“Comunicação da fé em tempos de mudança” foi o grande tema que envolveu estes três dias, 28, 29 e 30 de janeiro de 2025, das Jornadas do Clero das Dioceses do Centro, Aveiro, Coimbra, Guarda, Leiria-Fátima, Portalegre-Castelo Branco e Viseu. Aconteceram em Fátima.
D. António Moiteiro, bispo de Aveiro, abriu o encontro pedindo a construção de uma identidade cristã mais “pessoal e comunitária”: “o mundo precisa de uma terapia do amor”, disse.
O primeiro orador, professor João Duque, abriu a perspectiva do pós cristianismo, indicou a necessidade de “pensar o cristianismo de outro modo, desconstruindo algumas construções”. Falou da linguagem e do simbolismo, apontou desafios pessoais e institucionais do cristianismo.
O docente apontou que “Não há uma única forma de ser cristão” e questionou a relação do cristão não praticante com as paróquias. Cito: “Jesus pregava aos membros de uma multidão, que não tinham as características do cristão comprometido; não teremos de rever este estatuto? O cristão não praticante não poderá beber do cristianismo na sociedade? Que relação há nas paróquias com estes cristãos não praticantes?”
Mais: afirmou que a exigência do momento era a Igreja se “assumir como comunidade de crentes que dá a todos, independentemente dos cristãos que são; com a ideia básica que é para todos e que cada um recebe de forma diferente”.
A tarde foi preenchida com quatro ateliers:
Margarida Cordo, Psicóloga Clínica e da Saúde, Terapeuta Familiar e Psicoterapeuta, apresentou o tema “Multi-identidades”.
Já João Almeida, docente no Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática da Universidade de Aveiro, orientou o atelier sobre “redes sociais”.
A irmã Irene Guia, da Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, orientou o atelier “Multiculturalidades”.
E o atelier sobre a Inteligência Artificial (IA), foi da responsabilidade de Claudio Teixeira, Doutorado em Engenharia Informática pela Universidade de Aveiro.
A noite de 28 de janeiro terminou com serão de conversa sobre o documento final do sínodo, com D. José Ornelas e D. Virgílio Antunes, bispo de Leiria-Fátima e de Coimbra, respetivamente, numa conversa moderada por Leopoldina Simões.
No segundo dia das Jornadas, 29 de janeiro, Maria José Schultz convidou o clero para uma viagem pelos relatos evangélicos que dão conta como Jesus saiu ao encontro de pessoas, em diversas situações vitais. “Mudou vidas, levando outros a quererem ser pessoas melhores, mais eles mesmos, na responsabilidade e no compromisso com o bem que receberam“, disse.
A compaixão foi uma das atitudes destacadas pela oradora, e que em Jesus “prevalecia e emergia na sua maneira de olhar, julgar e tocar os outros”, um caminho da comunicação da fé.
Foram ainda partilhadas “dicas” para o caminho da evangelização, como os “testemunhos credíveis e coerentes”, “espaços físicos que facilitem a partilha e o acolhimento”, “ritualidades e práticas litúrgicas que promovam o encontro com Jesus” e “espaços onde se ensine a rezar, esperar e confiar”
Cito: “A memória dos discípulos de Jesus não inclui discursos dogmáticos, verdades indiscutíveis, regulamentos e instruções; não impõe um modelo de pessoa nem exige um compromisso com a primeira abordagem; Como vimos, é um processo gradual, primeiro de busca, de abordagem incipiente, de participação e, finalmente, de identificação”, sintetizou.
A tarde de quarta-feira foi preenchida com quatro ateliers:
A catequese familiar foi o tema do atelier com o casal Helena Pedrosa e Ivo Viegas e o padre Orlandino Bom, da diocese de Leiria-Fátima.
Já o padre Tiago Neto, do patriarcado de Lisboa, foi o orador do atelier intitulado “Pastoral da Gestação”.
“O ministério do presbítero em contextos de mudança” foi o tema do atelier orientado pelo padre António Jorge, da diocese de Viseu.
O casal Filomena e Júlio Martins e o padre Rui Ruivo, da diocese de Leiria-Fátima, tinham a tarefa de dinamizar o atelier “Corresponsabilidade e ministérios laicais”.
A noite teve um momento de descontração, com comédia, na companhia de Tomás Rodrigues.
No último dia das jornadas, 30 de janeiro, a manhã foi preenchida com duas intervenções do padre Juan Carvajal Blanco, da Diocese de Madrid. “A iniciação dos discípulos de Jesus, Cristãos num mundo plural”, foi o tema inicial e mostrou como a iniciação cristã é o caminho para as pessoas aprenderem a viver cristamente e se transformarem à semelhança de Jesus. Cito: “Se a fé se propõe como tarefa seremos considerados como gente estranha”, alertou o sacerdote que abordou a catequese que não se pode limitar a “seguir temas” mas que supõe “uma transformação”.
O orador citou ainda a realidade de muitas comunidades em que “há muitas experiências e formas de primeiro anúncio” mas questionou: “E depois? Falta a experiência com Cristo, o compromisso”.
A segunda conferência contemplou a importância da incorporação dos cristãos a uma determinada comunidade eclesial concreta, para se tornarem verdadeiras testemunhas do Evangelho na vida quotidiana a partir da experiência eclesial. Cito: “O encontro com Jesus Cristo não é uma emoção, nem voluntarismo, mas realismo, encontro real mediado pela humanidade, porque nos reconhecemos humanos”, referiu. E questionou os presentes quanto a este encontro real, “que podem fazer os padres se não se dedicarem a isto?”.
A tarde do último dia, 30 de janeiro, houve a possibilidade de ouvir a partilha de duas igrejas irmãs e sua reorganização pastoral, de Espanha e Itália, Diocese de Mondoñedo-Ferrol, D. Fernando García Cadiñanos e Arquidiocese Spoleto-Norcia, P. Pier Luigi Morlino.
Três dias em que a base foi a “comunicação da fé em tempos de mudança”, com pistas, boas práticas e desafios deixados ao clero das seis dioceses do centro. Os tempos de mudança estão aí…
Texto: facultado pela organização