«Construtores do Futuro como Peregrinos de Esperança»
Nota Pastoral da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé para a Semana Nacional da Educação Cristã 2024
Educação e Esperança são como que os dois pés do caminhar da humanidade. Educar é preparar o coração para a esperança, é abrir ao amanhã, avizinhar-nos do futuro, sendo que ela precisa de ser aprendida, pois é grande o risco de a noite tomar conta do olhar.
Quem educa, é “construtor do agora e do futuro como peregrino da esperança”. Habitamos o agora, mas certos de onde vimos e para onde caminhamos.
“A esperança não confunde!”, como recorda o Papa Francisco, retomando o que diz São Paulo na Carta aos Romanos, na Bula de proclamação do ano jubilar que toda a Igreja celebrará em 2025. Sob o lema da esperança, o Papa dirige-se aos homens de todo o mundo, convocando-os para serem “peregrinos da esperança”.
Esta circunstância proporciona motivos particularmente significativos e inspiradores, num contexto de celebração desta semana, enquanto tempo de escuta, planificação e compromisso: a fragilidade e o erro não nos prendem o caminhar, mas devem colocar-nos em atitude de procura, pelo que somos convidados a adotar a atitude de peregrinos, movidos pela(na) Esperança.
A fragilidade e o erro colocam-nos em atitude de procura
Educar é próprio e específico dos humanos que, perante a fragilidade e o erro, querem “conduzir a criança” a novos patamares. É, por isso, um estado de caminhar permanente feito de “erro” e “superação”, que interpela a que não se desista de prosseguir, apesar da sedução da acomodação e da tentação de se bastar com o já obtido.
Neste contexto, a celebração jubilar, a que somos convidados pelo Papa Francisco, é motivo particularmente fecundo e oportuno para a renovação do olhar sobre a Educação, onde “errar” não pode ser sinónimo de se tornar “errante”.
Àquele que erra, que cai no erro, deve ser dada uma nova oportunidade para que se reencontre, que rejubile de alegria por se sentir amado e perdoado.
Como serão diferentes as nossas escolas, as nossas aulas de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), as nossas catequeses, as nossas comunidades educativas se o espírito do ano jubilar as perpassar da certeza de que o amor, com que somos perdoados, permite recomeçar, vez após vez, e superar os medos da novidade do Caminho.
Porque não somos errantes, mas peregrinos!
Adotar a atitude de peregrino
Ser peregrino é muito mais do que percorrer ou atravessar o espaço e o tempo. É habitá-los, sabendo, porém, não ter “aqui morada permanente”. Logo no século II, uma célebre carta de autor desconhecido, dirigida a um “Diogneto”, recordava que “[os cristãos] habitam pátrias próprias, mas como peregrinos: participam de tudo, como cidadãos, e tudo sofrem como estrangeiros.” (Carta a Diogneto, cap. VI, n.º 3).
Esta condição faz do ser humano um ser “em” e “a” caminho, não como alguém que erra e deriva, sem rumo, mas, pelo contrário, como alguém que tem um horizonte, uma meta. O seu viver é levantar-se e caminhar para o Outro, nos outros.
A condição de peregrino, revestido do essencial, é simbólica e fonte de inspiração eficaz para as nossas comunidades cristãs, para os seus agentes educativos, para a disciplina de EMRC, para a Catequese e para as Escolas Católicas. Em tempos de abundância de intermitentes propostas e caminhos, de (des)encontros entre o relativismo e o fundamentalismo, a imagem do peregrino desafia a que se escolha a perenidade e se consciencialize de que o saber, que se busca, permanece no horizonte como verdade.
Movidos pela(na) Esperança
A esperança não é um vago sentimento de que tudo correrá bem. É, antes, “a confiança em que existem, de forma latente, possibilidades inimagináveis, inclusive nas situações mais desesperadas. Na era da ciência, a autêntica fé é a convicção acérrima de que o futuro se encontra aberto e de que o espera uma culminação incalculável, não só para o ser humano, mas para a totalidade do cosmos” (Haught, John, Ciência e fé: uma introdução). Como recorda Bento XVI, na sua encíclica “Salvos na Esperança”, a “fé é esperança”, explicitando que acreditar é ser tomado pela força da esperança, que não é originada no sujeito, mas ao que este acolhe. A esperança não é fruto de um desejo, não é uma vã ilusão. Sendo o fruto mais visível da fé, ela nasce do que a fé é: “a fé não é só uma inclinação da pessoa para realidades que hão de vir (…). Dá-nos, já agora, algo da realidade esperada, e esta realidade presente constitui para nós uma prova das coisas que ainda não se veem. Ela atrai o futuro para dentro do presente; (…) o presente é tocado pela realidade futura, e assim as coisas futuras derramam-se nas presentes e as presentes nas futuras.” (Bento XVI, Spe Salvi, 7)
A esperança é, por isso, muito mais do que utopia (um desejo de um “não-lugar”), mais do que “pensamento positivo”, é a antecipação, na história, dos sinais do sentido último de toda a realidade. No agora da história, a esperança vê acontecer e sabe que tem motivos para tal, o sentido definitivo, antecipado na vitória de Jesus Cristo sobre a morte.
Enquanto o desespero corrói, a esperança constrói, pois esta nasce de uma vivência não meramente subjetiva, mas objetivamente existente e pessoalmente interiorizada.
Nestes tempos, necessitados de esperança, somos convidados, como cristãos na família, no trabalho, nas comunidades eclesiais e nas escolas, a sermos focos de luz de esperança, sinais de que ela não nasce de cada um, mas habita o coração de cada ser humano, como certeza da vitória da vida sobre a morte, sobre todas as mortes do existir: da morte da ignorância, do erro, da desilusão, da tristeza, da derrota, da insatisfação e da errância…
Como educadores, constituímo-nos como aprendizes do amanhã, construtores do futuro, enquanto peregrinos “da” e “na” esperança, habitando o mundo com atitude de caminhantes, rumo a um horizonte sempre mais adiante e mais de todos.
Maria, invocada como ‘estrela da manhã’ e ‘estrela do mar’, interpela-nos a ser lugares onde brilha, como farol na costa de mar revolto, a autêntica e perene fonte da esperança: Jesus Cristo, o Amor ardente e o Sol nascente que dá vida!
27 de setembro de 2024,
Dia de S. Vicente de Paulo
Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé