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Agosto passa, a Luz permanece

Há um tempo que vai para além daquele que é medido pelo relógio, mas que se mede maioritariamente pelos afectos.

Agosto é esse tempo — o mês em que grande parte das nossas aldeias se voltam a encher de vida, em que respiram fundo, em que se enchem de vozes que regressam e se abrem em festa. Regressam os filhos da terra, os filhos, os netos, os amigos que a vida levou para longe, mas que, por um tempo, voltam a casa. Há almoços e jantares em Família, que por estes dias, está mais completa; há Baptismos, há Casamentos, há Missas onde assembleia é mais jovem, há festas e há procissões.

Agosto traz em si um aroma antigo, mas sempre presente: o das mesas grandes, o das casas arejadas, o da roupa da enxugada ao sol, o dos Santos que visitam as ruas engalanadas e do pão abençoado que é sinal de comunhão. É o tempo do reencontro com as raízes, mas é também, o tempo propício à escuta. Porque quando o corpo descansa, a alma fica mais desperta. E no meio da festa, entre um arraial e um abraço, há sempre o sopro de Deus que passa.

Agosto é marcadamente um tempo de festa. E as festas, que preparamos com tanto carinho, podem e devem evitar gerar poluição desnecessária, ou ruído excessivo. E assim é porque celebrar pode – e deve – ser um acto de cuidado e um sinal de gratidão – isto porque o brilho que buscamos não é o que encandeia, mas é aquele que verdadeiramente nos ilumina.

Ora, se Agosto é tempo de regresso, é também tempo de partida. Mas quem parte – porque há sempre quem parta – , não o faz de mãos vazias, porque parte capaz de levar no coração a Luz recebida; porque parte com tudo o que viveu nestes dias — na festa, e na diversão, no silêncio, e na oração; porque parte com a semente que colheu – qual grão de mostarda – que cresce, e que pode ser o início de um caminho novo, ou o acordar tranquilo de uma Fé antiga.

Agosto, tal como os outros meses passa, mas há um gosto de festa que fica, mesmo quando se desmontam os arcos, e que continua a ecoar bem dentro de nós, como promessa da verdadeira alegria.

Porque no fim, depois de se viver este Agosto, a Luz permanece.

 

P João Marçalo

Imagem – Freepick