Festa da Liga dos Servos de Jesus
Homilia
- Celebramos a festa da Liga dos Servos de Jesus, desta vez, já mais libertos dos condicionamentos da pandemia do que aconteceu nos últimos dois anos e quando nos aproximamos da celebração do centenário, em 2024.
Vivemos o momento central da Festa, na Eucaristia solene que estamos a celebrar. Mas são de registar também os tempos de adoração eucarística que se vieram cumprindo desde ontem, como igualmente o nosso olhar sobre a vida da Liga dos Servos de Jesus que terá o seu lugar em sessão prevista para o princípio desta tarde.
Qualquer festa, e também a nossa, há-de ser aproveitada para reconhecer e agradecer o bem realizado, mas também para identificar e corrigir caminhos mal andados ou que podiam ter sido percorridos com melhor resultado; e sobretudo para definir os caminhos do futuro, mais ou menos imediato. E é isso também o que nós queremos desta nossa festa, com a presença dos servos internos e externos, mas também da rede mais alargada dos amigos e colaboradores que se vão identificando com o carisma legado pelo Servo de Deus D. João de Oliveira Matos.
- O Evangelho de hoje interroga-nos sobre a forma como estamos ou não a valorizar e a fazer render os talentos que Deus nos dá.
No Senhor da Parábola que, antes de partir para longe, reúne os seus servos e lhes confia responsabilidades de acordo com os talentos que lhes entregou, nós vemos o Senhor Nosso Deus.
E isto de se ausentar para longe significa que nos confia uma responsabilidade da qual temos a obrigação de nos desempenhar, sem esperar que alguém nos venha substituir, nem mesmo o próprio Deus, que pode tudo, é certo, mas confia em nós, nas nossas capacidades e talentos, até ao fim.
O desempenho dos servos da Parábola, no exercício da responsabilidade que lhes foi cometida, é diversificado, mas está dividido em dois capítulos.
O daqueles que, embora com talentos e condições distintas, trabalham e fazem quanto de si depende para chegar aos melhores resultados; e o daquele servo negligente que, porque mau e preguiçoso, não fez render o pouco que tinha.
Os primeiros são louvados e recompensados pelo Senhor; o último é castigado pela sua negligência.
3. Irmãos e irmãs da Liga dos Servos de Jesus e rede mais alargada dos seus amigos e colaboradores:
O Evangelho de hoje convida cada um de nós a fazer um sério exame de consciência sobre a forma como está a identificar bem os seus talentos pessoais e a colocá-los ao serviço do bem comum e, no nosso caso, ao serviço do carisma da Liga dos Servos de Jesus – procurar que Ele (Jesus) reine, na vida pessoal, familiar, profissional, na vida da nossa sociedade e na vida do mundo.
Interroga-nos também sobre as formas como a Liga dos Servos de Jesus está a usar os seus talentos, as suas potencialidades, para viver o carisma de forma aplicada aos tempos de hoje.
Quando olhamos para a nossa vida pessoal e para a das instituições, neste caso, da Liga dos Servos de Jesus e seus serviços organizados, a tentação é fixarmo-nos sobretudo muito nas fragilidades e insuficiências, que, de facto, são reais.
Mas para além dessas fragilidades, e insuficiências, e acima de tudo, está o próprio Deus que continua a confiar em nós e a lembrar-nos a missão de evangelizar e anunciar o Reino de Deus. Para sermos fiéis ao Evangelho de hoje não podemos fazer como o servo negligente, classificado pelo Senhor de servo mau e preguiçoso.
O exemplo a seguir é o daqueles que trabalharam e colocaram os seus talentos a render, mesmo aceitando correr alguns riscos.
Esse é o caminho que o próprio Senhor continua a indicar-nos, a cada um de nós e à Liga dos Servos de Jesus, que hoje aqui nos congrega em festa.
Em todo este processo de darmos cumprimento à missão que Deus nos confia e particularmente com o encargo de vivermos o carisma que o Servo de Deus D. João de Oliveira Matos nos legou, de forma aplicada aos tempos de hoje, não podemos esquecer a recomendação do Apóstolo Paulo, na I carta aos Coríntios, que também escutámos.
Depois de constatar que, naquela comunidade cristã de Corinto, não havia muitos sábios, nem pessoas com influência social nem outros nascidos em berços de ouro, lembra a todos que as escolhas do próprio Deus são distintas daquelas que o mundo faz. E exemplifica:
Deus escolheu o que é louco aos olhos do mundo para confundir os sábios;
Escolheu o que é fraco para confundir os fortes;
O que é sem valor e mesmo desprezível para desvalorizar o que vale, aos olhos do mundo.
De facto, como lembra o mesmo Apóstolo, é em Cristo Jesus que está toda a nossa força, Ele que é a Sabedoria de Deus, Justiça, Santidade e Redenção.
Sabendo nós que está em Cristo toda a nossa força e sabendo que só em Deus nos podemos gloriar, nem por isso deixamos de ser responsáveis pelo uso e aplicação dos talentos que o mesmo Deus nos entregou para nós fazermos render e também responsáveis pelo desenvolvimento das potencialidade das instituições que nos estão confiadas, como é o caso da Liga dos Servos de Jesus e seus variados serviços.
E neste momento, queremos pedir ao Senhor a sabedoria necessária para fazermos a melhor gestão possível das potencialidades e do património da Liga dos Servos de Jesus para serviço do carisma de que é depositária.
4. Apraz-me, neste momento, registar a criação do Centro de Espiritualidade D. João de Oliveira Matos, ao longo deste ano, sediado neste lugar especialmente simbólico para a Liga dos Servos de Jesus e para a Diocese da Guarda, como é o Outeiro de S. Miguel. A sua criação é também passo importante que quisemos dar no itinerário que nos coloca a caminho da celebração do Centenário da Liga dos Servos de Jesus. Tomámos esta iniciativa, na certeza de que acolher as pessoas, acompanhá-las e motivá-las no seu percurso pessoal ao encontro de Deus, à luz da Sua Palavra, é o melhor serviço que lhes podemos prestar e essa foi também a grande intuição do nosso Fundador, o Servo de Deus D.João de Oliveira Matos. Ao seu Diretor, Rev.do Padre Manuel Igreja Dinis e ao Conselho Coordenador da Liga dos Servos de Jesus, estatutariamente responsáveis pela condução do Centro de Espiritualidade, queremos manifestar todo o nosso apreço.
Lembramos também, nesta data festiva, o nosso compromisso com a preparação do centenário da Liga dos Servos de Jesus.
Esperamos que, até ao final deste ano de 2022, o Conselho coordenador da Liga dos Servos de Jesus, depois de consulta feita a todas as casas das comunidades internas e aos servos externos, faça uma proposta da comissão promotora do Jubileu Centenário, a celebrar em 2024, para que o Bispo Diocesano a aprove e depois seja devidamente publicada.
Queremos também lembrar que continua em agenda o nosso empenho para fazer avançar o processo de Beatificação/Canonização do Servo de Deus Fundador da Liga dos Servos de Jesus, Sr. D.João.
O carisma que ele nos legou é mais do que atual; é um bem para toda a Igreja e em particular para a Diocese da Guarda; e nós precisamos de o viver de forma bem adaptada às atuais circunstâncias da vida da Igreja e da própria sociedade civil.
Continuamos a sentir, como o sentiu o Sr. D. João, que a espiritualidade tem de ser reforçada. E, por isso, ainda bem que avançámos com a criação de um centro de espiritualidade com sede aqui no Outeiro de S. Miguel.
Por sua vez, a formação cristã, a começar pela catequese organizada e bem motivada em todas as comunidades paroquiais, é outro ponto de importância decisiva para o futuro da Fé, que foi também grande intuição do nosso Fundador.
Por sua vez, o instrumento da Liga dos Servos de Jesus, que o Sr. D. João idealizou e fundou, para continuar a vivência do carisma, tem pela frente novos desafios, que passam principalmente pelos ajustamentos que é necessário fazer para responder, por um lado, às novas necessidades da Igreja e da própria Sociedade; e, por outro, às grandes mudanças de mentalidade que repercutem, de imediato, no escasseamento das vocações de especial consagração, mas também abrem a porta a novas possibilidades de compromisso dos leigos e das Famílias.
Damos graças ao Senhor pela Liga dos Servos de Jesus e peçamos-lhe a graça de reforçar a vivência do carisma que nos legou o servo de Deus, Sr. D. João, de forma ajustada às novas circunstâncias da Igreja e da Sociedade.
Que Santa Mónica, cuja memória festiva hoje celebramos, como cuidou da conversão do seu filho Santo Agostinho, interceda por nós para que também nos seja concedida a graça da verdadeira conversão, sabendo, como ela, chorar os nossos pecados, os da Igreja e os pecados do mundo.
Outeiro de S. Miguel, 27.08.2022
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda