista uma vacina e isso não vai acontecer nos próximos meses”.
Temos, assim, pela nossa frente, para já, mais um tempo de quase duas semanas, que continuará a ser de muita limitação aos nossos movimentos, até ao dia 2 de maio e depois, com as orientações que forem dadas e as cautelas que as circunstâncias aconselharem, iniciaremos o regresso á normalidade. Uma normalidade que não será certamente igual à anterior, pois terá de incluir comportamentos novos, dada a necessária convivência com o vírus, pelo menos até que haja o remédio ajustado.
Vamos, portanto, continuar a ter tempo para vermos em que aspetos a nossa vida pessoal e também social deve renascer.
Sobre isso, lembro alguns indicadores saídos da entrevista ontem dada pelo Cardeal D. Manuel Clemente ao programa 70X7 da Agência Ecclesia. Deixou a convicção de que o nosso regresso à nova normalidade da vida da Fé incluirá dinamismo e entusiasmo novos. Isto, porque a experiência de vida em família, mais motivada por este tempo de confinamento, produzirá os seus efeitos na qualidade de vida das pessoas. Por outro lado, a “experiência monástica”, como chamou a este tempo especial, ligada à introdução das novas tecnologias de comunicação entre as pessoas e os grupos, como são as redes sociais, veio para ficar e continuar a ser complemento das relações e dos encontros que, por graça de Deus, hão-de regressar.
Aguardamos indicações sobre como se reiniciarão os atos mais visíveis da vivência da Fé, principalmente as celebrações litúrgicas e as sessões de catequese, a partir do início de maio.
Entretanto, estamos a viver o Tempo Pascal que, depois dos primeiros oito dias (a Oitava Pascal), nos convida a olhar para os efeitos da Ressurreição de Cristo na vida dos seus discípulos e por eles nos nossos estilos de vida em sociedade.
A pandemia está a obrigar-nos a reconhecer que inevitavelmente tem de haver mudanças e algumas muito urgentes, para garantir a sustentabilidade da nossa vida em sociedade e da própria natureza. Ora, há males que vêm por bem, diz o ditado. E, certamente, a pandemia, que nos obriga a parar, contribui para que esta paragem seja oportunidade para tentarmos definir, o melhor possível, os aspetos da nossa vida pessoal e comunitária que precisam de mudar.
Não esqueçamos, porém, que as mudanças são sempre difíceis e sobretudo as mudanças de mentalidade. A tentação será sempre a comodidade do regresso ao passado ou pelo menos de lhe ajustar, o mais possível, as novidades que o futuro nos possa trazer, significando isso, quase sempre, a tentativa de eliminar o que é novo e nos obriga a alguma desinstalação.
Foi o que aconteceu com a figura de Nicodemos, no relato da passagem bíblica do Evangelho de João 3, 1-8. Quando Jesus lhe falou em nascer de novo, ele pensou logo no regresso ao seio materno. Porém não era disso que se tratava. Trava-se, sim, de obedecer ao sopro do Espírito e assim abrir caminhos e horizontes novos à vida das pessoas e da própria sociedade.
Que o dinamismo deste Tempo Pascal que estamos a viver também nos inspire o esforço por entrar na nova normalidade de vida com as necessárias diferenças.
20.4.2020
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda