A Quaresma é sempre um forte apelo à responsabilidade das pessoas e das comunidades para reverem as suas vidas, reconhecerem os seus percursos errados e lhes darem o rumo certo.
Para nos orientar e motivar neste esforço de travessia do deserto, contamos com a iniciativa do próprio Deus, que vem ao nosso encontro, na Pessoa de Jesus e na luz e força do Espírito Santo.
Como nos lembra o Papa na sua Mensagem, a Quaresma é tempo de graça em que o deserto volta a ser o lugar do primeiro amor (Os. 2,16-17).
É tempo para revivermos o cuidado que Deus tem por todos e cada um de nós, pois Ele vem, uma e outra vez, e surpreende-nos com a sua presença e com os caminhos novos que nos aponta; e também para despertarmos em nós a obrigação de cuidarmos bem uns dos outros e da própria casa comum que habitamos. Essa mesma obrigação nos lembra o Papa, na sua Mensagem, quando convida para “o cuidado com a criação e a inclusão de quem não é visto ou marginalizado”.
Precisamos, por isso, de cultivar a vigilância sobre as nossas pessoas e sobre a vida da Igreja e do próprio mundo, quer para sentirmos o cuidado de Deus, quer para reforçarmos o nosso.
O encontro mais intenso com a Palavra de Deus e a oração, assim como o cuidado dos outros, especialmente quando os outros são os mais fracos e vulneráveis, têm de fazer parte do nosso programa quaresmal.
Por sua vez, a revisão de vida, através do exame de consciência mais apurado e a procura do perdão do Senhor no Sacramento da Reconciliação, são igualmente caminho que não podemos dispensar, como nos lembra este tempo forte da Quaresma. Ajudam-nos momentos de paragem, para leitura da nossa vida pessoal e comunitária, à luz da Palavra de Deus. E os retiros, recoleções e outros momentos de reflexão e oração propostos pelos programas quaresmais das comunidades, sejam de paróquias, de arciprestado ou outros, constituem oportunidades que temos de saber aproveitar.
A tradição do jejum, da oração e da esmola não perdeu nenhuma atualidade e continua a ser método válido para progredirmos na prática da caridade e, em geral, na nossa conversão. Assim nos iremos preparando para que a Páscoa seja, de verdade, a vida nova de Cristo Ressuscitado a espelhar-se, o mais possível, nas nossas vidas.
Por sua vez, as promessas batismais, que renovaremos na Noite Pascal, queremos que sejam o ponto de chegada deste percurso de renovação da Fé a que a Quaresma nos convida. Com elas professamos também a verdadeira liberdade dos filhos de Deus.
Estamos já habituados a fazer renúncia quaresmal em favor de alguma necessidade que nos é recomendada. Este ano, tendo em conta que a Liga dos Servos de Jesus celebra o seu centenário, vamos dirigir a nossa renúncia quaresmal para o centro missionário que a mesma Liga criou em Angola. Este centro missionário consta de uma escola do ensino básico que, agora sob orientação do Bispo Diocesano local, acolhe 500 alunos. Ao lado, há um centro de espiritualidade, que a pandemia obrigou a fechar. É especialmente para a reabertura deste centro missionário de espiritualidade que queremos dirigir o nosso contributo da renúncia quaresmal, contando com a cooperação dos missionários da Boa Nova.
Com a bênção de Deus e a companhia carinhosa e maternal de Nossa Senhora, procuremos viver, com muita esperança, a caminhada desta Quaresma, no espírito sinodal que nos é recomendado.
Guarda, 9.2.2024
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda