19.12.2021
IV Domingo do Advento
Celebramos o IV Domingo do Advento.
E mais uma vez nos aparece no centro a figura do Advento por excelência que é a Mãe de Jesus.
No Natal comemoramos o nascimento de Jesus e nele a vinda de Deus ao nosso encontro, ao encontro de toda a Humanidade para lhe abrir caminhos novos de vida com verdadeira esperança.
É certo que o Natal continua a ser instrumentalizado, de várias maneiras, para fins comerciais e de consumismo, como se o bem estar material pudesse ser tudo na vida das pessoas.
Todavia, o verdadeiro Natal vem dizer-nos que isso não é verdade. Cada um de nós leva dentro de si uma exigência de eternidade a que o mundo material não pode responder.
Felizmente que a comemoração do acontecimento de Belém lembra importantes valores que respondem ao desejo de viver com dignidade presente no coração de todos os seres humanos.
É o caso da família e das relações familiares. Incluímos aqui também a especial atenção aos pobres e em geral aos que passam por especiais necessidades; e bem assim a preocupação com os mais abandonados, porque vivem sós, sem família ou com a família ausente. A solidão continua a persistir nos nossos meios, onde é significativo o número de pessoas que vivem sós. É também o caso dos doentes, aos quais sempre é devida atenção especial quer dos profissionais de saúde, quer das famílias, mas também dos amigos e dos que lhes estão mais próximos.
Perante todos os que precisam a mensagem do Natal alerta-nos contra a tentação da indiferença. Temos a obrigação de cuidar bem uns dos outros e aceitar os sacrifícios necessários para que ninguém se sinta abandonado, sobretudo nas situações de maior sofrimento por que possa estar a passar. Como nos lembra, de forma recorrente, o Papa Francisco, temos de saber promover a cultura do cuidado.
Ai de nós se não cuidarmos bem uns dos outros. Só assim poderemos progredir em direção aos novos céus e nova terra, que esse Menino de Belém veio inaugurar.
A Palavra de Deus hoje proclamada começa por nos falar de Belém e daquele Menino que lá nasceu para bem de toda a Humanidade, conforme a profecia de Miqueias. Esse Menino nasceu de sua mãe, como acontece com todos os meninos, mas é portador de uma missão especial, a de apascentar bem todo o Povo, em nome de Deus. Ele vem para responder ao desejo de paz e de segurança que habita o coração de todos os seres humanos. Ele mesmo é a paz, como sublinha a leitura bíblica de Miqueias.
Desde o momento da Anunciação que Maria não pôde ficar parada, mas, impelida pelo Menino que passou a levar consigo, partiu de imediato e apressadamente, subindo as montanhas da Judeia ao encontro de sua prima Santa Isabel. E esta, também agraciada por Deus, em idade avançada, com o dom de um filho - S. João Baptista, e já era o sexto mês - reagiu à chegada daquele outro Menino com uma saudação espontânea e cheia de significado dirigida à Mãe venturosa que a vinha visitar.
“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. Esta saudação faz hoje parte da Avé Maria, que nós recitamos diariamente. E fica completa com o reconhecimento de que ela é bem-aventurada, porque “soube acreditar em quanto lhe foi dito da parte do Senhor”.
A Fé da Mãe do Salvador e a sua entrega incondicional nas mãos de Deus são modelo para todos nós que a celebração do Natal nos há-de ajudar a pôr em prática.
É o Mistério do Verbo de Deus encarnado que celebramos em mais este Natal. E nesse Mistério cumpre-se a plenitude do verdadeiro culto devido a Deus que vem substituir o culto antigo. Este dependia dos muitos sacrifícios oferecidos segundo a antiga lei. O novo culto é simplesmente cumprir a vontade de Deus nas nossas vidas. Essa é a mensagem que nos deixa o Verbo de Deus, quando, diante do Pai, lhe diz – “Eis-me aqui, Eu venho para fazer a tua vontade”.
E o autor da carta aos Hebreus conclui que, assim, é abolido o antigo culto feito de muitos sacrifícios para passar a vigorar apenas o novo culto, que se cumpre com o único Sacrifício de Cristo – a oblação do seu corpo feita de uma vez por todas.
Desejamos, neste IV e último Domingo do Advento, quando preparamos imediatamente a celebração do Natal do Senhor, fazer uma prece muito especial para que este Natal seja, de verdade, encontro com Cristo, presente naquele Menino da Manjedoira.
Mas também seja Natal de encontros e reencontros entre nós, particularmente no seio das nossas famílias, nas relações sociais e sobretudo na vida das nossas comunidades cristãs.
Estamos empenhados em responder ao convite feito a toda a Igreja para fazer experiência de caminhada sinodal. Para dar a devida resposta a este convite olhemos para o Menino de Belém, no qual o próprio Deus vem ao nosso encontro, esperando de todos nós que lhe saibamos retribuir no desejo de nos encontrarmos com Ele e n´Ele com todos aqueles que fazem connosco a viagem da vida.
Todo o verdadeiro encontro pede escuta do outro e disponibilidade de todos para poderem intervir ativamente na procura dos caminhos mais ajustados ao bem de todos. É isto também o que pede a caminhada sinodal.
Diante do Presépio, sentimos que as nossas vidas não podem ser vidas de costas voltadas uns contra os outros, nem podem ser apenas coexistência pacífica. Têm de ser principalmente partilha entusiasmada de projetos com sentido e empenho de todos para a máxima cooperação em projetos válidos, dando assim cumprimento àquela comunhão para que todos estamos vocacionados; comunhão essa que o Menino de Belém anuncia e pela qual deu a sua vida.
19.12.2021
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda