Em tempos de pandemia - A celebrar o Mês da Maria
Começou o Mês de Maria, que este ano, por causa dos constrangimentos impostos pela situação de saúde, temos de viver de maneira diferente.
Assim, o Treze de Maio, em Fátima, será celebrado sem as habituais multidões e mesmo sem presença de pessoas no recinto. Não teremos as celebrações marianas, incluindo as procissões com andor de Nossa Senhora que costumamos realizar ao longo deste mês, pelas nossas terras, povoações, vilas e cidades.
Uma coisa, porém, continua certa nas nossas convicções: a figura de Maria Santíssima, Mãe de Jesus e nossa Mãe, vela por nós, acompanha-nos e é o nosso grande conforto nestes tempos de especial sofrimento para todos, principalmente os atingidos pela doença, hospitalizados ou não, e suas famílias. Mais ainda, de facto, temos agora mais tempo para voltar a nossa atenção para aquela que é o grande modelo de mulher, de mãe e de vida familiar.
Como sabemos não é possível viver em sociedade sem modelos e referências de vida e os santos, sobretudo os que a Igreja apresenta como tal, são esses modelos a que acrescentamos o poder de interceder pelas nossas causas.
Ora, na pessoa de Maria Santíssima, que celebramos, de forma especial neste Mês, encontramos, em primeiro lugar, o grande modelo de mulher, que soube entender bem a sua vida pessoal, tomar a decisão certa no momento certo e mantê-la até ao fim. De facto, não foi fácil para esta Maria discernir a sua vocação, pois o convite do Anjo para ser Mãe do Salvador dirigido a uma jovem do seu tempo, como ela, a viver numa aldeia perdida nos confins da Galileia, não era fácil de entender. Por isso, a sua decisão corajosa foi também dar passos no escuro, embora com a certeza que lhe vinha da Fé. E toda a vocação, como a de Maria, no seu processo de discernimento, tem sempre algo de aposta no desconhecido, no misterioso. Isto porque o mistério nunca o podemos eliminar da nossa vida e mesmo da vida do mundo, pois nele reside a riqueza maior de tudo quanto existe e portanto também das nossas vidas.
Maria, tal como é modelo para quem quer decidir bem, é-o igualmente para todas as mães. Ela foi realmente uma Mãe dedicada, com extremoso amor ao dom da vida que acolheu no santuário do seu seio durante nove meses e continuou a acompanhar, principalmente nos tenros anos do primeiro desenvolvimento. Jesus era o seu tesouro e por ele fez tudo o que é próprio de todas as mães, capazes de, pelos filhos, darem a própria vida, se necessário.
O seu exemplo de vida familiar é outro modelo para ser seguido. Mas não teve uma vida familiar sem dificuldades. Estas começaram logo quando José se confrontou com o enigma de tudo o que se estava passar na vida da sua esposa. E também lhe passou pela cabeça a tentação de a abandonar; mas, com ajuda do alto, compreendeu e aceitou tudo o que se estava a passar. As dificuldades continuaram com a fuga para o Egipto. E, como todos os educadores, também Maria foi surpreendida por incompreensões. E, por isso, não apenas sofreu com a perda do seu Menino Jesus, mas sobretudo perante resposta dele, difícil de compreender. Toda a vida pública de Jesus, com suas muitas contradições, foi seguida e sentida de forma muito próxima por Maria. Isto até ao sofrimento indizível que viveu no Calvário. Como qualquer mãe que assiste à morte de seu filho, Maria sofreu, sem todavia perder a esperança e a confiança, pois sentiu que participava na grande obra redentora para benefício de toda a Humanidade. E o facto de, a partir do alto da cruz, Jesus a ter oferecido a João como sua mãe e nossa mãe é a garantia de que ela continua a acompanhar-nos com a sua proteção maternal, também nos momentos difíceis que atravessamos.
Particularmente ao longo deste mês somos convidados a meditar, com ela, os distintos mistérios da vida de Cristo. E os mistérios do Rosário são isso mesmo.
A terminar, meditemos por momentos no sim de Maria, modelo também do sim que cada um deve dizer nas mais variadas situações da vida. O sim de Maria é modelo de todas as vidas que assumem a coragem de aceitar um projeto audacioso e belo em favor do bem próprio e dos outros. E nós reconhecemos que a vida tem mais valor quando realiza a aventura de um sim maior, como aconteceu com Maria. Por sua vez, o sim de Maria não tem nada de irrefletido ou menos consciente, pois é adulto, bem pensado e amadurecido; numa palavra, é a completa expressão de um amor sem medida e iluminado pela Fé. Ela é o modelo acabado de quem sabe comprometer toda a sua vida e de forma apaixonada com uma grande causa.
Vivemos, este ano, um mês de maio diferente, mas não deixa de ser para nós o Mês de Maria.
2.5.2020
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda