Querido povo desta nossa Diocese da Guarda: chegou a hora!
Anunciada no passado dia 20 de dezembro, e preparada durante quase três meses, chegou a hora em que a nossa querida Igreja da Guarda tomou posse de mim! Aquele que já há muito me tomara para Si faz-vos agora partilhar com Ele a propriedade da minha pessoa e do meu ministério. Sou vosso! Convosco sou cristão, para vós sou bispo. Recebei-me como vosso irmão, disponde de mim como vosso pastor.
A primeira palavra é de louvor e acção de graças: bendito seja Deus que nos visita e no meio do seu povo suscita profetas à imagem de seu Filho. Por favor, rezai por mim para que possa ser profeta entre vós, à imagem de seu Filho.
Mas permiti que repita: chegou a hora! E chegou dentro da celebração da missa e ordenação, em tempo de Quaresma, no domingo do evangelho da Transfiguração (Lc 9, 28b-36).
Esta nossa ligação fica assim enraizada e selada, e não podia ser de outro modo, na hora de Jesus, a sua Páscoa, que acabámos de actualizar na celebração da missa. No mistério pascal de Jesus teremos sempre a luz que ilumina o sentido de todas as horas que viveremos.
Este nosso caminho em conjunto fica também marcado pelo ritmo da conversão, cujo tempo favorável estamos a viver. O arrependimento e a renovação da mente e do coração, o perdão e a reconciliação quando necessários, serão instrumentos preciosos que sempre nos renovarão e guiarão até à Páscoa, a anual e a definitiva.
Esta nossa vida em comum que agora começa fica ainda suportada, nas horas felizes e nas mais duras, pela revelação da bondade e proximidade de Deus que nos dá o Seu Filho, o seu Eleito, para que O escutemos e n’Ele tenhamos a Vida e a Glória. Tanto o entusiasmo do cimo da montanha como o quotidiano da vida no planalto serão os passos que nos guiarão como peregrinos de Esperança.
Permiti agora que me dirija, por instantes, aos (muitos) irmãos e irmãs que vieram de fora e quiseram acompanhar-nos nesta hora.
Em primeiro lugar ao Senhor Núncio Apostólico, Dom Ivo Scapolo, agradecendo toda a atenção que me tem dispensado nestes últimos tempos, bem como a sua presença. Ela é sinal da proximidade e da solicitude do nosso Papa Francisco para com esta Igreja particular, e da sua benevolência para comigo, ao depositar em mim a sua confiança para esta missão. Neste momento de fragilidade por que passa o Santo Padre, peço-lhe, Senhor Núncio, que lhe transmita a nossa comunhão e oração com e por ele.
Depois, dirijo uma palavra de comunhão e gratidão a todos os meus irmãos bispos. Alguns de vós já fostes meus mestres (como formadores e professores), outros fostes companheiros de missão; todos sereis meus irmãos mais velhos com quem desejo aprender este ministério episcopal de solicitude para com todas as Igrejas e de cuidado pastoral desta Igreja Egitaniense.
Dirijo un saludo afectuoso y agradecido a Monseñor José Luis Retana, obispo de Ciudad Rodrigo y Salamanca, iglesias nuestras hermanas y vecinas, por su presencia y proximidad.
Não posso deixar de nomear os Patriarcas que foram meus bispos: Dom António Ribeiro (que me ordenou presbítero) e Dom José Policarpo (meu reitor de Seminário), que hoje, já em Deus, olharão por este ministério que agora se inicia; a si, Dom Manuel Clemente, apresento toda a minha gratidão e afecto pelo cuidado que sempre me dedicou, desde quando foi meu vice-reitor até às palavras que me dirigiu publicamente no passado dia 22 de janeiro no Seminário dos Olivais. Mas sobretudo, pela fidelidade na entrega a Deus e à Igreja e na atenção a cada um, mesmo quando incompreendido.
E agora dirijo-me a si, Senhor Patriarca e nosso metropolita. Quando iniciou o ministério pastoral em Lisboa e lhe apresentei a minha disponibilidade para cooperar em tudo consigo, meu novo Bispo, disse-me que iria contar muito com isso. Creio que não esperava, e nenhum dos dois adivinhava, o que Deus vinha preparando. Mas vinha preparando. É assim que hoje releio as duas conversas que tivemos no verão passado. Se a primeira me pacificou, cito aqui a segunda que me iluminou e guiou: quando em Julho insistiu comigo acerca da necessidade de formar os seminaristas para a liberdade de aceitar qualquer missão, fosse perto ou distante, respondi-lhe que já era essa a nossa atenção, mas que iria reforçá-la. Assim, na habitual carta que dirigia aos seminaristas para lançar o caminho do novo ano, depois de rezar a sua exortação, propus-lhes a seguinte passagem do livro do Génesis, onde o Senhor diz a Abraão: «deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar.» (Gn 12, 1) De então em diante, rezei várias vezes esta palavra. Eu não sabia, mas o Senhor sabia e preparava o que iria fazer. Por isso no passado dia 20 de dezembro, quando confrontado com este chamamento, não havia como duvidar: Guarda – eis a terra que o Senhor me indicava!
Foi assim que Deus dispôs. No horizonte da comunhão das Igrejas irmãs, tanto na Província Eclesiástica como na Igreja em Portugal, na sua pessoa manifesto a minha gratidão para com toda a Igreja de Lisboa onde nasci para a vida cristã e para o ministério ordenado, e renovo a disponibilidade, agora na solicitude que é própria do ministério episcopal.
(Senhor Dom Manuel Felício, não o nomeio agora porque o guardei para outro momento. Com o devido reconhecimento e gratidão).
A próxima palavra vai para todos os padres do Patriarcado de Lisboa. Digo mal, quando digo “próxima palavra”. Não tenho palavras, não há palavras que possam dizer tudo o que fostes na minha vida. Convosco aprendi tudo o que sou como padre. E ser padre não é uma função na minha vida. Ser padre assumiu o que eu era e configurou o que sou como filho, como irmão, como servo, como discípulo, como esposo, como pai, como missionário, como Igreja, como construtor do Reino. Nós não somos uma classe, um estado ou ordem social, uma corporação, uma elite. Não! Nada disso! Não estamos à parte do povo, nós somos povo. Não estamos fora do povo mas no meio do povo. Não estamos acima do povo mas aos pés do povo. Mas somos irmãos, pois então. Numa fraternidade maior com todo o povo, somos como que irmãos gémeos, daqueles que provêm de dois óvulos distintos: somos diferentes, temos diversas sensibilidades e correntes teológicas, às vezes discutimos, até nos podemos zangar. Mas no fim de contas sabemos que partilhamos experiências que nos são únicas, constitutivas do nosso modo de ser, que marcam de modo próprio a nossa relação com a Mãe Igreja (nem melhor nem pior que a dos outros irmãos, mas própria), que nos vinculam de modo único. Queremo-nos bem!
Perdoamo-nos! Amamo-nos! Foi assim comigo. Fui gerado convosco, cresci convosco, fiz-me adulto convosco. Chegou a hora de partir, de ser enviado! Trago comigo para a Guarda o que consegui guardar de vós. Continuamos unidos. Em Deus! Estendo, em graus diversos, parte destas palavras a todos os outros padres, de outras Dioceses com quem fui partilhando a vida e a missão. De forma muito, muito especial penso naqueles de quem fui formador e hoje partilhamos o ministério. Nas partes que vos couber, tomai-as para vós. Para todos a minha gratidão e proximidade.
Agora é para vós, querida família. Meus queridos pais: Mãe que me acompanha do Céu, creio que junto de Nossa Senhora que a levou ao colo; e Pai que me acompanha pela internet desde o hospital, a recuperar de uma intervenção cirúrgica e de consequente infecção pulmonar! Aos Pais tudo o que se diga é pouco. Que hei-de fazer. Apenas beijar-vos e abraçar-vos com gratidão e reverência, por tudo o que sois de Deus para mim: vida, ternura, suporte, verdade, justiça, perdão, entrega, amor. Mesmo na distância física, os que no Corpo de Cristo vivemos e morremos podemos sempre estar próximos. Repito hoje aos dois o que disse ao ouvido da Mãe antes da sua última viagem: muito, muito obrigado pela vossa vida e pela vossa fé, que me transmitiram.
Meus queridos irmãos. No retiro que fiz esta semana tomei consciência mais clara que todas as minha relações, depois de Jesus, é na nossa relação que encontram a sua referência. Convosco aprendi a ser irmão e aí se inspiram todas as minhas outras relações. Somos diferentes, estamos mais ou menos vezes juntos, mas pertencemo-nos uns aos outros, não nos entendemos sem esta ligação que nos constitui. Nenhum é indiferente, todos fazem falta. Cada um, à sua maneira, traz o seu tesouro e enriquece o conjunto. Gosto muito de vós. Amo-vos muito.
Aos tios e primos, muito obrigado por me terem ensinado a ser família. À minha tia consagrada, muito obrigado por ter semeado em mim a inquietação vocacional, com as músicas e livros do Pe. Zezinho, scj. Que esta hora possa também renovar a comunhão familiar e a espiritualidade em Cristo.
Não posso dirigir a todos uma palavra mais desenvolvida. Aos diáconos permanentes, às consagradas e consagrados, às famílias, às comunidades, aos grupos e movimentos, aos que acompanhei espiritualmente, a todos e a cada um: como já me ouvistes mais que uma vez, não esqueçais: O Senhor é Bom! É mesmo Bom! É sempre Bom. E sempre abre o caminho do Bem, onde persiste, por fragilidade ou perversão, a dor e o mal.
Mas a vós tenho de dirigir uma palavra e falar com o coração: jovens de todos os projectos, missões e campos, dos Luzeiros vocacionais e do Pré-seminário e, sobretudo, vós: seminaristas, actuais e antigos, sejam hoje padres ou não, ou até se tenham afastado da fé. Convosco aprendi a paternidade: a alegria de comunicar vida, de a projectar para a eternidade, de a configurar em serviço; a alegria das horas intensas, a exigência das palavras que custam dizer e ouvir, as lágrimas das conversas profundas e das feridas de vida que trazíeis; quantas vezes me comovi e chorei, de alegria ou de impotência, com Jesus diante do sacrário ou no silêncio da minha saleta.
Umas vezes convosco. Muitas outras por vós. Obrigado por me deixardes tomar parte na vossa vida. Perdoai quando, por desatenção ou incapacidade, não o fiz como Deus pedia. Coração a coração te digo: Não se perturbe o teu coração! O Senhor está a teu lado, Ele é o teu abrigo e guia. Ele tem sonhos de plenitude para ti e quer construí-los contigo. Aprende a ter sempre por amores, os amores do teu Amor.
Querida Igreja da Guarda, voltemos agora a nós.
Em primeiro lugar, dirijo-me a si, Senhor Dom Manuel Felício, nosso Bispo emérito. A nossa Igreja agradece-lhe todo o bem que de Deus nos trouxe. Repito o que já tive oportunidade de expressar publicamente: aqui se apresentou com prontidão e entusiasmo para abraçar uma nova missão, como é seu timbre. Vinte anos passados, a mesma alegria genuína e capacidade de sonhar; a mesma liberdade interior e fortaleza de ânimo que alimentam o desejo em abraçar ainda uma outra missão fora da Diocese. Só um coração sustentado assim na caridade pastoral do Senhor está pronto para começar nova missão exigente quando as circunstâncias o poderiam convidar a retirar-se e a descansar. Porque quer abraçar esta nova etapa com o enquadramento da Diocese, da qual já disse continuar a sentir-se pertença, farei conjuntamente com as realidades diocesanas pertinentes, todos os esforços para que, salvo algum imprevisto, a sua missão possa efectivar-se quanto antes.
Dirijo agora a palavra a todas as autoridades civis, militares e de segurança e académicas. Muito obrigado pela vossa presença, sinal do reconhecimento do importante papel da Igreja Católica na sociedade em geral, e nas comunidades humanas que pertencem a esta Diocese. Tanto a acção social da Igreja como o seu acompanhamento espiritual procuram favorecer um humanismo integral e concorrer para sociedades mais coesas, solidárias, pacíficas e com alma. O bem comum das comunidades a quem servimos será sempre, para mim, apelo para uma profícua colaboração convosco.
Agora a vós, povo santo da nossa Diocese. Ouvistes até agora tudo o que a vida me foi dando. É o que trago comigo. Venho como vaso de barro que transporta um tesouro para que se torne claro que o poder da obra que vamos construir é de Deus e não é meu (cf. II Cor 4, 7). Como já tenho dito em algumas entrevistas, a nossa Diocese não abre agora com nova gerência. Vós sois portadores de uma herança; vós sois guardadores de um tesouro; vós sois depositários de uma esperança. Por isso não trago um plano de acção para vos apresentar. Vamos construí-lo juntos. Isto não significa que não tenha nada para partilhar. Julgo que haverá cinco atenções transversais que iremos revisitar e que apenas enuncio:
- A pastoral da Santificação e a espiritualidade da mística, que ajude a redescobrir como cuidar da vida interior e a viver da celebração da Páscoa de Jesus.
- A pastoral da Palavra e a espiritualidade da Revelação, que ajude a redescobrir como escutar Deus, reconhecer a sua voz, e acolher o que ela revela sempre de novo.
- A pastoral da Participação e a espiritualidade da comunhão, que ajude a enraizar a sinodalidade no discernimento, na reconciliação das divisões e na harmonia da diversidade.
- A pastoral da missão e a espiritualidade da vocação, que ajude viver a fé como resposta constante à iniciativa de Deus, que chama em todas os momentos da vida, por meio da Igreja.
- A pastoral da comunicação e a espiritualidade do anúncio, que ajude propor o Evangelho com alegria, beleza e qualidade, para além de informar ou explicar. Mas como vamos percorrer este caminho? Quem vai assumir esta missão?
Dirijo-me, em primeiro lugar a vós, famílias. A Igreja da Guarda conta convosco. Que os vossos lares sejam santuários onde Deus habita e conta; sejam lugares onde a oração marque o ritmo diário e as etapas importantes; sejam casas que acolhem Jesus em quem vos visita; sejam focos que irradiam alegria do evangelho no testemunho missionário.
E conta também convosco, leigos conscientes de o ser. Os que não sois leigos apenas porque não fostes outra coisa, mas assumistes activamente ser a primeira linha da presença da Igreja em todos os cantos do mundo. Os que levais o Evangelho ao mundo das famílias e dos afectos, do trabalho e da empresa, da saúde e da pobreza, da educação e da cultura, da justiça e da política. Os que assumis diferentes serviços e ministérios na vida e na pastoral da comunidade cristã. A nossa Diocese conta muito também convosco, aqueles a quem os anos encheram de sabedoria. A vossa etapa é de grande fecundidade: pelo testemunho do que vivestes que podeis dar às gerações mais novas; pelo voluntariado que podeis abraçar; pela oração de intercessão a que vos podeis dedicar; pela esperança que podeis partilhar, de quem não se limita a esperar o findar da vida mas se renova interiormente na alegria de caminhar decididamente para o Senhor.
Quero agora dirigir-me pessoalmente a ti, que tens uma relação intermitente com a Igreja; ou que até te afastaste dela por alguma razão que te magoou ou fez sentir excluído. A Igreja é a tua casa. Há aqui lugar e missão para ti. Não somos uma comunidade perfeita, temos defeitos; mas é precisamente porque temos lugar para todos. Não posso garantir que não haja desencontros. Mas posso garantir que, também aí, Jesus encontra maneira de reconciliar. Podes não poder ou conseguir aderir a todas a doutrinas; podes não poder ou conseguir participar em todos os momentos; podes não poder ou conseguir assumir todos os serviços: que isso não seja impedimento. São muitas mais as realidades que Deus te oferece e com as quais podes caminhar na busca do sentido e da santidade. Sem teres de o fazer sozinho, mas com uma comunidade de irmãos. Dirijo-me também a todos os consagrados e consagradas. Sois um tesouro precioso da nossa Diocese. Apontais que só Deus permanece e é o Absoluto. Refletis o amor trinitário de Deus na vossa vida fraterna. Cuidais de tanta gente com a vossa caridade, bebida na amizade com Cristo. As vossas comunidades são para muita gente porto de abrigo e recomeço nas horas mais duras. Desejo visitar-vos nos próximos dias. E peço-vos que na hora de avaliar da continuidade ou não da vossa presença nesta Diocese não esqueçais que o tesouro maior da vossa vida entre nós está mais no que sois do que no que fazeis ou já não podeis fazer.
Agora a minha palavra vai para vós, jovens. A diocese conta com o vosso dinamismo, a vossa inquietação, a vossa alegria, a vossa sede de descobrir, o vosso desejo de tomar parte e deixar marca. A partir do caminho já percorrido, multipliquemos entre nós espaços de convívio e proximidade em Cristo, para que as perguntas e as procuras possam ir encontrando resposta. Se estás a estudar aqui na Diocese, mas não és daqui, que isso não te impeça de caminhar connosco. Nenhum de nós tem aqui morada permanente mas foi aqui que o Senhor nos juntou e é aqui que Ele nos chama, agora, a crescer e a servir. E se algum escutar o apelo de Deus à vida consagrada ou ao sacerdócio, não tenha medo de se pôr num caminho de discernimento. E vós raparigas, se alguma sentir um apelo a consagrar a vida ao serviço da Diocese, não tenha medo de procurar quem a ajude. Também há lugar para vós, não só para os rapazes.
A próxima palavra é para vós, caros diáconos permanentes e meus colaboradores próximos. Quaisquer que sejam os ofícios que assumis, sede principalmente imagens vivas do serviço pascal de Jesus que veio para dar a vida em favor da multidão (cf. Mt 20,28). Sede animadores da missão de todos fiéis nos lugares da sociedade onde partilhais com eles a presença. Sede empenhados no cuidado dos bens da Igreja e no serviço da caridade. E aos ministros ordenados, recordai-nos que se entra no ministério pelo diaconado e servir é a nossa condição fundamental.
A penúltima palavra é para vós, Ricardo, Francisco e Gonçalo, nossos seminaristas. A Diocese e eu contamos convosco. Em primeiro lugar, como homens transparentes, livres e generosos, confiando nos vossos formadores, para poderem discernir e abraçar o que Deus realmente quer; depois como homens de Deus, aprendendo a ter vida interior, a assumir os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus (cf. Fil 2, 5). Em seguida, como homens que amem verdadeiramente os outros, que sejam capazes de relações amadurecidas, que vivam a alegria espiritual de ser povo, que queiram ser para este tempo. Finalmente, se forem sendo confirmados em vós os carismas do celibato sacerdotal e do ministério ordenado, como padres humildes e dados.
Desta vez, os últimos são os mais próximos. Meus queridos padres da Guarda. Um bispo não existe sozinho. Sacramentalmente unido a Cristo de quem é vigário, constitutivamente inserido num Colégio com os irmãos bispos, canonicamente confiado a uma Igreja, um bispo diocesano é no seio do seu presbitério que exerce o serviço a que foi chamado em favor do povo. Não é bispo para si, mas com e para o povo. Não exerce o seu múnus sozinho, mas com o seu presbitério. É convosco e com o santo povo de Deus que vou aprender, no dia a dia, a ser bispo.
Pelo menos desde há mais de setenta anos que a Guarda não recebia um bispo que não tivesse já iniciado previamente o exercício do ministério episcopal. Por isso, é ainda mais necessário que o nosso presbitério seja lugar de comunhão entre padres e bispo. Uma comunhão teológica, canónica e espiritual, mas também afectiva e efectiva. Convosco quero aprender, convosco quero construir. Também chego para assumir, de imediato, o cuidado pastoral e o governo da Diocese. Conhecer de ler e ouvir é diferente de conhecer de experiência feita. Sois vós quem a conheceis, numa entrega generosa e dedicada. Por isso quero aprender convosco; com todos; com os mais seniores e como os mais novos. A vossa voz conta. Nem sempre estaremos todos de acordo. Havereis de conhecer também as minhas limitações e fragilidades, que também sou fraco e pecador. Peço que tenhais paciência; que rezeis por mim e que me corrijais com caridade.
Da minha parte quero ser próximo e solícito, fraterno e paterno. Nesta comunhão e entrega pastoral seremos fermento para o caminho de renovação missionária da pastoral da nossa Diocese. Os Veneráveis Servos de Deus Dom João de Oliveira Matos e Mons. Alves Brás com certeza intercedem por nós.
Querida Diocese, vamos, mãos à obra! Voltados para a Esperança! Confiados ao Coração Imaculado da Virgem Maria que agora evocamos como Senhora da Assunção, padroeira desta Catedral e protectora da nossa Diocese.
Sé da Guarda, 16/03/2025
+ José Pereira