Encerramento do retiro dos sacerdotes

Encerramento do retiro dos sacerdotes

Encerramento do retiro dos sacerdotes

Homilia de D. Manuel Felício

25 de Setembro de 2010

 

Estimados Padres:

 

Terminamos agora o retiro anual de quatro dias oferecido aos sacerdotes do nosso Presbitério.

Quisemos, com este retiro, acolher a proposta do Papa Francisco sobre “o sonho missionário de chegar a todos”.

Tivemos a ajudar-nos o nosso amigo e conterrâneo Padre Manuel Jerónimo, da Sociedade Missionária da Boa Nova, que também frequentou este Seminário onde nos encontramos, tendo mesmo sido ordenado sacerdote nesta mesma capela pelo então Bispo da Guarda D. Policarpo da Costa Vaz. Queremos agradecer-lhe a sua disponibilidade para estar connosco e o esforço que fez para nos conduzir pelos caminhos desse sonho missionário, que ele próprio viveu e continua a viver, desde as terras sertanejas do Brasil até Angola e Moçambique e agora em Cernache do Bom Jardim, acompanhando missionários em formação. Estamos-lhe muito gratos e queremos dizer-lhe que o seu exemplo e entusiasmo pela causa missionária ficam connosco.

 

A Palavra de Deus que acabámos de escutar fala-nos do mistério do tempo. Tempo que, à primeira vista, nos aparece quase como sendo uma máquina trituradora, que esmaga tudo e todos, obrigando a atividades e  esforços que nada de novo parecem trazer à vida das pessoas. Mas há outra maneira de olhar para o mistério do tempo e o Coelet diz-nos hoje que é possível encarar o tempo como oportunidade para conhecer o princípio e o fim da obra de Deus.

Visto por este prisma, o tempo deixa de ser a simples sucessão vertiginosa de momentos que nos arrasta na enxurrada – o kronos, e passa a ser oportunidade de salvação, porque o Senhor intervém na nossa vida e faz de nós instrumentos da sua intervenção na vida do mundo e das pessoas. Sendo assim, mais do que kronos, simples sucessão de momentos, o tempo passa a ser kairós, oportunidade de salvação.

 

O encontro com a Pessoa de Jesus é para nós, sacerdotes de hoje, como o foi para os apóstolos, a grande e primeira oportunidade de salvação que temos de saber aproveitar.

Também para os apóstolos o encontro com Jesus teve as suas etapas e dificuldades. Foi-lhes fácil responder à interpelação de Jesus sobre o que os outros diziam d´Ele. Mas foi difícil a resposta à interpelação direta sobre quem era Jesus para eles.

E todos certamente ficaram calados, durante largo espaço de tempo, até que Pedro adiantou a resposta certa.

No lugar paralelo, S. Mateus segue caminho diferente desta passagem de Lucas. Mateus aproveita para falar do Primado e do serviço da reconciliação na vida da Igreja. Lucas prefere insistir num ponto muito pouco agradável para os discípulos, mas decisivo para  missão de Jesus – ter de sofrer muito, ser rejeitado e morto para depois ressuscitar. É o caminho da entrega até ao fim, que Lucas aqui deixa bem sublinhado.

 

E podemos nós dizer agora que esse é o o caminho do Bom Pastor, fonte inspiradora e modelo do nosso Ministério de sacerdotes, que desejamos viver também em total entrega até ao fim, para serviço dos fiéis e das comunidades. Santo Agostinho, nestes últimos dias, em textos seus reproduzidos na Liturgia das Horas, tem-nos vindo a instruir sobre o perfil do verdadeiro pastor, à frente das comunidades e atento a todos os fiéis, privilegiando os mais débeis.

Ora, é em função deste mesmo serviço que nós queremos organizar o nosso tempo e para ele orientar todas as nossas energias. E para que o tempo que nos é dado viver não seja máquina trituradora, mas antes oportunidade de salvação para nós e para aqueles que nos estão confiados, temos de saber comandá-lo em vez de nos deixarmos comandar por ele.

Para o conseguirmos, temos de arranjar tempo, em primeiro lugar para o encontro com o Senhor, nas celebrações litúrgicas e fora delas, sabendo que esse é o primeiro e melhor serviço que prestamos a nós mesmos e às comunidades. Temos de ter tempo, depois, para as atividades pastorais, particularmente na condução do Povo de Deus que nos está confiado. E aqui a prioridade tem de ser  identificar, chamar e formar discípulos missionários.

E a esse propósito, foi-nos abundantemente lembrado, neste retiro, o exemplo do venerável servo de Deus D. João de Oliveira Matos, que, depois de identificar as prioridades da Diocese, através das visitas pastorais, soube preparar para a missão essas almas eleitas que Deus colocou à sua frente, por toda a Diocese.

Essa tem de continuar a ser também para nós hoje a grande prioridade – descobrir, chamar, formar e enviar em missão aqueles e aquelas que hoje são os discípulos missionários.

Finalmente, convém lembrar que precisamos também de tempo para nós próprios – para o descanso, para organizarmos a nossa vida pessoal, para fortalecer amizades e cooperações, enfim, para a nossa formação.

De facto, só a arte de organizar o tempo, que nos é dado de graça, para a oração, para o trabalho  e para o descanso nos pode fazer viver o Ministério como verdadeiro serviço à Igreja e às nossas comunidades.

 

Desejamos que este retiro, intencionalmente colocado no início do ano pastoral, nos ajude a viver o Ministério, sempre à procura das melhores formas de oferecer aos fiéis e às comunidades o serviço que lhes deve ser prestado.

Este vai ser certamente um ano pastoral diferente, com as marcas da pandemia a acompanhar-nos e sem sabermos até quando. Mas estas novas circunstâncias são também apelo a fazermos discernimento contínuo sobre as formas inovadoras de chegar a todos com a Boa Nova da Palavra de Deus.

Que o exemplo do venerável servo de Deus D. João de Oliveira Matos, a intercessão de Maria Santíssima e sobretudo o dom sublime do Espírito Santo nos ajudem a fazer deste ano pastoral um ano de graça e uma oportunidade de salvação para nós e para a Diocese que nos está confiada.

 

+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda