V Domingo da Quaresma
- Celebramos o V Domingo da Quaresma, com o regresso às nossas assembleias dominicais. Delas estivemos afastados durante dois meses e queremos agora sentir a renovada alegria de nos reencontrarmos à volta da Mesa da Eucaristia.
Fazemo-lo com o sentido da responsabilidade de quem deseja cumprir todas as regras necessárias para combater o avanço da pandemia, para bem da nossa saúde pessoal e também da saúde pública.
E, na verdade, o cumprimento dessas regras é prática que já conhecemos desde há um ano, a ela estamos habituados e provámos que somos capazes de a levar por diante.
E agora, ao regressarmos às assembleias dominicais, queremos, antes de mais, confiar aos especiais cuidados do nosso Deus, que é Pai de amor e misericórdia, aqueles que mais sofreram e estão a sofrer os efeitos da pandemia, porque perderam algum familiar ou foram atingidos pela doença ou por qualquer outra consequência, sobretudo perda de emprego.
Também queremos incluir na nossa oração o pedido de ajuda para sabermos conviver com a pandemia, sem deixarmos de cumprir a nossa condição de discípulos, da qual faz parte a vida comunitária, envolvendo proximidade e atenção de uns aos outros. Pedimos sobretudo para que seja possível irmos retomando atividades fundamentais como são as sessões presenciais de catequese, os encontros de formação e também para decidir e implementar as iniciativas necessárias para a evangelização e animação na Fé das nossas comunidades, assim como o atendimento personalizado dos fiéis pelos seus pastores.
Há dois dias, mais propriamente na Festa de S.José, com uma intervenção direta do Papa Francisco, iniciámos um ano especialmente dedicado à Família, mais propriamente ao esforço comunitário para ajudar as famílias a progredir segundo as indicações dadas na exortação apostólica “A alegria do amor”, publicada há cinco anos, com o resultado de dois sínodos dos Bispos. E sobre isso, rezamos agora ao Senhor para que nos inspire as formas ajustadas de também ajudarmos as nossas famílias a viverem, na sua vida diária, a alegria do amor.
Iniciamos, este domingo, as duas semanas que nos preparam imediatamente para a Festa da Páscoa, incluindo o Tríduo Pascal.
É um tempo especialíssimo que nos convida para concentrarmos a nossa atenção no Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.
Por isso, chamamos a este V Domingo da Quaresma o 1º Domingo da Paixão, como ao próximo, o Domingo de Ramos lhe chamamos o 2º Domingo da Paixão.
Tradicionalmente era costume cobrir as imagens desde o dia de hoje até à Páscoa, para que a nossa atenção e contemplação, sem distrações, se concentrassem no Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.
- Neste 1º Domingo da Paixão, o Evangelista S. João dá-nos o verdadeiro sentido da Cruz de Cristo, como sendo o momento e o lugar por excelência da Sua glorificação.
E essa glorificação, por estranho que pareça à mentalidade dominante, de então e de hoje, está em entregar, fazer doação da Sua vida, até ao fim, para que haja vida nova para todos.
Esta apresentação do sentido da Morte na Cruz é motivada pela curiosidade de alguns, no texto evangélico chamados gregos, portanto, não judeus, que foram ter com dois dos apóstolos e lhes pediram para ver Jesus. Eles foram dizê-lo a Jesus e Jesus diz como é que a Sua Pessoa deve ser vista - Alguém que, vindo para servir, faz do patíbulo da Cruz o seu grande título de glória.
Sendo assim, Jesus começa por dizer que chegou a Sua hora. Tudo leva a crer que este episódio se passou no dia da Sua entrada solene em Jerusalém, entrada essa que nós comemoramos em Domingo de Ramos.
Essa hora é a hora da Cruz, ou seja, aquele último momento em que, pela morte violenta, Jesus leva a seu termo toda uma vida de total entrega a Deus para serviço dos irmãos. Daqui nasce uma Humanidade Nova.
É por essa razão que a Cruz é o verdadeiro trono de glória de Jesus e é por este caminho que Deus O glorifica e assim nos manifesta o autêntico valor da vida humana em cada um de nós. De facto, a vida só é verdadeiramente humana quando nela se realiza a total entrega da pessoa a Deus e aos outros.
O Papa Francisco sobre esta passagem bíblica explica: “Para revelar o sentido da Sua Morte e Ressurreição, Jesus usa a seguinte imagem – a não ser que o grão de trigo caia na terra e morra, permanece sozinho; mas se morrer, produz muito fruto. Ele quer explicar que este Seu ato extremo – a Morte na Cruz – é um ato que dá frutos para muitos. E então o que significa perder a vida, como o grão de trigo? Isso significa pensar menos em si mesmo, nos interesses próprios e mais nas necessidades do próximo, sobretudo daqueles que são os mais pequeninos” (Angelus de 18.3.2018).
De facto e contra as expectativas mais comuns, a Cruz, aparentemente sinal de fracasso e de morte, transforma-se em fonte de vida nova que Jesus oferece a todos. Este é um assunto ao qual vamos voltar, de várias formas, ao longo desta parte final da Quaresma e na celebração da Páscoa.
A Carta aos Hebreus trata o mesmo assunto. Jesus é o Sacerdote único da Nova Aliança prometida pelos profetas, hoje pelo profeta Jeremias. E o único sacrifício que Ele oferece é a entrega da Sua Vida a Deus Pai, em favor dos irmãos.
Por outro lado, faz a ponte, como Sacerdote e Pontífice, entre Deus e a Humanidade, podendo, por isso, oferecer-nos a ajuda certa para conseguirmos a salvação desejada.
- Damos graças a Deus por podermos, de novo, celebrar o Sacramento da Nova Aliança, a Eucaristia, em assembleia, depois de um longo interregno de dois meses.
Lembramos ainda como foi difícil e mesmo penoso vivermos as celebrações da última Páscoa, em rigoroso confinamento; portanto, sem podermos celebrar o Tríduo Pascal em assembleia. Por graça de Deus, este ano será certamente diferente, embora sujeitando-nos a rigorosas cautelas, para não desfazermos o que, com muito esforço, até agora já conseguimos. Preparemo-nos, por isso, desde já, para vivermos intensamente a Semana Santa e sobretudo o Tríduo Pascal.
De facto, estas duas semanas que nos separam da solenidade da Páscoa são um convite muito forte para, por um lado, meditarmos mais intensamente os Mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor; e, por outro, procurarmos renovar a nossa vida pessoal, reforçarmos a vontade da conversão e, assim, podermos, na Vigília Pascal, renovar os nossos compromissos de batizados.
Neste ano especialmente dedicado a S. José, quando há dois dias celebrámos a sua Festa anual, procuremos imitar o seu exemplo de homem de Silêncio, de Vigilância e de Contemplação e, com estes sentimentos, viver e celebrar bem os mistérios da Páscoa.
21.3.2021
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda