Domingo de Ramos
Homilia da Missa
Iniciamos hoje a Semana Santa, Semana Maior, como o Povo lhe costuma chamar. E as razões porque ela é Maior não são por ter mais dias ou mais horas, mas sim porque celebra o acontecimento maior da nossa Salvação – o Mistério Pascal de Cristo, com a Sua Morte e a Sua Ressurreição.
A Liturgia chama ao dia de hoje Domingo de Ramos na Paixão do Senhor. E uma outra tradição também lhe chamava segundo Domingo da Paixão, sabendo que, a partir do V Domingo da Quaresma, os textos litúrgicos começam a orientar-nos para o Mistério da Paixão de Cristo. E. por isso, na cidade da Guarda se continua a cumprir a tradição da Procissão dos Passos, nesse mesmo dia do V Domingo da Quaresma.
Começámos as celebrações do dia de hoje com a memória da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, poucos dias antes de ser condenado á morte. Lemos o texto bíblico correspondente e fizemos a procissão, imitando a alegria das crianças e do povo simples, com seus gestos de aclamação e de cânticos de vitória e de hossanas. Mas como todas as aclamações e vitórias deste mundo são passageiras, também isso aconteceu com Jesus, pois depressa veio o virar de página, que hoje lembramos principalmente no relato da Paixão.
Ao iniciar a Semana santa, inauguramos hoje a nossa especial participação no drama da caminhada de Cristo para o Calvário; Calvário que, como sabemos, não é a última palavra. Na nossa memória vai, para meditarmos durante toda a semana, o relato da Paixão de Cristo, que hoje escutámos na versão do Evangelista S. Mateus.
Vamos encontrar-nos, de novo com a leitura da Paixão de Cristo na Sexta-Feira Santa, mas aí segundo o Evangelista S. João. A Sexta-Feira Santa é, de facto, o dia em que paramos para meditar o Mistério da Morte de Cristo.
Por sua vez, o relato da Paixão hoje escutado começa por lembrar a última Ceia de Jesus com os seus discípulos, assunto que retomaremos na Quinta-Feira Santa, ao iniciarmos a celebração do Tríduo Pascal.
O Sábado Santo é o dia de absoluto silêncio, em que a própria liturgia se cala para nos deixar recolhidos diante do sepulcro de Cristo e também nos prepararmos para a alegria da Vigília Pascal.
O Jejum, que é obrigatório em Sexta-Feira Santa e recomendado no Sábado Santo, contribui em muito para concentrarmos a atenção no Mistério da Morte de Cristo
Para trás ficará a manhã de Quinta-Feira Santa em que, nesta mesma Sé, o nosso Presbitério se reúne em ação de graças pelo dom do Ministério Sacerdotal à Igreja e suas comunidades, para renovar as promessas sacerdotais e também para aprofundar a responsabilidade e a alegria do mandato recebido do próprio Cristo para conduzir a porção do Povo de Deus presente nesta nossa querida Diocese da Guarda.
Para nos introduzir na meditação da Paixão de Cristo relatada no Evangelho e também na partilha do drama da Sua Via-Sacra, ao longo de toda esta Semana, lemos hoje uma das passagens bíblicas sobre o a figura do Servo de Javé, assunto que vamos retomar nos próximos 3 dias e também na Sexta-Feira Santa; e lemos a passagem de S. Paulo aos Filipenses, que é, de facto, uma das melhores explicações bíblicas sobre o percurso de Jesus enviado pelo Pai à nossa condição humana, que partilhou, sem reservas, até às suas últimas consequências, incluindo a morte e a morte na Cruz; e apontando, no horizonte, para a vitória da Ressurreição.
Esta semana é para nós uma semana de via sacra, em que procuramos caminhar ao lado de Cristo.
Nela, por um lado, olhamos para a Pessoa de Jesus, para cada um dos seus passos, com insultos, empurrões e quedas, até à crucifixão e morte.
Por outro lado, olhamos para as nossas pessoas e comunidades, a viver nas vicissitudes da história, feita de vitórias e fracassos, de altos e baixos, erros que reconhecemos e bons serviços que indiscutivelmente prestamos à Igreja e á sociedade, com aplausos e oposições, quantas vezes injustas. E, assim, procuramos seguir em frente, como Jesus, também incompreendido e perseguido.
De facto, na Pessoa de Jesus, a verdade não veio imediatamente ao de cima; permaneceu encoberta durante toda a via sacra e só se revelou na madrugada da Ressurreição.
Essa é também a nossa esperança.
2 de abril de 2023
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda