IV Dia Mundial dos Pobres

IV Dia Mundial dos Pobres

IV Dia Mundial dos Pobres

 

Desde 2017 que, por vontade do Papa Francisco, a Igreja celebra o Dia Mundial dos Pobres no penúltimo domingo do ano litúrgico. Desta vez, é já no próximo domingo, dia 15 do corrente mês de novembro. E foi esta a razão pela qual a semana e o domingo dos seminários, em Portugal, foram deslocados para a semana anterior.

Com o simbolismo deste dia e a chamada de atenção que ele representa, a Igreja pretende levar a sério a sua condição de Igreja pobre ao serviço dos pobres e colocar a realidade dos  mesmos pobres no centro de toda a sua ação pastoral. Mais ainda, a todos nos pretende lembrar que cada comunidade cristã não pode descurar o serviço organizado aos mais necessitados, chama-se-lhe caritas paroquial, conferências vicentinas ou outro nome, sob pena de negar a sua própria identidade. Nem é esta uma responsabilidade que possa transferir para qualquer outra instituição ou serviço.

 

Nas quatro edições do Dia Mundial dos Pobres até agora celebradas, o Papa Francisco começou pelo desafio a não amarmos apenas em palavras, mas em obras e verdade (cf. I João 3,18), no ano de 2017. Em 2018, remete-nos para a especial atenção que o próprio Deus dedica ao clamor dos pobres – “Este pobre clamou e o Senhor o ouviu” (Salmo 34, 7). No ano seguinte, lembrou-nos que a esperança é a grande riqueza e a força dos pobres (cf. Salmo 9,19) e, desta vez, parte de uma passagem do livro do Eclesiástico e convida-nos a estender a mão ao pobre (cf. Siracide, 7, 32).

 

De facto, o normal é que os pobres que continuam a ser percentagem elevada da população nas nossas sociedades ditas evoluídas – em Portugal essa percentagem situa-se acima de um quinto– não nos deixem indiferentes. Isto apesar da insistente chamada de atenção do Papa Francisco para a tentação da indiferença globalizada. A esse propósito, na sua mensagem para este Dia  Mundial dos Pobres, ele é claro, ao dizer-nos que, perante as muitas situações graves de pobreza, não podemos cruzar os braços, deixando-nos ficar na indiferença e no cinismo.

Ao vivermos este Dia Mundial dos Pobres em plena crise da pandemia, que, de facto, a todos nos surpreendeu e veio revelar muitas das nossas fragilidades, que porventura estavam escondidas, reconhecemos que todos necessitamos também de alguma mão estendida e vinda ao nosso encon­tro. De facto, com a pandemia, sentimo-nos mais pobres, mais fracos e dependentes, porque as nossas riquezas foram postas em causa. E será que agora temos a coragem de voltarmos a nossa atenção para o essencial; essencial esse que não podem ser os bens passageiros e que enferrujam?

Este tempo pandémico, que está a ser de muitos constrangi­men­tos, é também tempo favorável para descobrirmos que precisamos todos uns dos outros, porque viajamos no mesmo barco, onde o natural medo dos perigos nos assalta e tem resposta na Pessoa do mesmo Jesus que apareceu na hora certa para acalmar a tempestade e tranquilizar os discípulos.

 

10.11.2020

 

+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda