17 anos de episcopado na diocese da Guarda

17 anos de episcopado na diocese da Guarda

 

Cumpro hoje mais um ano de ligação à amada Diocese da Guarda, no exercício do Ministério Episcopal. Foi o 17º e entro no 18º.

Proponho-me agora, diante de Deus e da Diocese, fazer balanço do que foi este meu último ano de Ministério Episcopal.

Como aconteceu já no ano anterior, a pandemia continuou a impor-nos muitas restrições e constrangimentos.

Felizmente que já nos foi permitido celebrar a Páscoa sem as limitações do ano anterior. As celebrações dominicais realizaram-se com mais normalidade e as sessões de catequese, embora algumas vezes ainda com recurso obrigatório ao ensino à distância, através de meios telemáticos, também estiveram de regresso. O mesmo aconteceu com as celebrações fúnebres, sempre muito marcantes para a sensibilidade das pessoas, agora já com possibilidade de Missa Exequial de corpo presente, embora exigindo muitas cautelas, sobretudo nos velórios.

Tendo em conta a evolução da pandemia, fomos dando orientações pontuais, sempre em sintonia com a Conferência Episcopal e dialogadas com as autoridades de saúde.

Não consta que nas nossas celebrações, sobretudo dominicais, tenha havido surtos graves de contágios infeciosos. O mesmo não podemos dizer dos lares, onde houve alguns casos, quase sempre bem remediados, apesar das dificuldades impostas pela conjuntura. Estamos em condições de dizer que só a exemplar dedicação dos responsáveis, sempre ou quase sempre em regime de trabalho “pro bono”, conseguiu evitar o pior.

 

Várias das iniciativas agendadas do nosso programa pastoral diocesano não puderam realizar-se, pelo que as retomamos no ano corrente, nomeada­men­te o acompanhamento das famílias,  sobretudo as mais vulne­rá­veis ou sofredoras e os jovens.

No que se refere às famílias, temos consciência da necessidade urgente de fazer o devido acompanhamento de cada uma delas, sobretudo para ajudar a superar situações de fragilidade e especial sofrimento. Esse foi o objeto de uma carta que enviei a cada um dos nossos sacerdotes, com data do primeiro dia deste ano.

No que se refere à pastoral do acompanhamento e formação dos jovens, temos no horizonte a Jornada Mundial da Juventude marcada para se realizar em Portugal no mês de agosto de 2023 e a sua preparação, mas procuramos também promover uma nova sensibilidade e empenho pela organização de uma pastoral juvenil sustentada, através de toda a Diocese.

 

Tenho de reconhecer dificuldades na aplicação dos dois decretos sobre a reorganização pastoral da Diocese publicados em 2020, para dar cumprimento às recomendações da nossa Assembleia Diocesana de 2017. Um versou sobre os novos arciprestados, que passaram de quinze para sete e o outro sobre os serviços diocesanos de pastoral.

No que aos arciprestados diz respeito, durante o ano de 2021,  foi nomeado o Arcipreste de cada um deles e eleito o Delegado ao Conselho Presbiteral. Não foi possível, pelo menos em todos eles, constituir o respetivo Conselho Pastoral Arciprestal e a partir dele eleger os dois delegados ao Conselho Pastoral Diocesano,  como prevê o regulamento.

Também nos conjuntos de paróquias que devem evoluir para serem unidades pastorais, se deram alguns passos, mas ainda não todos os desejáveis.

Segundo as normas regulamentares que temos, um conjunto de paróquias só pode considerar-se unidade pastoral, quando, para além de um coordenador, que é o Pároco, tiver, pelo menos:

- Conselho Pastoral da Unidade Pastoral;

- Cartório paroquial comum;

- Centro Pastoral para formação na Fé e encontros necessários para motivar a vida comunitária e promover um programa pastoral comum;

- Quanto possível, um órgão informativo também comum.

Dar passos nesta direção é o esforço que se pede aos Párocos que têm a seu cuidado conjuntos de paróquias.

Para além disso, continuamos a precisar de motivar as diferentes paróquias para crescerem na mentalidade e na experiência positiva da comunhão entre si. De facto, a pandemia veio reforçar a certeza de que, assim como cada pessoa sozinha não consegue garantir as necessárias condições de sustentabilidade para si mesma, o mesmo acontece com as diferentes comunidades paroquiais. Pelo menos em sua grande parte, elas sozinhas são insustentáveis; pelo que a comunhão entre as pessoas, de facto, exige a comunhão entre as comunidades, objetivo que estamos longe de ter conseguido.

 

Também na constituição dos diferentes serviços diocesanos previstos no respetivo decreto, temos pela frente caminho a percorrer, tanto na nomeação das equipas, como também no que se refere ao seu funcionamento devidamente ajustado às necessidades que existem no terreno.

Os serviços da Liturgia, da Catequese e Formação Cristã e os da Caridade são, de facto, estruturantes para a vida das nossas comunidades.  Mas não podemos deixar de ter na devida atenção a defesa e aproveitamento do nosso património, sobretudo de arte sacra, mas também os serviços de comunicação, assim como o acompanhamento das famílias e a pastoral da saúde.

 

Para cuidar estes e outros aspetos da vida da Igreja precisamos de vários ministérios.

E o primeiro deles é o Ministério Sacerdotal. Posso dizer que, ao longo deste ano, houve esforço para estar próximo de cada um dos nossos padres, oferecendo-lhes as necessárias oportunidades de formação teológica, pastoral e espiritual ajustadas ao serviço que nos é pedido, com iniciativas e tempos definidos  e calendarizados. Renovámos, com novos membros, o Conselho Presbiteral,  nomeado para três nos.


Durante o ano de 2021, houve dois dos nossos sacerdotes que iniciaram formação universitária complementar e um outro que a continua.
Tivemos, por graça de Deus, a ordenação de dois diáconos que, se Deus quiser, serão ordenados sacerdotes no final deste ano pastoral.

Um dos nossos padres completou, durante o ano de 2021, o seu centenário e um outro foi chamado pelo Senhor, quando lhe faltavam escassos meses para atingir os 100 anos.

 

Quisemos acompanhar com a formação e a orientação pastoral necessárias também os 21 diáconos permanentes que temos. Mercê de vários fatores, a que a pandemia não foi alheia,  reconhecemos não ter sido possível criar todas as condições que lhes são devidas para o exercício do Ministério, incluindo a formação espiritual mais recomendável para eles e suas famílias.

 

Também outros ministérios e serviços, de que destacamos os Ministros Extraordinários da Comunhão, os Coordenadores das Assembleias Dominicais na Ausência do Presbítero, os Acólitos e os Leitores, bem como os Catequistas, estiveram dentro das nossas preocupações.

No que diz respeito aos Catequistas, um serviço com larga implantação e importância determinante nas nossas comunida­des e que agora passa a ter possibilidade de ser um ministério instituído, por vontade expressa do Papa Francisco, fizemos esforço por aplicar as orientações da tutela da Conferência Episcopal Portuguesa, nomeadamente quanto aos novos programas de formação de catequistas e das sessões de catequese propriamente ditas.

 

Algumas das iniciativas desenvolvidas durante o ano merecem ser sublinhadas, como as seguintes:

 

- Diálogo com as autoridades autárquicas, sobre a preparação da JMJ-2023, servindo de exemplo a assinatura de um protocolo de cooperação entre a Diocese e a Câmara de Almeida, com vista a promover o melhor acolhimento dos jovens com destino à JMJ que entrarão em Portugal pela fronteira de Vilar Formoso;

 

- O acordo de cooperação entre o Arquivo Diocesano e o Arquivo Distrital da Guarda para tratamento e melhor fruição do espólio existente na Diocese;

 

- A cooperação da CIMBSE (Comunidade intermunicipal Beiras e Serra da Estrela) com a Diocese da Guarda sobre a melhor utilização da que foi a antiga Igreja do Seminário para apresentação da rede diocesana de património afeto ao culto;

 

- Foi apresentado, em Gouveia, o Congresso Internacional sobre a Bíblia na Cultura Ocidental para se realizar logo que a pandemia o autorize;

 

- Depois de vários esforços feitos ao longo dos últimos anos, deu-se início, a partir da Paróquia de S. Miguel da Estação da Guarda, à realização também entre nós do Curso Alfa,  que é uma proposta de primeira evangelização  dirigida a pessoas mais afastadas da vivência da Fé.  

                                                               

-Em outubro, abrimos na Diocese a caminhada sinodal, em resposta ao convite feito pelo Papa Francisco. Foi apresentada a Comissão Sinodal Diocesana e, depois disso, procurou-se que haja em cada Arciprestado a Comissão Sinodal Arciprestal.

Temos esperança nos melhores resultados desta iniciativa, que pretende colocar-nos à escuta uns dos outros e, ainda antes, à escuta do próprio Deus, com vista a podermos fazer o melhor discernimento para a tomada de decisões, tanto na nossa vida pessoal como na das nossas comunidades.

 

E agora vejo pela frente importantes desafios pastorais que se colocam a todos nós. Enumero seis:

 

1.Impõe-se fortalecer a comunhão no nosso Presbitério para que seja cada vez mais uma fraternidade sacerdotal, como nos é recomendado. E, a propósito, devo reconhecer que não temos ainda uma casa sacerdotal diocesana, com as necessárias condições para acolher bem os sacerdotes que se deram por inteiro à vida da Diocese. Mas estou confiante em que a vamos criar.

 

2.Precisamos de esforços mais bem conjugados para a promoção das vocações sacerdotais, fazendo apelo à boa tradição existente na nossa Diocese, que ainda hoje tem sacerdotes daqui originários e espalhados por várias outras Dioceses e Congregações Religiosas.

 

3.Conjuntamente com as outras três Dioceses envolvidas, precisamos de repensar o modelo de Seminário Maior Interdioceano que temos, sobretudo para reforçar a sua proximidade ao Presbitério e à Diocese, sem prejuizo da formação.

 

4. Impõe-se apostar cada vez mais na formação e na comunhão entre todos os ministérios e serviços, procurando que sejam bem coordenados pelos sacerdotes e diáconos, pois daí depende, em grande medida, a desejada comunhão para toda a Diocese.

 

5.É preciso fortalecer a relação entre a Cúria e as paróquias, o que pede a informatização da Cúria Diocesana, que ainda não temos, em articulação com as paróquias e outros serviços.

 

6. Tendo em conta a especial responsabilidade dos centros urbanos, é preciso cuidar melhor a “Pastoral de Cidade”, articulando o melhor possível quer as distintas iniciativas dentro de cada aglomerado urbano, quer a sua relação com a realidade envolvente, sabendo nós que à cidade vai e da cidade vem tanto o melhor como o pior.

 

Finalmente desejo dizer que estes desafios não os coloco só a mim mesmo, mas também ao Bispo que me há-de suceder. Por determinação do Direito Canónico, até 6 de novembro próximo, apresento ao Santo Padre o pedido formal de dispensa das responsabilidades de Bispo Diocesano.

E desde já rezo por aquele que me há-se suceder, no Ministério Episcopal; e o mesmo peço a toda a Diocese. E sugiro desde já que, depois de haver diálogo o mais abrangente possível, na Diocese, através do Conselho Presbiteral, se façam chegar ao Núncio Apostólico, representante do Santo Padre em Portugal, indicadores sobre o perfil do novo Bispo. Este vai ser certamente um grande momento de bênção para todos nós.

Desde já entrego à Providência de Deus e à proteção maternal de Maria Santíssima, aqui invocada com o título de Senhora da Assunção, os destinos da nossa querida Diocese da Guarda.

 

Sé da Guarda, 16 de janeiro de 2022

 

+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda