18 anos de Ministério Episcopal na Guarda

18 anos de Ministério Episcopal na Guarda

À Diocese da Guarda

 

18 anos de Ministério Episcopal na Guarda

 

Hoje, convosco e com toda a nossa Diocese da Guarda, dou graças a Deus por mais um ano de Ministério Episcopal que Ele me concedeu para vosso serviço e que nós procurámos viver, o mais possível, em comunhão de Igreja.

E também reconheço, diante de Deus e de vós, as minhas limitações e faltas, sobretudo as mais graves, na prestação dos serviços inerentes ao Ministério Episcopal, que me está confiado.

Depois de dois anos de paragem, que a pandemia nos impôs, este foi já um ano de alguma retoma. E por isso também damos graças a Deus.

 

Como sabemos, a primeira obrigação do Bispo é colaborar com os seus Padres, e depois, é promover as vocações sacerdotais.

Procurei, por isso, com ajuda da equipa de apoio ao clero, estar próximo de cada um dos nossos Padres, quer nos encontros mais institucionais, sobretudo nas reuniões dos arciprestados, quer em outras iniciativas de formação, espiritualidade e partilha pastoral, aproveitando sobretudo mo­mentos mais significativos.

A motivação espiritual, no início do Advento/Natal e da Quaresma/Tempo Pascal, o convite para participar no Simpósio do Clero realizado, em Fátima, de 31.8 a 3.9, a formação sobre administração paroquial, em fevereiro e maio passados, como igualmente as três sessões do Conselho Presbiteral realizadas durante o ano, foram momentos especialmente significativos do nosso caminhar em Presbitério.

Por sua vez, a celebração da Missa Crismal, com a renovação das promessas sacerdotais e a especial ação de graças pelos sacerdotes que cumpriram datas jubilares e ainda a Jornada Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, anualmente marcada para a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, foram datas de grande significado para a nossa vivência sacerdotal, com os olhos colocados no serviço que queremos prestar a todo o Povo de Deus.

Claro que situações especiais procurei que fossem atendidas em diálogo pessoal, sabendo todos os nossos sacerdotes que o Bispo está sempre pronto para atender cada um e para tomar as iniciativas ajustadas às circunstâncias, mesmo correndo o risco de nem sempre acertar.

Houve algumas iniciativas de acompanhamento dos padres mais jovens, como foi a peregrinação ao mosteiro contemplativo cisterciense, localizado em Palaçoulo, Diocese de Bragança-Miranda.

Não podemos deixar de referir que, este ano, com a investigação, ainda em curso, sobre abusos no seio da Igreja, trouxe a todos nós sacerdotes sofrimento acrescido, que procurámos viver em solidariedade sacerdotal.

A pensar no bem estar material, mas também humano e espiritual dos nossos sacerdotes, houve esforço por revalorizar o serviço das duas instituições que temos na Diocese para lhes dar apoio, a saber, o Instituto “Comunhão e Partilha” e a Fundação Nun´Álva­res. Esta teve renovação dos estatutos, para se ajustarem à sua natureza e fins específicos, e também novos corpos diretivos, de acordo com os estatutos atualizados.

 

Damos graças Deus pelos dois novos sacerdotes que ordenámos, este ano, e pelo diácono também ordenado em vista do Ministério Sacerdotal.

Ordenámos dois sacerdotes, mas despedimo-nos de quatro, que o Senhor entendeu por bem chamar para si.

 

No que respeita às vocações sacerdotais, começo por dizer que nos preo­cu­pou o nosso Seminário Maior Interdiocesano, o qual está neces­sitado de alguma remodelação para responder às legítimas expetativas das quatro dioceses que o promovem. Por indicação do Conselho Presbiteral, nomeámos uma comissão de cinco sacerdotes para acompanhar o processo que visa tornar a formação académica mais ajustada às finalidade espe­cífi­cas do Ministério Sacerdotal e garantir maior proximidade dos semina­ris­tas à Diocese, às Paróquias e ao Presbitério.

Sobre promoção das vocações sacerdotais, precisamos de mais criatividade e mais iniciativas, envolvendo Pré-Seminário, Sacerdotes e Diáconos e os outros agentes pastorais espalhados pelas paróquias, a começar pelos catequis­tas.


Quanto aos nossos diáconos permanentes (são 21), temos pela frente ainda longo caminho a percorrer para conseguirmos a sua devida inserção na pastoral da Diocese, dos seus serviços e comunidades, com o necessário apoio de todo o Presbitério. Estamos agora a pensar num novo grupo de candidatos ao Diaconado Permanente, cujo processo de recrutamento está em curso.

 

O bem pastoral da Diocese pede também que cuidemos as outras vocações de especial consagração, nomeadamente as comunidade religiosas. Ao longo deste ano, fizemos diligências várias para a vinda de mais duas comunidades para a nossa Diocese. Contactámos os responsáveis por duas famílias religiosas, que manifestaram disponibilidade e visitaram dois lugares de possível implantação das novas comunidades. Esperamos que o próximo ano possa abrir a porta à satisfação deste legítimo desejo.

 

Depois de, já em plena pandemia, no ano de 2020, termos promulgado dois decretos que definem os novos arciprestados, um deles e o outro os serviços diocesanos e sua articulação, o ano de 2022 foi o ano da nomeação dos responsáveis de cada um desses serviços e seus respetivos departamentos. Temos agora sete serviços organizados, cada um deles com os seus departamentos, para programarem, dinamizarem e acompanharem os diferentes setores da pastoral da Diocese. Reunimo-los, pela primeira vez, em setembro passado e estão agora a dar passos de consolidação nos respetivos programas, cada um deles voltado para o seu setor pastoral específico e procurando não descurar o conjun­to da vida da Diocese.


O ano de 2022 foi também o ano da renovação do Conselho Pastoral Diocesano, que teve a sua primeira reunião no passado dia 7 deste mês. Como sabemos, se o Conselho Presbiteral é o senado do Bispo, o Conselho Pastoral Diocesano, segundo o direito, tem a missão de ajudar o mesmo Bispo no governo pastoral da Diocese (cânone 511).

 

A preparação da Jornada Mundial da Juventude e a caminhada sinodal foram duas outras grandes preocupações da Diocese, durante o ano que agora se encerra.

No que respeita à Jornada Mundial da Juventude, destaca-se a passagem dos símbolos por toda a Diocese, com a cruz e o ícono das jornadas, durante o mês de março, em plena Quaresma. Houve celebrações e outros eventos em todos os arciprestados e eu próprio pude marcar presença em todos e cada um deles. Momentos fortes foram a receção na nossa Sé, no dia 5 de março, vindos de Castelo Branco, com evento cultural  na Praça Velha e a entrega à Diocese da Viseu, também a partir da Sé, em 3 de abril. Pelo meio, é de registar a passagem pela Torre da Serra da Estrela, que, apesar do tempo agreste, teve participação muito entusiasta, à qual se associou o Bispo Auxiliar de Lisboa e grande dinamizador da JMJ, D. Américo Aguiar.

Estamos agora a motivar os nossos jovens para se inscreverem nas Jornadas e também a pensar e preparar a semana anterior aos eventos de Lisboa, durante a qual a nossa Diocese vai receber centenas de jovens vindos de vários países, antes de rumarem aos acontecimentos da Jornada propriamente dita.

 

Por sua vez, tivemos a Comissão Sinodal Diocesana a dinamizar e a acompanhar o esforço por dar resposta ao convite para a caminhada sinodal na nossa Diocese.

Elaborou e apresentou o relatório da primeira fase desta cami­nhada, em 30 de abril e entregou-o à Conferência Episcopal.

Já depois disso, houve novas solicitações para que também a nossa experiência de caminhada sinodal possa continuar e contribuir para a preparação dos dois sínodos sobre o assunto previstos para 2023 e 2024.

 

Continuámos, este ano, a aposta na Pastoral familiar, com esforço de aproximação e acompanhamento das famílias, sobretudo as mais sofridas, e desejando nós que tenha um ponto alto na Jornada Diocesana da Pastoral da Família programada para o sábado da Oitava da Páscoa.

 

Estas foram algumas das principais  iniciativas que marcaram o ano de 2022.

Destacamos agora mais alguns eventos que tiveram especial visibilidade, como foram os seguintes.

 

1.A apresentação do projeto de novo órgão de tubos para a nossa Sé, no dia 3 de junho. Foi assinado o protocolo de cooperação entre a Diocese da Guarda e a Direção Regional da Cultura do Centro, com o plano de construção e financiamento.

 

2.Em 13 de junho, abriu a ExpoEcclesia, na capela do antigo Seminário e Paço Episcopal, que, para já, acolheu três exposições temporárias e tem, em permanência, uma apresentação audiovisual da história da Diocese e de alguns roteiros da Fé, que pretendem  encaminhar pessoas ao encontro das peças de arte sacra espalhadas pela Diocese.

 

3.Retomámos a peregrinação diocesana anual a Fátima, no final do mês de agosto, depois de uma interrupção de dois anos, devido á pandemia.

 

4.Em setembro passado, o Bispo Diocesano deslocou-se a Roma e estabeleceu contactos com três dicastérios da Cúria Romana sobre a pastoral da Diocese, a saber, a Congregação da Doutrina da Fé, a Congregação dos Bispos e a Congregação para as Causas dos Santos, esta a propósito do processo do Servo de Deus D. João de Oliveira Matos, que passa a ter novo postulador.

 

5.Foi criado o Centro de Espiritualidade “D. João de Oliveira Matos”, com sede no Outeiro de S. Miguel e nomeado o seu Diretor, com o apoio do Conselho Coordenador da Liga dos Servos de Jesus. O decreto episcopal da criação leva a data do 98º aniversário da mesma Liga, já de olhos postos na celebração do seu centenário que terá lugar no ano de 2024.

 

6.Foi publicado decreto sobre a administração paroquial, na sequência da formação e das consultas efetuadas sobre o assunto, durante o ano de 2022.

 

7.Procurámos estar atentos à realidade e aos problemas  que mais tocaram a vida das pessoas das nossas terras, como foi o caso dos incêndios, no pino do verão. Por isso, o Bispo da Diocese deslocou-se, mais do que uma vez, aos locais especialmente afetados, para dialogar com as pessoas e mani­festar-lhes a solidariedade  da Diocese.

 

8.Também as instituições diocesanas estiveram atentas ao drama dos migrantes e refugiados que nos bateram à porta, sobretudo por causa da guerra na Europa. É de registar a parceria da Caritas Diocesana com a Câmara Municipal, no acolhimento a ucranianos.

 

9.Houve renovações na Cúria Diocesana e no Conselho Diocesanos dos Assuntos Económicos, para podermos continuar a cuidar da sustentabili­dade da Diocese e ajudar as distintas instituições diocesanas ou sob tutela da Diocese a cumprirem os seus objetivos estatutários.

 

10.Tivemos, este ano, na Diocese, uma “Cidade Natal” e uma “Aldeia Natal”; e o Bispo Diocesano marcou presença em ambas.

 

11.Houve esforço para valorizar a Capela de Nossa Senhora do Ar, na Torre da Serra da Estrela, que efetivamente é procurada por muitos passantes, com o empenho da Comissão nomeada para o cuidado e valorização deste espaço.

 

12.Reabriu na Diocese, a fazenda da Esperança, em Maçal do Chão (Celorico da Beira), depois de diálogo com os responsáveis pela instituição, que se deslocaram do Brasil.

Agora tem nova equipa liderada por um sacerdote.

Esperamos que venha a ser um bom centro de acolhimento e dinamização espiritual, na vida da Diocese.

 

Olhando em frente, para o futuro, vemos que, na nossa Diocese, há caminhos novos que é preciso abrir e outros que é preciso retomar com redobrado entusiasmo.

Cito os seguintes:

 

1.É preciso dar a devida atenção aos serviços diocesanos, que hão-de cada vez mais constituir o governo central da Diocese e serem, na realidade, motivadores e dinamizadores dos vários setores da pastoral, em todo o conjunto diocesano. Ao falar nestes serviços, referimo-nos à Liturgia, à Catequese e Formação Cristã, à Ação Social e Caritativa, mas também à Pastoral das Famílias, à Missão, que é responsabilidade de todos os batizados, à Cultura e Comunicação, que precisamos de cuidar devidamente, assim como à Escola de Formação, necessária para o conjunto da Diocese e seus ministérios.

 

2.Com o melhor empenho dos Sacerdotes e Diáconos, temos de progredir no caminho para que os atuais conjuntos de paróquias, com eventuais ajusta­mentos, possam vir a constituir as unidades pastorais apon­tadas no nosso projeto de reorganização pastoral da Diocese, segundo os critérios que também já estão definidos. As Unidades Pastorais têm que, de facto, substituir as paróquias, porque muitas destas não têm condições objetivas para continuarem a ser paróquias.

 

3.A partir dos Conselhos Presbiteral e Pastoral Diocesano precisamos de dar passos consistentes para o devido funcionamento dos conselhos pastorais arciprestais e das equipas pastorais dos Párocos.

 

4.É necessário que os sete arciprestados venham a ser verdadeiros pólos de dinami­zação pastoral, procurando replicar os serviços diocesanos, no esforço por organizar os distintos setores da pastoral em seus âmbitos, dando atenção privilegiada à formação dos leigos e para os distintos ministérios.

 

5.Precisamos de dar a devida atenção aos movimentos e obras de apostola­do, que desempenharam sempre função muito importante na pastoral da nossa Diocese e suas comunidades.

A história avança e, por isso, alguns deixaram de ter a relevância que tiveram, em tempos anteriores. Mas temos a obrigação de discernir os que hoje são mais necessários e dar-lhes o devido apoio, seja para serviço da espiritualidade, seja para a missão e a evangelização, seja para intervir nos vários setores da vida social, com a novidade do Evangelho.

 

Tudo isto é responder ao convite de caminhada sinodal que nos continua a ser feito.

 

Finalmente desejo lembrar o pedido que fiz, há precisamente um ano, para todos rezarmos pelo Bispo que me há-de suceder.

Então disse-vos que o ano de 2022 era aquele em que a legislação canónica me recomendava o pedido de dispensa das fun­ções de Bispo da Guarda.

Desejo agora dizer-vos que esse pedido já eu o fiz em outubro de 2019, antecipando-me, assim em três anos, e pelas seguintes razões que me levaram a considerar essa data como um virar de página, na vida da Diocese.

Essas razões são as seguintes:

 

1.Tínhamos realizado a nossa Assembleia Diocesana de Representantes, em 2017, que também pretendeu replicar o último Sínodo Diocesano realizado em 1949, na qual foram votadas e aprovadas várias proposições para orientar a vida pastoral da Diocese, no futuro próximo.

 

2.Através da carta pastoral “Guiados pelo Espírito, Igreja em Renovação”, publicada em 2018, resumimos em cinco grandes eixos de atuação as 39 proposições aprovadas na referida Assembleia Diocesana.

 

3.Nesse mesmo ano de 2019, encontravam-se já definidos e publicados os critérios de reorganização pastoral da Diocese, elaborados por uma equipa nomeada a pedido da mesma Assembleia.

 

4.Estavam também já preparados dois decretos, um sobre os serviços diocesanos e a sua articulação e outro sobre os novos arciprestados, que vieram a ser publicados em 2020, já em plena pandemia.

 

Atentas estas razões, dirigi ao Santo Padre uma carta datada de 20 de outubro de 2019, Dia Mundial das Missões, a pedir para que a minha dispensa das funções de Bispo da Guarda fosse antecipada.

E propunha-lhe um outro trabalho para eu realizar, fora da Diocese e ao serviço da Igreja.

O Santo Padre e certamente os seus conselheiros entenderam não me dispensar.

E nós continuamos a rezar por aquele que o Senhor há-de enviar para me substituir.

 

Sé da Guarda, 17.1.2023

 

+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda