Solenidade do Sagrado Coração de Jesus
Missa Crismal, 19.06.2020
Caros Padres e Diáconos;
1.Celebramos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, que, de algum modo, encerra o calendário marcado pelo ritmo do Tempo Pascal, depois das solenidades da Santíssima Trindade e do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, esta na quinta-feira da Semana passada.
Celebramos a Missa Crismal, que a pandemia nos obrigou a adiar, com bênção dos Santos Óleos e renovação das nossas promessas sacerdotais.
Celebramos a Jornada Mundial de Oração pela santificação dos Sacerdotes, este ano com o título recomendado de “Sacerdotes com o Coração de Cristo”.
2.Sobre a jornada mundial de oração pelos sacerdotes, a Congregação Romana para o Clero, baseada no discurso do Papa comemorativo do aniversário da morte de S. João Maria Vianey, o Santo Cura d´Ars, retomou dele cinco palavras, que aqui nos apraz recordar.
E são elas:
A gratidão, a Deus, em primeiro lugar que oferece à sua Igreja este maravilhoso dom e depois aos próprios sacerdotes pelo esforço que fazem para dar cumprimento ao mandato recebido;
A Misericórdia, que tem a sua fonte no coração divino e há-demarcar toda a nossa ação pastoral;
A Compaixão, que nos leva ao encontro de todos os que sofrem, para partilharmos a sua dor;
A vigilância, que devemos a nós próprios e àqueles que nos estão confiados;
A coragem para enfrentar os obstáculos e as dificuldades inerentes ao exercício do Ministério.
Avisa-nos de que só as poderemos cumprir, se vivermos e fortalecermos a relação com Cristo, o único Sacerdote, que, pelo Sacramento da Ordem, nos associa a ele de forma especial. Convida-nos a corrigir nas nossas vidas o que chama “défice de intimidade na relação com Cristo”.
3.A nossa única segurança está no Coração de Jesus Cristo, onde encontramos a forma de cultivar a sabedoria nova de que precisamos, lembra-nos o Evangelho de hoje . Por sua vez, a carta de S. João remete-nos para a grande certeza da nossa Fé – Deus é amor e a expressão máxima desse amor é a própria pessoa de Jesus, que o torna presente no meio de nós que, como refere a leitura do Deuteronómio, somos povo consagrado ao Senhor, porque ele mesmo nos escolheu.
A conclusão do Evangelho de hoje é profundamente animadora, com as palavras do mesmo Jesus, que hoje queremos considerar dirigidas a cada um de nós – “Vinde a mim todos vós que andais sobrecarregados e oprimidos ... O meu jugo é suava e a minha carga, leve ... Aprendei de mim que sou manso e humilde coração”.
4.Ao celebrarmos hoje a Missa Crismal, que habitualmente marca a manhã de Quinta-Feira Santa queremos também interrogar-nos sobre o que nos pede o exercício do Ministério Sacerdotal nesta nossa Diocese da Guarda.
A Assembleia diocesana de 2017 pede-nos para promovermos um movimento alargado de renovação em toda a nossa Diocese. Como é sabido, a renovação das estruturas só resulta se for precedida e acompanhada de um outro movimento de renovação das mentalidades das pessoas, a começar por nós sacerdotes e diáconos.
Assim, é verdade que somos menos padres do que éramos há algumas décadas atrás. Mas temos diáconos que não tínhamos.
Somos menos padres, mas temos mais de um milhar de Ministros Extraordinários da Comunhão nomeados e espalhados por toda a Diocese; temos catequistas dedicados e com vontade de progredirem na sua formação e no melhor exercício deste ministério; temos conselhos económicos paroquiais, praticamente em todas as paróquias, que talvez estejam à espera de serem mais responsabilizados e com a formação necessária para participarem mais ativamente na administração das paróquias.
O número de padres que somos não permite, isso é certo, celebrar a Eucaristia dominical em todas as paróquias e suas anexas. Mas não é menos verdade que o número das pessoas residentes nas nossas terras também é cada vez mais reduzido e está a pedir-nos criatividade para redefinirmos não só a distribuição das celebrações dominais, mas também dos outros serviços paroquiais.
Agora, ao celebrarmos a Missa Crismal, lembramos os pontos da nossa vida de sacerdotes, onde temos de concentrar o mais possível todas as energias.
Assim, primeiro, somos os homens da presidência da Eucaristia; da Reconciliação e do acompanhamento das pessoas nas variadas situações da sua vida.
Precisamos de ser cada vez mais homens que vivem da Palavra e entusiasmam os outros a viverem dela também.
Pertence-nos a responsabilidade de presidir às comunidades e, como tal, a nossa principal obrigação é identificar, convidar, formar, motivar e coordenar os diferentes ministérios e serviços, bem como cuidar a máxima participação de todos os fiéis na vida da sua comunidade, o que implica recorrer a instrumentos próprios, como são os conselhos pastorais paroquiais ou interparoquiais.
Precisamos de nos motivar cada vez mais a nós próprios e aos fiéis em geral para o caminho da reorganização pastoral, um dos desígnios da nossa Assembleia Diocesana. E esse esforço é tanto mais urgente quanto sabemos que muitas, se não mesmo as maioria das nossas paróquias, não têm capacidade para sozinhas dar cumprimentos a todas as obrigações paroquiais.
5.Este tempo de paragem obrigatória imposta pela pandemia procurámos certamente aproveitá-lo da melhor maneira, embora por caminhos distintos dos habituais. E aproveitámo-lo, em primeiro lugar, mantendo as relações com os paroquianos por formas novas, variadas e criativas. Lembro apenas dois procedimentos de que tive conhecimento. Um deles, “Os rostos da Fé” e outro a oferta que foi sendo feita às famílias para celebrações e formações, em Igreja doméstica, sem esquecer o incentivo para que a catequese, sobretudo da infância e da adolescência, continuasse, nas casas e através dos meios digitais oportunamente dados a conhecer.
Mas foi certamente este um tempo aproveitado para repensarmos e aprofundarmos a nossa identidade sacerdotal e as formas renovadas de lhe dar o devido cumprimento no serviço às nossas comunidades e à Igreja como tal. Será este também um potencial que queremos aproveitar no regresso à normalidade possível.
6.Como sempre fazemos na Missa Crismal, damos, nesta celebração, especiais graças a Deus pelos nossos padres que cumprem jubileus sacerdotais de 70, 60 e 25 anos.
Cumprem jubileu sacerdotal de 70 anos os Rev.dos Padres Joaquim Teixeira, Francisco Salvado Gralha, Francisco Gomes Gonçalves e António Gonçalves.
Os três primeiros foram ordenados pelo Sr. D. Domingos da Silva Gonçalves; o último pelo Sr. D. José Alves Matoso.
O Sr. Padre Joaquim Teixeira iniciou o Ministério como coadjutor em Trancoso e um ano depois foi nomeado Pároco da Cogula, Vale do Seixo e Vila Garcia, no mesmo Arciprestado, onde permaneceu quatro décadas. Desempenhou funções docentes no Colégio e na Escola Pública, durante grande parte destes anos. Os últimos 26 anos das suas funções de Pároco ligaram-no à Paróquia de Seia e agora, com residência em Trancoso, continua ajudar os colegas sacerdotes, com muita regularidade.
O Sr. Padre Francisco Salvado Gralha começou como coadjutor em Loriga e dois anos depois foi nomeado Pároco do Castelejo, no arciprestado do Fundão. Em 1959 assumiu a Paróquia de Santa Maria na vila de Manteigas, onde serviu até ao ano de 2008. Depois disso ajudou vários colegas e presentemente, com limitações de saúde, está acolhido no Centro de Bem estar Social de Malhada Sorda.
O Sr. Padre Francisco Gomes Gonçalves, depois de iniciar o Ministério como coadjutor ma Paróquia de Nossa Senhora da Conceição na Covilhã, distribuiu o seu serviço sacerdotal por distintas partes da nossa Diocese, desde Folgosinho, no arciprestado de Gouveia até à Vermiosa, no arciprestado de Figueira de Castelo Rodrigo, prosseguindo para Aldeia do Carvalho, no arciprestado da Covilhã, onde esteve 24 anos e terminando no arciprestado de Seia, mais propriamente em Santa Comba e Pinhanços. Já depois de dispensado das responsabilidades paroquiais, aceitou o pedido que lhe fiz para colaborar nas Paróquias de Vide e Teixeira. Presentemente reside em casa própria, na cidade de Seia, com várias limitações de saúde.
O Sr. Padre António Gonçalves começou e acabou as suas funções de Pároco na Paróquia da Erada, arciprestado da Covilhã. Tendo sido, a seu pedido, dispensado das responsabilidades paroquiais, no ano de 2008, ali manteve a sua residência e disponível para ajudar também paróquias vozinhas, como a de Teixeira. Já no decorrer deste ano, pediu para ser acolhido no lar do Centro Paroquial de Assistência Nossa Senhora das Dores, no Paul.
Estes quatro aniversariantes, por razões de falta de saúde, não podem estar presentes. Já marquei celebrações também de ação de graças nos seus lugares de residência para datas oportunas.
Cumpre 60 anos de vida sacerdotal o Rev.do Padre António Espinha da Cruz Monteiro, que foi ordenado, com significativo grupo de outros colegas sacerdotes, pelo Sr. D. João Crisóstomo Gomes de Almeida, então Bispo Auxiliar de Viseu, quando a nossa Diocese estava vacante, antes da chegada do Sr. D. Policarpo da Costa Vaz.
Depois de um ano como coadjutor em Loriga, paroquiou, durante sete anos, paróquias dos arciprestados de Pinhel e Figueira de Castelo Rodrigo e, em 1968, foi nomeado para a Paróquia de Freixeda do Torrão, onde fixou residência, acumulando com paróquias vizinhas, mantendo-se neste arciprestado até ao presente. Desempenhou também funções docentes, primeiro no Colégio e depois na Escola Pública.
Celebram Bodas de prata sacerdotais os Rev.dos Padres Vítor Manuel Paiva Ramos e Henrique Manuel Rodrigues dos Santos.
Foram ambos ordenados pelo Sr. D. António dos Santos, o primeiro em Julho e o segundo em Dezembro de 1995.
O Rev.do Padre Vítor iniciou o Ministério Sacerdotal no arciprestado de Pinhel, nas Paróquias d Freixedas, Santa Eufémia e Gouveias, colaborando também na Paróquia de Souropires e outras. Doze anos depois, foi nomeado Vigário Paroquial da Paróquia de S. Miguel da Guarda e outras do mesmo conjunto paroquial. Passados 4 anos, foi nomeado pároco de várias paróquias no arciprestado de Celorico da Beira, com a cooperação de um diácono permanente e, em 2019, assumiu a responsabilidade da capelania do Hospital da Guarda, funções que atualmente exerce.
O Rev.do Padre Henrique Manuel Rodrigues dos Santos, depois de cumprido o ensino liceal na escola pública de Almeida, ingressou no nosso Seminário Maior. Começou o exercício do Ministério como cooperador pastoral na cidade da Covilhã, Paróquia de S. Martinho e foi depois nomeado para a equipa pastoral de Trancoso, com responsabilidades específicas nas paróquias d Palhais e Rio de Mel. Em 2003 passou para o arciprestado de Pinhel, como Pároco das Paróquias de Souropires e outras. Entretanto, iniciou atividade docente no Instituto Superior de Teologia frequentado pelos nossos seminaristas e também começou estudos de formação complementar em História da Igreja na Pontifícia Universidade de Comillas, em Madrid. Depois de um ano sabático dedicado á investigação, em 2007, defendeu tese de doutoramento sobre a recepção do Concílio Vaticano II na Diocese da Guarda. A seguir e depois de durante algum tempo prestar serviço paroquial no arciprestado de Seia, foi nomeado para desempenhar idênticas funções na Covilhã, assumindo também a condução da pastoral universitária, na Universidade da Beira Interior. Conjuntamente desempenhou funções docentes, na mesma Universidade, na área da História da Arte, em arquitetura.
É o delegado diocesano para a pastoral da cultura.
No ano de 2017, foi nomeado Pároco da Paróquia de S. Miguel da Guarda e também de Gonçalbocas e Jarmelo e mais recentemente de Arrifana.
Caros Padres e diáconos, louvamos o Senhor não só por estes jubileus, mas também pela confiança que Ele continua a depositar em cada um de nós, no exercício do Ministério que nos está confiado.
Dentro de momentos, nós os sacerdotes vamos renovar as nossas promessas sacerdotais.
Como lembra a Congregação Romana do Clero, para correspondermos a esta confiança precisamos de fortalecer cada vez mais a relação íntima com a pessoa de Cristo.
Sabendo nós que a pandemia já nos obrigou a muitas modificações e não nos permite ainda a liberdade de movimentos que desejamos e a que estávamos habituados, deixo para vós o desejo de, em setembro, no início da segunda quinzena, procurarmos reiniciar a normalidade possível, participando no nosso retiro anual, para o qual desde já a todos convido. Será, a seguir, apresentada a reprogramação das nossas atividades.
Que o Senhor nos acompanhe e ajude a viver estes tempos da pandemia também como tempos de graça, embora por caminhos diferentes dos habituais.
19.6.2020
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda