I Domingo do Advento
28.11.2021
Entramos hoje num novo Ano Litúrgico; ano que é o terceiro de três ciclos. E nele temos a companhia do Evangelista S. Lucas.
O ano que deixamos para trás teve para nós muitas condicionantes e uma das maiores foi a pandemia, que teima em não nos deixar.
Mas, apesar dos muitos contratempos, foi um ano de oportunidades de salvação que o Senhor nos ofereceu para crescermos na Fé e exercermos a responsabilidade da missão evangelizadora que nos está confiada. Por isso, este é também o tempo para nos avaliarmos sobre a forma como aproveitámos ou não, aproveitámos mais ou aproveitámos menos as oportunidades de salvação, de progresso na Fé e do exercício da responsabilidade evangelizadora que este ano nos trouxe.
E é diante do Senhor que queremos fazê-lo; Ele que está sempre à nossa frente, indicando-nos os caminhos que devemos percorrer. Isto, apesar do silêncio de Deus que tanto se faz sentir à nossa volta; apesar do apagamento dos Seus sinais, quantas vezes de forma deliberada, na vida social e cultural, nos ambientes diários que frequentamos.
Ora, este apagamento dos sinais de Deus, na tentativa de O retirar da visibilidade nos espaços públicos para o silêncio das consciências ou, pior ainda, para a insignificância do sentir individualista de cada um, não está a ser um bom serviço prestado à sociedade. Daí que também o nosso propósito para este Ano Litúrgico seja o procurar dar a Deus a visibilidade que lhe pertence nas nossas vidas pessoais e comunitárias, nos ambiente sociais que frequentamos.
A visita apostólica do Papa Francisco à Grécia e ao Chipre, que começa na próxima quinta-feira, dia dois de dezembro, pretende chamar a atenção principalmente da Europa para os sinais da presença de Deus nas fontes da sua história e identidade.
Portanto, nós queremos viver o novo Ano Litúrgico com o firme propósito de colocar Deus sempre à nossa frente, deixando que a Sua luz nos ilumine e nos aponte os caminhos que são os nossos verdadeiros caminhos e queremos seguir até ao fim.
E vamos cumprir este propósito, procurando envolver-nos o mais possível na caminhada sinodal que temos em curso por toda a nossa Diocese.
Com ela queremos aprender a escutar-nos uns aos outros, sempre com muita humildade e paciência, mas principalmente queremos escutar a Deus, o Senhor que constantemente nos fala e nos interpela através dos Seus sinais, que vai distribuindo ao longo da história, dentro da Igreja e fora dela.
Por isso, em caminhada sinodal somos chamados a identificar e interpretar esses sinais, num processo de discernimento, em que, através da oração, da reflexão, do diálogo persistente, vamos deixando que a luz de Deus desfaça as muitas incertezas que preenchem a nossa vida pessoal, a vida da Igreja e da sociedade, assim como os processos da própria natureza que nos envolve.
Este discernimento é fundamental, e urge que cada um de nós o faça para si mesmo, à luz de Deus e da Sua Palavra; como é importante que cada uma das nossas comunidades igualmente o faça, em diálogo persistente, com participação dos fiéis em geral e o empenho particular dos seus pastores.
Cada vez sentimos mais que o serviço da autoridade só resulta se o soubermos inserir bem em processos de discernimento comunitário aberto a todos.
Claro que as nossas decisões pessoais e também comunitárias têm de estar sempre focadas no alvo da missão evangelizadora que nos está confiada.
Sentimos é certo o peso das muitas dificuldades que o mundo de hoje coloca à obra da evangelização. Não queremos ignorá-las, mas colocamos acima delas a esperança que nos vem de Jesus Cristo e da Sua Palavra.
Ora, o Evangelho de hoje apresenta-nos Jesus em diálogo com os seus discípulos precisamente sobre a esperança, que resiste a todas as instabilidades, incluindo o desabamento das estruturas fundamentais da vida em sociedade. Jesus é claro para os discípulos e, por isso, lhes fala em angústia entre as nações , porque as forças terrestres serão abaladas e haverá homens a morrer de pavor. Mas acima de todas as instabilidades e pavores está o Filho do Homem que vem sobre as nuvens com grande poder e glória.
Quando acontecerá tudo isto sabemos que Jesus não o revelou, mas fez importantes recomendações, plenas de atualidade, como as seguintes – não suceda que os vossos corações se tornem pesados pelo intemperança e preocupações da vida e esse dia vos surpreenda. Daí a recomendação insistente – vigiai e orai em todo o tempo para poderdes comparecer diante do Filho do Homem.
Ora, a vigilância e a oração são duas grandes recomendações que nos acompanham particularmente no tempo do Advento que hoje iniciamos. E essa vigilância é a vigilância sobre nós próprios, para acertarmos constantemente o passo com Jesus; vigilância sobre a Igreja e sobre o mundo para identificarmos os sinais de Deus; vigilância sobre a passagem do mesmo Deus pela nossa vida, não suceda que Ele nos bata à porta e passe adiante, porque nós não lha abrimos, como lembra o Apocalipse.
S. Paulo lembra-nos hoje, na Carta aos Tessalonicenses, que viver é fazer caminho rumo à santidade irrepreensível diante de Deus; e temos de nos saber avaliar sobre se estamos ou não a progredir nessa direção.
Anima-nos a certeza de que, apesar dos muitos problemas e dificuldades que nos afetam, afetam a Igreja e o mundo e também a nossa Diocese, no conjuntos das suas instituições e serviços, continua a brilhar à nossa frente a esperança na cidade nova, a que o profeta dá o nome de “O Senhor é a nossa Justiça”.
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda