Tomada de posse da nova Coordenadora Geral e seu Conselho
LIGA DOS SERVOS DE JESUS
Homilia de D. Manuel Felício, Bispo da Guarda
O Papa Francisco escreveu-nos uma carta encíclica, assinada em Assis, cidade de S. Francisco e apresentada ontem.
Nela nos convida para, juntos, realizarmos o sonho de sermos todos irmãos, em fraternidade e amizade social.
Pede-nos coragem para deixarmos um mundo fechado, onde cada um procure o seu conforto, cuida as suas seguranças sem dar a devida atenção aos outros e ao futuro; passarmos para um mundo aberto, onde cada um dá a devida atenção dos outros e todos se sentem acolhidos e valorizados.
Pelo meio e para incentivar esta coragem, convida-nos a revisitar a parábola do Bom Samaritano, dando-lhe um título que também nos interpela a todos nós e que é o seguinte – “Um estranho no caminho”. Esse estranho é aquele estrangeiro que, contrariamente ao sacerdote e ao levita, passando ao largo, parou e deu atenção àquele ferido.
Depois de reproduzir a parábola por inteiro, na sua carta, começando inclusivamente pela interpelação do doutor da lei, feita para o experimentar, com diz o texto do Evangelho de hoje, o Papa convida-nos a assumir, nas nossas vidas, a perspetiva nela apresentada, uma perspetiva de séculos, mas sempre atual e geradora de novidades, que precisamos de saber introduzir nas nossas relações e nas relações com o mundo.
E o Papa insiste – havia um abandonado, roubado, ferido, estendido à beira do caminho. Vários foram os que se desviaram dele e passaram ao largo, mas houve um outro, por sinal, um estrangeiro, que parou para lhe oferecer proximidade e cuidar da sua saúde. Deu-lhe tempo e dinheiro, coisas que continuam a ter lugar primeiro nas relações sociais, dentro da nossa sociedade.
Este é também o caminho que Jesus nos aponta – sairmos das nossas seguranças, trocarmos as nossas conveniências por atitudes novas que nos levam a promover a tal fraternidade e amizade social propostas pelo Papa, na Sua encíclica.
E a nós, membros da Liga dos Servos de Jesus, é-nos pedido que o façamos no cumprimento do nosso carisma e na fidelidade às suas origens, na pessoa do nosso Fundador, o Venerável Servo de Deus, D. João de Oliveira Matos.
Ora acontece que a última assembleia geral da Liga realizada de 3 a 5 do mês passado, deu-nos importantes indicações para vivermos o nosso carisma, de forma aplicada às novas conjunturas da Igreja e da sociedade.
Assim, pediu-nos coragem para reformarmos as nossas comunidades, que certamente terão de diminuir em número para se tornarem espaços mais autênticos de vida, em partilha fraterna e com a necessária qualidade nas relações.
Pediu-nos disponibilidade para colaborarmos mais e melhor na reorganização e reformulação dos vários serviços nascidos do carisma da Liga e agora confiados à tutela do Instituto de S. Miguel. E graças a Deus que alguns passos estão já a ser dados nesse sentido.
Pediu-nos redobrado empenho para conhecermos melhor e darmos a conhecer a vida e o exemplo de pastor do nosso Fundador, o Venerável Servo de Deus, D. João de Oliveira Matos, com suas propostas de espiritualidade e formação na Fé, através de retiros e outras iniciativas. Esperamos que o seu túmulo instalado nesta Igreja e toda a memória que ele evoca possam ser ainda mais bem aproveitados para divulgar a espiritualidade e a formação a que o Sr. D. João entregou toda a sua vida e que não perderam atualidade.
Por estas e outras iniciativas recomendadas na última assembleia geral há-de passar a nossa recorrente preocupação por promover as vocações de especial consagração e em particular aquelas que, segundo os desígnios do Senhor, hão-de dar continuidade ao serviço da Liga dos Servos de Jesus.
Ao dar-nos estas e outras indicações, a assembleia geral cumpriu uma das suas competências estatutárias que, segundo as constituições, é a de “promover uma contínua renovação” (Const.116,4).
Por sua vez e segundo as mesmas constituições, à Coordenadora Geral e seu Conselho pertence a responsabilidade de tudo fazerem para dar cumprimento a esta renovação, segundo as orientações da mesma assembleia. Para isso é-lhes cometido o encargo de fomentar a união fraterna dentro de cada comunidade e das comunidades entre si. (Const. 124, 2), visitar as casas, dialogando pessoalmente com cada uma das irmãs e reunir com a respetiva comunidade, animando a sua vida de oração e trabalho ( c. 124,4)
Têm ainda a obrigação de zelar para que o Instituto de S.Miguel desempenhe cabalmente a sua missão assistencial e apostólica, como obra da Igreja (c.124,9)
Para estas e outras missões, a Coordenadora Geral partilha a responsabilidade com o seu Conselho, com o qual reúne pelo menos uma vez por mês (Const. 27), mas agora, com as novas tecnologias ao alcance de todos, a partilha de informação e o suporte para as decisões podem ser obtidas em tempo real.
Nesta Eucaristia e na hora em que se inicia o seu mandato, queremos pedir a bênção de Deus para a nova Coordenadora Geral e seu Conselho. De facto, há caminhos novos que precisamos de abrir como também há trajetória de vida que precisam de se ajustar às novas conjunturas atuais da Igreja e da sociedade.
Aos órgãos do governo da Liga dos Servos de Jesus pertence a responsabilidade de tomar as decisões certas no momento certo. E nós confiamos em que, com a luz e a força do Espírito Santo, inspirados na vida e obra do Fundador e com a intercessão de Maria Santíssima, no seu Mistério da Imaculada Conceição, que invocamos, segundo as Constituições, como protetora e timoneira, essa responsabilidade vai ser corajosamente assumida durante o seu mandato que hoje se inaugura e tem no horizonte a celebração do Centenário da Liga, no ano de 2024.
Confiamos também na proteção dos Santos, nossos advogados e protetores junto de Deus, S. José, S. Miguel Arcanjo, Santa Teresa do Menino Jesus e Santo António.
E porque estamos num lugar que leva o seu nome – o Outeiro de S. Miguel - queremos fazer uma prece final por intercessão do Arcanjo S. Miguel, que nos dê a coragem de, contra todas as adversidades, levarmos por diante as orientações da nossa assembleia geral, a começar por aquelas que mais exigem de cada um de nós.
Que Deus seja louvado em todos os percursos da Liga dos Servos de Jesus, sempre no esforço de levar à prática o autêntico Evangelho e na recusa, em nós mesmos e nos outros, de todas as acomodações que também nos tentam a nós, todos os dias e que S. Paulo denuncia na carta aos Gálatas que hoje escutámos.
Outeiro de S. Miguel, 5 de Outubro de 2020
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda