Segundo domingo da Quaresma
5 de março de 2023
Damos hoje passo importante na nossa caminhada quaresmal, com este segundo domingo da Quaresma. A liturgia transporta-nos até ao monte da transfiguração, tradicionalmente identificado com o Monte Tabor.
Ora, a transfiguração de Jesus é apelo à nossa transfiguração, à nossa conversão, para nos ajustarmos o mais possível à Sua Pessoa e ao Seu Evangelho e assim conseguirmos o nosso bem pessoal e o daqueles que connosco fazem caminho.
Esta semana, a Conferência Episcopal reuniu em Assembleia Plenária extraordinária, para analisar as interpelações que nos vêm do relatório apresentado pela Comissão Independente para o estudo dos abusos de menores e vulneráveis na Igreja, em Portugal.
De acordo com o comunicado final desta Assembleia Plenária e com a Conferência de Imprensa que se lhe juntou, os Bispos portugueses mostram a firma vontade de criar todas as condições para que a Igreja em Portugal, no conjunto da suas instituições e serviços, seja, cada vez mais, lugar seguro e de plena confiança sobretudo para as crianças, os adolescentes e os jovens e também para as pessoas com maiores debilidades.
Para isso, há o compromisso de:
*Identificar bem e erradicar todas as formas de abuso que existem;
*Acompanhar e ajudar todos os que sofrem os seus efeitos;
*garantir-lhes meios necessários de terapia clínica, bem como humana e espiritual;
*Tratar cada caso na sua especificidade, para que a verdade seja devidamente apurada e se possa fazer justiça.
Entre os meios apontados para superar os males existentes e prevenir situações futuras, estão as Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Vulneráveis, complementando-as com a cooperação de serviços especializados de acompanhamento e terapia psicológica, humana e espiritual, incluindo com ligação a departamentos específicos do Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente na área da psiquiatria. Outro desses meios é a criação de um grupo de trabalho especializado, com ligação à coordenação nacional das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Vulneráveis, com linha aberta para receber queixas e dar-lhes o devido encaminhamento.
Para conseguirmos os desejados resultados na erradicação dos abusos e na criação da necessária segurança na Igreja e suas instituições, os Bispos prometem esforço renovado e bem conjugado de formação preventiva dirigido a todos os responsáveis pelas instituições da Igreja, incluindo os serviços paroquiais. Instrumentos para isso já existem, como são as diretrizes da Igreja sobre o assunto e, em particular as da Conferência Episcopal Portuguesa, do ano de 2020, que agora é necessário levar ao conhecimento e à prática de todos os implicados.
Este é um trabalho muito exigente que implica sacrifício, como sacrifício é necessário para subir ao monte da transfiguração.
E depois de subir, é natural que sintamos, como aconteceu com os apóstolos Pedro Tiago e João, o deslumbramento da revelação de Deus na Pessoa de Jesus. Mas isto sem esquecermos que esse deslumbramento tem de ser acompanhado do realismo do sofrimento e da morte do Salvador Jesus Cristo, para salvação de toda a Humanidade.
E essa tem de ser também a chave de leitura e de valorização do nosso sofrimento e da nossa morte.
Como os três apóstolos, também nós ouvimos a voz vinda de Deus Pai a dizer-nos “Este é o m eu filho muito amado, escutai-O”.
De facto, é escutando Jesus, no acolhimento da sua Palavra, que conseguimos dar o rumo certo às nossas vidas e encontrar os caminhos que conjuntamente temos de percorrer através da história, rumo à casa do Pai.
Ouvimos também nós a apalavra autorizada de Jesus, quando se dirigia aos três apóstolos, dizendo-lhes: “Levantai-vos e não temais”. De facto, perante o quadro da transfiguração, eles caíram de rosto por terra e assustaram-se muito, diz o texto do Evangelho. Mas, obedecendo à voz do Mestre, seguiram-no, encosta abaixo, ao encontro do Povo que os esperava para juntos fazerem o caminho, agora à luz da experiência da transfiguração.
Também para nós o quadro da transfiguração de Jesus é motivo muito forte para vivermos com renovado empenho a transformação que a Palavra de Deus nos propõe, especialmente neste tempo da Quaresma.
E para esse programa de renovação nos conduzem sobretudo os três domingos centrais da mesma Quaresma, a começar no próximo, em que somos convidados a fazer revisão de vida sobre a nossa identidade Cristã, à luz das Palavra de Deus.
Este é o convite da Quaresma dirigido a todos os baptizados para que façam um sério exame de consciência perante as suas responsabilidades de discípulos de Cristo, à luz da Palavra de Deus. Só assim, poderemos, com verdade autenticidade, renovar as promessas do nosso Baptismo, na Noite Pascal.
5.3.2023
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda