III Domingo do Advento

III DOMINGO DO ADVENTO

12.12.2021

 

Homilia

 

Acendemos hoje a terceira vela, neste III Domingo do Advento.

Um domingo marcado pela tónica da alegria; por isso, é tradicionalmente chamado o Domingo “Gaudete”.

É uma alegria que nos chega já a partir do Presépio de Belém, dada a proximidade da celebração do Natal.

Esta alegria tem uma única fonte – o Senhor que está no meio de nós; e manifesta-se principalmente no facto de que é uma alegria sempre preocupada com o bem dos outros; portanto, só verdadeira na medida em que procura criar condições de alegria e bem estar para todos.

Voltamos a ter presente neste III Domingo a figura central do Advento que é João Baptista, o Precursor, porque vem preparar a chegada do Salvador.

 

A Palavra de Deus orienta-nos hoje para essa verdadeira alegria que tem a sua fonte no mesmo Deus.

Assim, o Profeta Sofonias convida todo o Povo a alegrar-se, porque o Senhor está presente  no meio dele; esse Senhor que vem revogar a sentença de condenação que pendia sobre todos. E acrescenta que também o próprio Deus sente alegria pelo Povo, certamente por verificar a sua fidelidade à Aliança.

 

O mesmo convite para a alegria vem-nos hoje do Apóstolo Paulo, com palavras muito marcantes como estas dirigidas aos Filipenses – “Alegrai-vos sempre no Senhor, novamente vos digo, alegrai-vos”. A razão é a mesma, porque o Senhor está próximo. Por isso, devemos dirigir-lhe a nossa insistente oração, seja de súplica, seja de ação de Graças.

 

O teste à verdadeira alegria está na vida renovada segundo o Espírito de Deus e nos comportamentos a condizer.

Para essa renovação aponta-nos hoje João Baptista. As multidões acorrem para o ouvir e para receber o seu Baptismo de Penitência. E  espontaneamente perguntam-lhe – que havemos de fazer? Semelhante pergunta fazem os publicanos, cobradores de impostos e por isso considerados pecadores públicos. E a seguir vêm os soldados. As respostas apontam em geral caminhos de partilha, de justiça e de responsabilidade no trabalho para merecer a justa retribuição.

 

Mas mais importante do que as respostas situadas na vida das pessoas que fizeram as perguntas é o apontar de João para o Salvador que está para vir, Aquele onde reside a fonte de toda a alegria e todo o bem.
Seria fácil para João Baptista convencer as pessoas de que afinal o Salvador era ele próprio, tal era o entusiasmo gerado à sua volta, mas ele não cede a essa tentação da popularidade ou do populismo.

Pelo contrário, reconhecendo, embora, a importância do Baptismo de Penitência que ia distribuindo pelas pessoas que o procuravam, aponta para a Pessoa do Messias que estava para chegar, o qual vai trazer um novo Baptismo, Batismo no Espírito e no fogo. O Messias vem para renovar todas as coisas por esse novo Baptismo; vem limpar, joeirar tudo o que precisa de ser purgado na vida das pessoas, a fim de apurar somente o verdadeiro trigo que há-de encher os celeiros e dar sustento às pessoas, enquanto a palha é lançada ao fogo.

 

Este é o tempo favorável para prepararmos a vinda do Salvador, em mais um Natal.

Também nós perguntamos o que havemos de fazer para que este Natal seja verdadeiro encontro com o Salvador Jesus Cristo. E a resposta continua a ser substancialmente a mesma, a saber, que o espírito de partilha, sendo uma das notas mais identificativas do Natal, seja aceite por todos nós e por ele orientemos bem as nossas vidas.

Também o Menino de Belém repartiu connosco tudo o que era e o que tinha. O episódio da manjedoira é a expressão acabada dessa partilha.

Mas igualmente é resposta à interpelação do Natal cumprir as leis, na medida em que elas protegem valores importantes para a vida das pessoas, em particular colocando o bem de todos acima dos interesses individuais de pessoas ou mesmo de grupos.

Continua com plena atualidade a recomendação feita aos soldados de um trabalho responsável para garantir direito a salário digno, que permita condições de vida equilibrada para as famílias.

 

O Tempo do Advento e depois o do Natal são especialmente propícios e convidativos para revermos as nossas condições de vida pessoal e comunitária; sobretudo para nos interrogarmos sobre o que podemos fazer para criar melhores condições de vida em sociedade, à luz da mensagem de Belém.

É verdade que precisamos de condições de vida materiais; mas o Natal lembra-nos que há outras  ainda mais necessárias e importantes que têm a ver com as relações – relações de qualidade de cada um de nós com os outros e com Deus. Não pode haver Natal quando estas relações são esquecidas ou simplesmente secundarizadas.

Por isso, questionamos o Natal apenas centrado nos bens de consumo. O Papa chama-lhe Natal “fake” e consumista, portanto falso.

 

Desde já desejamos que a preparação próxima do Natal, sobretudo durante a novena que começa no próximo dia 17, seja por todos nós vivida de olhos postos no exemplo do Menino de Belém.

 

12.12.2021

 

+Manuel R. Felício, B. da Guarda