PEREGRINAÇÃO DIOCESANA A FÁTIMA
Homilia
Estamos em peregrinação ao Santuário de Fátima, o que é uma grande bênção para todos e cada um de nós.
Fazemos parte dos mais de 6 milhões que anualmente aqui se dirigem em peregrinação para sentir mais de perto e ao vivo a proteção maternal da Senhora dos Pastorinhos e o conforto da ajuda que ela sempre dá aos filhos que a procuram para lhe apresentar as suas preocupações.
Também nós, com esta peregrinação, queremos agradecer os benefícios recebidos e pedir outras bênçãos para nós e para aqueles que se encomendam à nossa oração.
Todos estamos aqui para fortalecer a nossa Fé, segundo a medida e o modelo de Nossa Senhora, que aos pastorinhos pediu entrega sem reservas aos desígnios de Deus, mesmo sendo difíceis. Essa mesma entrega também nós a queremos renovar e aprofundar nesta peregrinação, que acontece no início de mais um ano pastoral.
Da Fé nos fala hoje a Palavra de Deus que acabámos de escutar.
S. Paulo, escrevendo aos Tessalonicenses, regozija-se e dá graças pela vida desta comunidade, que é resultado da sua pregação. Claro que a satisfação nunca é completa, porque há sempre caminhos novos a percorrer, principalmente para, como lembra o Apóstolo, “crescer a abundar na caridade”, rumo à “santidade irrepreensível”, que é, na realidade, a vocação de todos os discípulos de Cristo.
Esta alegria de S. Paulo, diante dos resultados da sua pregação e do serviço pastoral à comunidade cristã dos Tessalonicenses, supõe e exige a atitude da vigilância, de que nos fala o Evangelho. “Vigiai porque não sabeis o dia nem a hora em que virá o vosso Senhor”. Esta é a primeira razão da vigilância, que nos pede para vivermos cada momento como se fosse o último da nossa vida. Mas nós queremos ir mais longe, para sermos como aquele servo prudente que cuida bem as coisas do seu Senhor.
Também estamos aqui aos pés de Nossa Senhora para lhe pedir a graça de sermos como aquele servo prudente que não só se preocupa consigo e com o seus melhores resultados, mas também quer cuidar bem da Igreja, da qual somos parte integrante, desde o dia do nosso Baptismo. É esta a Igreja que nós amamos e queremos servir da melhor maneira, apesar das suas limitações e dos seu erros. E como nos recomendou o Papa Francisco na visita que nos fez a propósito da JMJ, temos de reforçar a Fé em Jesus, que é o verdadeiro condutor desta barca, a Igreja, quantas vezes batida por ondas tormentosas e por ventos contrários do mar em que hoje navega. E é o reforço desta proximidade com Jesus que nos há-de fazer superar o cansaço o desânimo, que tantas vezes nos invadem. E sobretudo nos há-de ajudar a vencer a tentação de abandonar o barco, por maior que seja a tormenta, ou então de o trazer para terra, para o sossego e o conforto que nos tiram a responsabilidade. Pelo contrário e como também insistentemente nos lembra o Papa, o nosso lugar é dentro desta barca, remando mar adentro, para cumprirmos o dever de evangelizar.
Por maiores que sejam as dificuldades e os perigos, temos a certeza se que o Mestre nos acompanha, mesmo quando parece estar a dormir.
Somos, de facto, chamados a permanecer nesta barca, onde Jesus está sempre, mesmo que às vezes nos pareça ausente. E estamos na Igreja para tomar parte ativa no conjunto da sua vida.
É este o desígnio da caminhada sinodal que nos é insistentemente recomendada. O seu grande objetivo é o de todos com todos, em escuta mútua, ouvirmos a voz do Espírito, para identificarmos bem os caminhos que ele nos aponta.
Discernir bem o que o Espírito Santo quer dizer à Igreja, às suas comunidades e a cada um de nós tem de ser a nossa preocupação primeira. Para tal, temos de saber dar a devida atenção aos sinais de Deus que nos vêm quer de dentro quer de fora da Igreja. E só no diálogo e na escuta mútua de irmãos que caminham juntos com a mesma preocupação de viver e anunciar o Evangelho nas circunstância atuais, poderemos discernir bem a voz do Espírito Santo.
Ele, de facto, é o líder máximo da Igreja. Por isso, a Ele todos estamos sujeitos, desde a hierarquia até aos fiéis em geral, que são todos portadores do sentir especial que ele lhes confiou, o chamado sentido da Fé.
Diálogo e escuta mútua são, assim, a grande palavra de ordem que a todos nos é redirigida, neste momento. Mas, para cumprirmos o grande objetivo quer é identificar a voz do Espírito, temos de lhe saber acrescentar o silêncio e a oração. Sem espaços e tempos de silêncio e oração, nunca conseguiremos ouvir a voz do Espírito e o esforço de diálogo e escuta que possamos fazer ficará sempre vazio de conteúdo.
Estamos a iniciar um novo ano pastoral. Durante ele vai realizar-se um dos dois sínodos sobre a sinodalidade para cujos trabalhos já fomos convidados a dar o nosso contributo.
Nesta peregrinação queremos pedir a graça especial de ensaiarmos, nas nossas comunidades, os caminhos da comunhão, da participação e da missão que a sinodalidade nos pede.
Com a bênção de Deus e a proteção maternal de Nossa Senhora pomo-nos a caminho e apressadamente, como as circunstâncias o exigem.
31 de agosto de 2023
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda