Encontro de Párocos e Catequistas
19.9.2020
Seminário da Guarda
Estamos aqui para refletir e dialogar sobre as orientações que nos são dadas para retomarmos, dentro do possível, a catequese presencial nas nossas comunidades.
Já vai muito alongado o tempo em que as nossas crianças e os nossos adolescentes deixaram de ter encontros presenciais de catequese, nos tempos e nos espaços que se habituaram a frequentar. Felizmente que, pelo menos muitos deles não se sentiram abandonados, porque continuaram a receber, com alguma frequência, mensagens dos seus catequistas, por telefone, por SMS ou por outros meios técnicos mais ou menos elaborados de som e imagem.
Sentimos agora que mesmo esses contactos não podem substituir a relação presencial, olhos nos olhos, em experiência de encontro.
É certo que a pandemia nos obrigou a parar durante estes últimos seis meses, provocou e continua a provocar marcas de dor profundas nas nossas experiências de vida, a nível pessoal, mas sobretudo da relação comunitária e social.
Trouxe-nos algumas oportunidades, como sejam a reflexão e a revisão de vida pessoal, o encontro aprofundado no seio das famílias, mais tempo para a oração e a formação, como também o lançar mão de novas formas de garantir a relação com as pessoas das nossas comunidades e mesmo de outras. Graças a Deus que houve boas experiências de oração e encontro com a Palavra, ao longo destes tempos especiais e também experiências fortes de vida familiar que nos levam a sentir como, de verdade, cada família é uma verdadeira Igreja doméstica, onde a catequese familiar pode ter o seu estatuto.
Todavia, se estas são algumas oportunidades, que foram mais ou menos bem aproveitadas, o certo é que as dificuldades foram e continuam a ser muitas mais. E no que à catequese da infância e adolescência diz respeito, os tempos demasiado prolongados em que não houve possibilidade de catequese presencial são uma carência muito grande.
Por sua vez, os encontros celebrativos que os catecismos prevêem e outros a que a catequese conduz, como por exemplo as festas da Primeira Comunhão, são igualmente graves lacunas. Acrescentam-se a estas dificuldades, a menor relação com as famílias ou a falta dela, através de encontros calendarizados ou simplesmente ocasionais, o que faz muita falta no processo da catequese.
É normal que muitas das nossas crianças e adolescentes tenham manifestado saudades dos encontros presenciais de catequese, embora tenhamos de ter em conta o risco de os esquecerem.
Este é o momento de nos organizarmos e colaborarmos para que, dentro dos condicionalismos que a pandemia continua a impor-nos, possamos retomar as nossas catequeses presenciais.
A nossa favor temos a experiência, de modo geral considerada bem sucedida, do regresso às celebrações dominicais, nas nossas igrejas e mesmo fora delas, em outros espaços. E isso está a ser reconhecido pelas autoridades de saúde e civis em geral.
O distanciamento, as máscaras, a higienização, o cumprimento de outras regras, como sejam percursos definidos de sentido único, o mais possível sem retorno, bem como o cumprimento das recomendações de, imediatamente antes e depois das celebrações, haver o cuidado de dispersar, evitando ajuntamentos, são hábitos adquiridos.
O mesmo se pode dizer das experiências com várias festas, ao longo deste verão, que se realizaram no estrito cumprimento das mesmas recomendações para as celebrações dominicais, sem ajuntamentos nas procissões ou outros, mas podendo incluir tempos de preparação, com formações e atendimento, incluindo sacramento da Reconciliação. Podemos agora dizer que estas são práticas bem conseguidas e constituem algumas das experiências positivas que fomos capazes de fazer ao longo da pandemia.
Agora está-se-nos a colocar a necessidade de organizar a retoma das celebrações do Sacramento da Confirmação, que são geralmente momentos de maior concentração das famílias e das comunidades. De facto, sendo, em primeiro lugar, acontecimentos importantes para os crismados, estas celebrações também o são para as suas famílias e para as comunidades que os prepararam e agora legitimamente aguardam a mais valia da sua presença e da sua participação em ordem a valorizarem e enriquecerem a vida comunitária. Já estão dadas as orientações necessárias.
Citei estes exemplos para dizer que o que foi e é possível em outras vertentes da pastoral também o vai ser, com a graça de Deus e a proteção maternal de Maria Santíssima, no regresso às sessões presenciais de catequese nas nossas comunidades.
E vem a propósito lembrar o seguinte.
O esforço que vamos fazer para cumprir e ajudar a cumprir todas as regras que nos vão permitir regressar à catequese presencial nas nossas comunidades é a forma de nós também cumprirmos, nestes tempos especiais de pandemia, o mandato evangelizador recebido do Senhor Jesus Cristo.
Temos consciência dos tempos especiais que atravessamos e que vêm mesmo de antes da pandemia e que o novo Diretório Geral da Catequese chama mudança de época. Concordamos todos em que estamos num tempo muito complexo, com alterações profundas nas Igrejas de antiga tradição cristã e, em concreto, nas nossas comunidades e nos nossos ambientes. São, de facto, muitas as exigências de renovação espiritual, moral, pastoral que o momento atual nos coloca. Todavia, acompanha-nos uma certeza de fundo – o Espírito Santo está connosco, com cada um de nós, com a Igreja que nós somos e também com o mundo que habitamos. E, neste mesmo mundo onde vai deixando os seus sinais, Ele está a suscitar constantemente novas formas de sede de Deus que temos obrigação de saber identificar, para depois lhe podermos responder. E, como sabemos, a catequese é, em si mesma, o processo pelo qual o encontro com o Senhor Jesus responde a todas as formas de sede e de fome de Deus.
Ora, nós estamos a sentir que a pandemia, se nos continua a atrapalhar, por um lado, por outro põe a todos a questão da relação com Deus que é de todos os tempos, mas nestes de especial contingência e geradores de sofrimento, mais se revela e se sente. É preciso que as pessoas, a começar pelas das nossas comunidades, ajudando-se mutuamente, e a catequese é uma das mais importantes formas de ajuda, descubram e experimentem a relação viva com Deus revelado na Pessoa de Jesus Cristo.
Estimados Padres e Catequistas, os procedimentos que nos são recomendados e constituem objecto do nosso diálogo esta manhã são de facto exigentes, pedem-nos atenção pormenorizada e sobretudo apontam a necessidade de mais e maior envolvimento no processo da catequese; envolvimento de catequistas, de auxiliares e sobretudo das próprias famílias. Como já disse, não representam absoluta novidade, pois já demonstrámos a nós mesmos capacidade para respeitar regras similares, no regresso às celebrações – e já lá vão quase quatro meses. Mas pedem empenho de todos, quer no processo da informação que se impõe, quer na preparação dos espaços, quer no acompanhamento das crianças e dos adolescentes, dentro das novas condições que estes procedimentos supõem,
Por isso, párocos, catequistas, auxiliares, comunidades e famílias, em boa correlação de esforços, seremos capazes de dar boa resposta também na retoma da catequese da infância e da adolescência.
Confiamos na condução que o Espírito Santo nos faz e pedimos a proteção maternal de Nossa Senhora no regresso á catequese presencial das nossas comunidades, que, com muita esperança e determinação, vamos iniciar.
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda