Os nossos votos para a cidade da Guarda

Os nossos votos para a cidade da Guarda

Em dia de aniversário

Os nossos votos para a cidade da Guarda

 

A Guarda celebra hoje 821 anos de idade.

Nestes mais de oito séculos de vida, passou por muitas vicis­si­tudes, viveu muitas crises e registou êxitos assinaláveis. Ofereceu e continua a oferecer ao país e ao mundo muitos e variados bens e oportunidades. O seu passado é um tesouro, do qual muito nos podemos orgulhar.

 

Voto por um desenvolvimento com alma

 

Mas esta é principalmente a hora de olhar o futuro. A todos os que habitam a  nossa cidade ou a procuram com muais ou menos frequência pede-se colaboração  para delinear esse futuro; o futuro  daquela que é a cidade mais alta, farta, fria,  forte, fiel e formosa.

E nós todos queremos uma cidade e uma região onde se pro­mo­ve um desenvolvimento com alma, voltado para o bem de todos e de  cada um, na sua totalidade; uma economia solidá­ria, porque empenhada em aproximar as pessoas e respeitar a natureza.

As empresas que existem e outras que venham a instalar-se hão-se saber vencer a tentação do lucro imediato, consegui­do, quantas vezes, à custa dos direitos das pessoas e  do respeito pela natureza. De facto, as pessoas nunca podem ser tratadas como coisas que se usam e se deitam fora, conforme são úteis ou deixam de o ser e a natureza também não pode ser vista como fonte de recursos inexgotáveis ou com capaci­dade ilimitada para se regenerar das agressões que lhe fa­zem.

Isto envolve saber escolher modelos de “economia circular”, em vez da mais usual “economia linear”. Quando falamos de “economia circular”, pensamos em formas de reciclar e reu­ti­lizar as coisas, em valorizar os produtos locais  e integrar o mais possível no processo produtivo e de circulação dos bens os cidadãos que aqui vivem. A “economia linear” orga­ni­za-se predominantemente com base em matérias que se exploram, transformam, entram no circuito comercial e de­pois o que sobra é deitado fora, não reaproveitado.

 

Voto por cuidar a casa comum

 

Queremos uma cidade que saiba cuidar da casa comum.

De facto, a cidade tem por vocação ser cada vez mais a nossa casa, onde todos se  sentem acolhidos e valorizados e o bem comunitário é devidamente promovido.

Daí o ser desejável uma educação generalizada para todo o processo de limpeza urbana, incluindo o tratamento dos resíduos, que envolva a corresponsabilidade de todos.

Nessa educação, os pobres terão o seu devido lugar, ao mes­mo tempo que se motiva a preocupação geral e os serviços específicos necessários para cuidar bem das pessoas, a começar pelas mais dependentes.

Por isso e para caminharmos conjuntamente para o desejado futuro novo da nossa cidade e sua região precisamos de agentes comunitários capazes de promover a transformação das mentalidades para depois se conseguir a renovação da vida comunitária e do nosso desenvolvimento local.

Cada vez mais sentimos que só renovando o “coração” das pessoas  conseguiremos chegar às necessárias mudanças na vida social.

 

Voto por desenvolver potencialidades próprias

 

Somo uma cidade  e uma região com potencialidades conjun­tu­rais mais que suficientes para poderem gerar um futuro novo, como são as duas autoestradas e as duas vias férreas que aqui se cruzam, a situação transfronteiriça privilegiada e com história, os bons ares e a âncora da Serra da Estrela, para além do seu património invejável.

Mas não basta ter potencialidades; precisamos de pessoas capazes de as desenvolver para delas tirarmos partido. Essas pessoas podem vir de fora e felizmente que temos casos de sucesso. Mas precisarão de contar sempre com os que cá estamos.

Por isso, é prioritário, no imediato, promover uma cultura generalizada de iniciativa e de cooperação, com empreendi­mentos de economia solidária voltada para a valorização dos produtos locais e nisso precisamos de ver  mais envolvidos todos os nossos serviços, públicos e não públicos, a começar pelos vocacionados para a formação profissional. Inclui-se aqui a necessidade prioritária de promover e oferecer servi­ços que valorizem a  vida das pessoas como tal, sobretudo nas nossas terras, onde vão predominando os idosos e é grande o risco da solidão e da mobilidade progressivamente diminuída. Vale aqui o princípio de que não basta aumentar anos à vida, mas é preciso também dar vida aos anos.

 

Voto por energia e comunicações renovadas

 

Sectores básicos como  energia e comunicações têm lugar in­subs­tituível na definição do futuro também da nossa cidade. O futuro exige de todos empenho por racionalizar o uso da energia, usando predominantemente energias renováveis. Essa orientação tem de ser, em primeiro lugar, para o sector público, para as empresas e grandes superfícies, mas não pode deixar de fora o cidadão comum.

E o mesmo se diga do uso das novas tecnologias de comuni­cação, tanto quando nos ligam ao mundo global, via internet, como quando, nas redes sociais, colocam as pessoas local­men­te em permanente contacto entre si, podendo, assim,   sintonizar com os grandes propósitos da sua comunidade.

 

Votos pela cultura do encontro

 

Precisamos de saber promover a verdadeira cultura do en­con­tro e particularmente do encontro intergeracional. Todos compreendemos que da criatividade e do dinamismo dos mais novos completados com o saber acumulado dos mais velhos podem resultar maravilhas.

Por estes e por outros caminhos similares, havemos de saber progredir para sermos uma cidade cada vez mais inteligente, porque  capaz de respeitar e valorizar a vida dos cidadãos e a casa comum que nos alberga. Seremos, assim, uma cidade apetecível para nela se viver.

São estes os votos de aniversário que queremos deixar à nossa cidade da Guarda

 

Guarda, 27.11.2020

 

+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda