Missa de sufrágio pelo Papa Bento XVI

Missa de sufrágio pelo Papa Bento XVI

Missa de sufrágio pelo Papa Bento XVI

5.1.2023

 

Homilia do Bispo da Guarda na Igreja de São Pedro - Guarda

 

Despedimo-nos hoje do Papa Bento XVI, no dia do seu funeral presidido pelo Papa Francisco, em Roma.

A Igreja em Portugal e o nosso País associam-se a este evento, também com o luto nacional decretado, mas sobretudo através da oração de sufrágio, como é o caso na Eucaristia que estamos a celebrar.

 

E nesta celebração Eucarística agradecemos, antes de mais, o grande dom de Deus à Sua Igreja e ao Mundo que foi o Papa Bento XVI. Podemos dizer, com verdade, que foi um Papa de relação simples e pensamento profundo. Foi, de facto, um intelectual e um pensador que procurou sempre equacionar os grandes problemas que se colocam à Igreja, mas também ao Mundo em que nos encontramos.

 

A 1ª Carta de S. João, que hoje lemos, fala-nos do mandamento do amor e da sua centralidade na vida das pessoas e das comunidades. Esta foi também a preocupação central do Papa Bento, nomeadamente com a publicação da encíclica “Deus é amor” (Deus Caritas est).

Também consta que as últimas palavras que ele proferiu, antes de entregar sua vida a Deus, foram estas – “Jesus eu amo-te”.

Não surpreende, por isso, que já com as responsabilidades da Cadeira de S. Pedro, tenha ainda encontrado tempo e energias para publicar mais uma obra sobre Jesus de Nazaré, em três volumes.

O Evangelho de hoje fala-nos da vocação de Natanael, que na lista dos apóstolos aparece com o nome de Bartolomeu. A sua sinceridade e a sua frontalidade ficam bem expressas no Evangelho de hoje e são apreciadas por Jesus.

Também o Papa Bento XVI aparece como alguém de grande sinceridade tanto intelectual como pastoral. E foi certamente a clarividência com que soube ler a vida da Igreja e as novas interpelações que o mundo hoje lhe coloca que o levaram a assumir a coragem de resignar, não para fugir aos problemas, mas para permitir que outro Papa viesse abrir os novos caminhos que as circunstâncias impõem. E, de facto, ao longo dos últimos nove anos, como Papa Emérito, ele continuou a dar o seu melhor contributo, através do silêncio e da oração, no mosteiro contemplativo “Mater Dei”.

 

É muito belo o seu testamento espiritual.

Nele, depois de agradecer a firmeza da Fé de seu pai e a piedade da sua mãe, que muito o marcaram, bem como a companhia da irmã e de um outro irmão sacerdote, agradece ao povo do seu país a herança da Fé e pede aos seus conterrâneos para nunca a abandonarem.

Pede perdão a todos os que porventura tenha de alguma maneira prejudicado. Pede por todos os que lhe estiveram especialmente confiados no serviço da Igreja para que permaneçam firmes na Fé.

Como intelectual e homem do pensamento, considera, neste seu testamento espiritual, a relação entre a Fé e a ciência.

Diz que muitas afirmações pretensamente científicas contra a Fé não passam de interpretações filosóficas ou ideológicas e só aparentemente são ciência. Considera também que a Fé tem de levar a sério os limites das suas afirmações e manter-se sempre no seu espaço, sem invadir o domínio das ciências positivas.

Considerando a história do pensamento teológico, que ele conheceu como ninguém, repassa a grande evolução que houve desde o pensamento liberal, ao existencialista e ao marxista, para concluir que, em todo este percurso, a razoabilidade da Fé sempre se impôs e termina com a afirmação de que, acima de tudo,  o importante é sabermos que Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida e a Igreja, o Seu corpo.

Termina com a súplica seguinte: “Peço humildemente que rezem por mim para que o Senhor me receba na Sua eterna morada, apesar dos meus pecados e imperfeições”.

Este é o resumo do testamento espiritual do Papa Bento XVI que o Vaticano divulgou

E a nós faz-nos bem lembrar estas preocupações do Papa Bento que também precisamos que sejam as nossas.

 

+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda