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Apontamentos sobre alguns dos temas abordados nas Jornadas de Formação de Clero

O primeiro dia das jornadas de formação do Clero da zona Centro ficou marcado pelos intervenção de D. António Moiteiro que abriu as Jornadas refletindo sobre a comunicação da fé em tempos de mudança. Inspirado na 2ª Carta aos Coríntios – “Acreditei, por isso falei” –, destaca a urgência do discipulado e do testemunho cristão. Recorda o envio de Maria Madalena e Pedro para anunciar a ressurreição e sublinha que a missão da Igreja hoje é encontrar Cristo vivo nas novas realidades sociais e comunitárias.

A renovação da Igreja exige transformação interior e compromisso com a fé, baseada na oração, reflexão teológica e serviço. O encontro com Jesus conduz à missão e requer fidelidade a Cristo e à comunidade. O bispo sublinha a importância de comunidades vivas e apostólicas, que inspirem novas vocações e cultivem o espírito eclesial. Destaca ainda que Deus continua presente, mesmo na aparente impotência da Igreja diante dos desafios contemporâneos.

Concluiu com um apelo à esperança, recordando as palavras do Papa Francisco: o futuro tem o nome de esperança. Deseja que as Jornadas sejam um momento de renovação e compromisso na missão evangelizadora.

De seguida o teólogo João Duque defendeu que a sociedade atual exige repensar a encarnação do cristianismo, desconstruindo algumas ideias do passado. No contexto das jornadas do clero das dioceses do centro, destacou que, apesar de vivermos num “tempo pós-cristão”, a fé continua a influenciar a cultura ocidental, a democracia e os valores da liberdade e emancipação.

Alertou para o perigo da “petrificação” dos ritos dentro das comunidades e sublinhou a importância da caminhada sinodal, que dependerá da dinâmica das comunidades. Para os padres, considera que as mudanças representam uma oportunidade, embora tragam desafios exigentes, incluindo questões de saúde mental devido ao isolamento. Defende uma liderança colegial sinodal para superar essa solidão.

Sobre a inteligência artificial, vê-a como um instrumento útil, rejeitando visões pessimistas sobre o futuro da humanidade. Quanto às redes sociais, alerta para os seus riscos, mas pede que se evitem alarmismos, comparando-as a outras revoluções comunicacionais ao longo da história.

Da parte da tarde foram abordados diversos assuntos em diversos workshops. Destacamos estes dois assuntos:

1. Inteligência Artificial e a Missão da Igreja Católica

A apresentação de Cláudio Teixeira explorou a crescente presença da Inteligência Artificial (IA) no quotidiano e como a Igreja pode utilizá-la na sua missão.

  • Conceitos e Aplicações: A IA é definida como um conjunto de algoritmos que imitam a inteligência humana, sendo aplicada em tradutores, reconhecimento facial, assistentes virtuais e sistemas de recomendação.
  • Demonstração: Um dos exemplos apresentados é a tradução simultânea para melhorar a experiência turística em igrejas, promovendo acessibilidade e inclusão.
  • Visão da Igreja: Documentos como Laudato Si’, Fratelli Tutti e Rome Call for AI Ethics destacam a necessidade de um uso ético da IA, respeitando a dignidade humana.
  • Desafios Éticos: Incluem viés algorítmico, privacidade de dados e desigualdade digital.
  • Oportunidades para a Igreja: A IA pode apoiar a evangelização, catequese e comunicação, tornando a Igreja mais acessível e interativa.
  • Riscos: Dependência tecnológica, distorção da mensagem e superficialidade espiritual são desafios a serem considerados.

2. Redes Sociais e a Comunicação da Fé

A apresentação de João Almeida focou-se no uso das redes sociais na evangelização e comunicação da Igreja.

  • Princípios básicos: Redes sociais conectam pessoas e comunidades, sendo fundamentais para a interação e divulgação de conteúdos.
  • Plataformas: O Facebook é mais abrangente e adequado para textos e eventos, enquanto o Instagram é mais visual e voltado para jovens.
  • Criação de conteúdo: Boas publicações devem conter texto relevante, imagens chamativas, hashtags e chamadas para ação.
  • Uso do Canva: Ferramenta de design gráfico útil para criar conteúdos atrativos.
  • Stories: Publicações temporárias aumentam a visibilidade e o engajamento.
  • Planeamento de publicações: Sugere-se um calendário de posts para manter uma comunicação constante e eficaz.
  • Boas práticas: garantir qualidade visual e respeitar a privacidade.

Ambas as apresentações destacaram como a tecnologia pode ser usada de forma ética e eficaz na missão da Igreja, equilibrando inovação com os valores cristãos.

Do segundo dia destacamos a intervenção de María José Schultz que refletiu sobre a evangelização atual a partir do exemplo dos primeiros discípulos e do Jesus histórico. Destacou que a missão dos discípulos não foi apenas transmitir doutrinas, mas narrar encontros transformadores com Jesus, despertando o desejo de conhecê-lo.

Os discípulos lembravam-se das experiências marcantes com Jesus: os milagres, a compaixão com os marginalizados e pecadores, e o impacto da sua presença. Jesus não via apenas doenças ou pecados, mas a dignidade e a humanidade de cada pessoa, curando não só fisicamente, mas também social e espiritualmente.

A conferencista sublinhou que evangelizar hoje significa testemunhar, contar experiências vivas com Cristo, preparando o coração das pessoas para o encontro com Ele. A evangelização eficaz não se baseia apenas na promessa da vida eterna, mas em mostrar como Jesus transforma vidas no presente, tornando a fé atraente e significativa.

Na segunda conferência a convidada analisou as estratégias de evangelização no cristianismo primitivo, focando no Evangelho de João, particularmente em João 1,29-51. A autora, María José Schultz, explora a relação entre o testemunho de João Batista e o reconhecimento progressivo da identidade de Jesus pelos seus discípulos.

Os principais pontos abordados foram:

  1. Reconhecimento de Jesus por João Batista – João identifica Jesus como o “Cordeiro de Deus” e o “Filho de Deus”, destacando a sua missão redentora e a presença do Espírito Santo sobre Ele.
  2. Testemunho e Chamamento dos Discípulos – O testemunho de João leva seus discípulos a seguirem Jesus. A busca de Jesus é descrita como um processo que exige escuta, fé e uma experiência pessoal.
  3. A Importância do Testemunho e do Encontro – O relato enfatiza que o discipulado começa pela experiência pessoal com Jesus. Aqueles que o encontram passam a testemunhar e atrair outros, como Andrés faz com Simão Pedro e Felipe com Natanael.
  4. O Processo de Formação da Identidade Cristã – A adesão à comunidade cristã passa por três etapas:
    • Primeiro, um vínculo psicológico com o grupo.
    • Depois, um envolvimento emocional e relacional.
    • Por fim, uma assimilação das crenças e práticas da comunidade.
  5. O Papel da Casa como Espaço de Evangelização – No contexto do Império Romano, as casas eram os primeiros espaços de acolhimento do cristianismo. A conversão dos líderes familiares impactava toda a estrutura social e doméstica, criando comunidades de partilha e solidariedade.
  6. Elementos Fundamentais para a Evangelização – A autora propõe que o sucesso da evangelização inicial se baseava em:
    • Testemunhas autênticas que transmitiam sua experiência com Jesus.
    • Espaços comunitários que promoviam acolhimento e fraternidade.
    • Práticas litúrgicas e rituais que ajudavam na conexão espiritual.
    • Ambientes de oração que permitiam o crescimento da fé e a busca interior.

A conferencista concluiu que a evangelização eficaz não impõe dogmas de imediato, mas respeita um processo gradual de descoberta e identificação com Jesus, culminando no compromisso e na santidade.

(em atualização)