Celebração das Ordenações Sacerdotais

Celebração das Ordenações Sacerdotais

Sé da Guarda, 3 de julho de 2022

Celebração das Ordenações Sacerdotais

 

1.Alegremo-nos com a Palavra de Deus que hoje nos convida à alegria, porque o próprio Deus vem confortar os seus filhos, na nova Jerusalém.

Para nós cristãos esta alegria brota da configuração com Cristo pelo Baptismo, da qual S. Paulo conclui – longe de mim gloriar-me a não ser na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.

 

Tiago e Fábio, hoje ides receber o dom de Deus, pela imposição das minhas mãos e dos outros Sacerdotes concelebrantes para serviço de todo o Povo Santo de Deus. Por isso,  a vossa alegria há-de ser sempre a alegria do Evangelho, da qual somos arautos por mandato do próprio Cristo.

O mesmo mandato recebem os 72 discípulos, enviados em missão, dois a dois.

Jesus não lhes escondeu as asperezas do caminho, pois os avisou de que eram enviados como cordeiros para o meio de lobos, sem bolsa, sem sandálias e sem alforge. Mas a Providência divina encarregou-se de lhes garantir sempre o necessário , incluindo o direito do trabalhador ao seu salário.

Todavia, mais do que os bons resultados conseguidos, fonte de legítimo contentamento, reconhecido pelo próprio Jesus, o que conta verdadeiramente é que os seus nomes ficam escritos no céu, como refere o Evangelho.

 

De facto, o Evangelho de hoje não nos esconde a dureza da missão, porque a seara é grande e os trabalhadores são poucos. Mas também apresenta a solução, que  é pedir ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara.

Nós sentimos a alegria de responder ao convite deste Senhor para trabalhar na sua seara. E queremos arder no desejo de levar esse convite a outras pessoas para que se entusiasmem a dar as suas vidas pela mesma causa. Daqui nos vem o forte apelo para revigorarmos a proposta das vocações sacerdotais e de especial consagração; pois, sem sacerdotes a Igreja não pode viver e sem as outras vocações de especial consagração também teria muitas dificuldades para levar a bom termo a missão que o Fundador lhe confiou.

 

 

2.Estimados candidatos à Ordenação sacerdotal, Tiago e Fábio, hoje recebereis uma nova configuração com Cristo que renova e aprofunda a configuração baptismal, desenvolvida no sacramento da Confirmação e alimentada no Pão da Eucaristia. A nova configuração que hoje recebeis é configuração com Cristo Cabeça e Pastor do seu Povo.

Por ela ficais especialmente habilitados para o exercício do Ministério da Palavra, para celebrar os Mistérios da Fé, a começar pela Eucaristia e passando pelo Sacramento da Reconciliação.

Também ides assumir o especial encargo e a responsabilidade de apresentar a Deus as grandes necessidades e preocupações do Seu Povo Santo, que vos vai estar confiado; isto na vossa oração e particularmente na celebração da Liturgia das Horas.

Assim vos haveis de unir cada vez mais a Cristo, Sumo Sacerdote que por nós se ofereceu ao Pai como vítima santa; e como Sacerdotes de Cristo vos consagrareis a Deus em favor da salvação dos homens e mulheres do nosso tempo.

 

Está aqui o essencial dos compromissos sacerdotais, que, dentro de momentos, ides assumir diante de mim, diante do Presbitério e de todo o Povo de Deus representado nesta bela assembleia celebrante.

 

 

3. Tiago e Fábio, o dia de hoje é dia de especial acção de graças, porque, com a Ordenação Sacerdotal, vós sois novo presente de Deus ao nosso Presbitério e à nossa Diocese.

Por isso, contamos convosco para juntos podermos abrir os caminhos certos e os mais ajustados à vida dos nossos fiéis e das nossas comunidades e para, ao mesmo tempo, conjuntamente podermos dar a devida resposta às grandes interpelações que o mundo de hoje nos faz.

 

A configuração especial com Cristo Sacerdote e Pastor do seu Povo que hoje recebeis pela Ordenação Sacerdotal é um processo que nunca ficará completo ao longo de toda a vossa vida. Por isso, impõe-se que cuideis sempre e bem a vossa formação, a pessoal e da vida em Presbitério, para que a missão seja devidamente cumprida. De facto, e nunca é demais lembrá-lo, o tempo que dedicarmos à formação, a começar pela formação espiritual, mas também doutrinal e pastoral, será sempre uma mais valia para nós e igualmente para as comunidades que temos de servir.

E é bom registarmos na nossa memória que o serviço sacerdotal e portanto o vosso a partir de hoje, nunca pode ser prestado a título individual, mas sempre em Presbitério, com critérios comuns devidamente identificados e assumidos por todos os sacerdotes e também no desejo de nos ajudarmos mutuamente, sobretudo quando as dificuldades nos baterem à porta.

Como sabemos, as modalidades de vida em Presbitério, dentro da recomendação conciliar para a fraternidade sacramental entre os presbíteros, são muitas e variadas. Elas vão desde a vida em comum até á nomeação conjunta pra serviços pastorais determinados, passando pelo empenho permanente na cooperação  e na afinação de critérios sobre matérias fundamentais.

O certo é que esta fraternidade sacerdotal que nos é tão insistentemente recomendada temos de a fazer crescer todos os dias, sempre com a preocupação de vigiarmos sobre todas as suas ameaças.

 

O serviço que nos é pedido a nós Sacerdotes, nas circunstâncias atuais da Igreja e do mundo, é especialmente exigente. E para o exercermos convenientemente, temos que saber superar os muitos obstáculos que nos vêm uns de nós mesmos, outros do mundo que nos rodeia e outros ainda das relações mais comuns, mesmo entre nós sacerdotes que somos chamados a viver em Presbitério.

 

 

4.Mas todas as dificuldade serão superadas na medida em que viverdes o Ministério de olhos postos naquele modelo de serviço que o próprio Deus prestou e continua a prestar ao seu Povo.

O serviço de Deus ao seu Povo tem traços bem definidos que também vós sois chamados a seguir, a partir de hoje.

 E primeiro é a proximidade, e acrescentamos-lhe a compaixão e a ternura.

Ora, quando falamos em proximidade, pensamos em quatro proximidades.

Proximidade a Deus, na oração - a litúrgica e a outra.

Proximidade ao Bispo, na medida em que passais a ser, a partir de hoje, os seus  colaboradores mais diretos, com a obrigação de assumir com ele a responsabilidade de programar e conduzir a Diocese.

Proximidade a todos os sacerdotes, particularmente aqueles que constituem o nosso Presbitério. Por isso vos lembro, neste ato tão solene da vossa Ordenação sacerdotal, que é a hora de fazerdes o seguinte propósito – nunca falar mal de um irmão sacerdote. Se tiverdes algo contra um outro sacerdote, sede homens e ide ter com ele e dizei-lhe na cara o que tendes contra ele. Se não reagir bem, há outros sacerdotes que poderão ajudar e o próprio Bispo. Uma coisa é certa: comunhão entre nós não tem preço e vale todos os sacrifícios.

 

Também e logicamente nunca pode faltar a proximidade do Sacerdote a todo o Povo Santo de Deus. Esse Povo do qual fazem parte todos aqueles que tiveram responsabilidades especiais no nosso caminho rumo ao Sacerdócio. Assim, nunca podemos esquecer de onde viemos, isto é, as nossas famílias, o povo das nossas terras, e quantos  nos introduziram nos caminhos da Fé, nos acompanharam no nosso percurso vocacional, sempre com o objetivo de virmos a servir bem o Povo de Deus presente nas comunidades que nos são confiadas. Não esqueçais nunca que somos sacerdotes servidores do Povo de Deus e não funcionários.

 

A compaixão e a ternura estão igualmente no cerne do pastoreio com que o próprio Deus conduz o seu Povo Santo e são, por isso, vivamente recomendadas a todos os sacerdotes no exercício do Ministério.

Ternura, porque diante dos muitos problemas das nossas gentes não podemos fechar-lhes o coração. Por isso, temos de saber organizar o nosso tempo para acolher, ouvir e acompanhar as pessoas que nos procuram para expor os seus dramas e procurar soluções.

Por sua vez, a compaixão, exercida segundo o coração de Deus, leva ao perdão e à misericórdia, que temos a missão de distribuir em particular no Sacramento da Reconciliação. Nunca esqueceremos que Deus perdoa tudo e sempre. Nós é que nos cansamos de pedir perdão e muitas vezes cedemos à tentação de não perdoar.

 

 

5.Tiago e Fábio aconselho-vos a tomar cuidado, porque no caminho do Ministério também há sentidos proibidos. E entre eles estão os caminhos da vaidade, do orgulho e da maledicência ou mesmo da absolutização do dinheiro.

Pelo contrário, no exercício do Ministério somos chamados a abraçar o caminho da humildade e da pobreza, sendo pobres que amam e procuram servir os pobres.

 

Lembrai-vos de que este nosso modo de ser pastor o mundo não o compreende, mas, de facto, é um caminho belo, porque é o caminho do Bom Pastor. E temos também o aviso de S. Paulo – longe de mim gloriar-me a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.

É que Jesus está sempre disposto a carregar com as nossas múltiplas cruzes, que são inevitáveis no exercício do Ministério, para bem do Povo de Deus.

E com ele, a nosso lado, temos também Nossa Senhora, qual boa Mãe, que nos protege e consola em todas a situações, mesmo as mais adversas.

 

Tiago e Fábio, que a vossa vida sacerdotal seja sempre um hino de louvor a Deus e de alegria no serviço dos irmãos.

 

+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda