Skip to content Skip to footer

A espera que desperta o coração

Nestes dias que são os últimos do Advento, e que ainda nos separam do cumprimento do tempo em Maria, começa a crescer dentro de nós o Espírito que nos faz sentir, de novo, filhos bem-amados de Deus. Não se trata de uma espera vazia nem de um simples intervalo no calendário, mas de um tempo carregado de sentido, onde a promessa de Deus volta a pulsar no coração da Igreja e de cada crente.

Ao longo deste caminho do Advento revisitámos o tempo dos Profetas e fomos convidados a percorrer a bela história da Salvação, iniciada na Antiga Aliança com Abraão. Confiados na promessa de Deus, homens e mulheres abriram o coração à missão recebida. Mesmo quando surgiram o medo, a dúvida ou a incerteza, entregaram-se nas mãos de Deus e colocaram-se a caminho. A fé nunca foi, para eles, um lugar de conforto, mas uma resposta confiada à Palavra que os desafiava.

É neste horizonte que o Advento nos educa para o essencial da fé: só quem sabe Quem segue, sabe para onde vai. Maria não conhecia o mapa do caminho, mas conhecia Aquele em quem confiava. José não tinha garantias, mas tinha uma promessa. Também nós somos convidados a deixar de exigir certezas absolutas e a aprender a caminhar na confiança, sabendo que a direcção da nossa vida não nasce do controlo, mas da relação.

Celebrar o Natal que se aproxima é, para todos nós, uma oportunidade para redescobrir a alegria da confiança e para desejar algo maior. É reconhecer que viver não pode ser reduzir-se à mera sobrevivência.

Como Maria, como José, como os Pastores e como os Magos, também nós somos chamados a ver em Jesus não apenas um recém-nascido, mas o Deus feito homem. E, a partir daí, a viver a vida como uma vida em que Deus existe, na qual Ele é omnipresente e se revela em tantos sinais concretos do nosso quotidiano. Acreditar no Deus que nasce significa aprender a reconhecê-Lo no pequeno, no frágil, no escondido.

Como Maria, somos chamados a amar Jesus que nasce – em nós e em todos aqueles com quem nos cruzamos – amando-os tal como são. Só assim deixaremos de ser meros espectadores da vida para nos tornarmos anunciadores da alegria, do amor e da paz que vêm de Deus.

E tal, como Maria, possamos também nós desejar ser visitados a caminho, encontrados com o coração desperto e as mãos prontas para acolher o que é pequeno, mas que será sempre Divino.

Santo Natal.

P. João Marçalo

 

Imagem – The Nativity at Night – Geertgen tot Sint Jans  © National Gallery Picture Library