Neste Domingo da Ascensão do Senhor, a Igreja celebra o 59.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, instituído pelo Concílio Vaticano II através do Decreto Inter Mirifica. Este documento, um dos primeiros do Concílio, sublinha a importância dos meios de comunicação no anúncio do Evangelho num mundo em mudança.
Como nos recordam os estudiosos Moraes e Souza (2023), “o Inter Mirifica assinala a passagem de um tempo; o ajuste da identidade, visão de mundo, valores, objetivos e compromissos da Igreja Católica diante de uma sociedade em transformação, marcada pela cultura da comunicação, que hoje se apresenta como uma cultura mediática digital.”
Foi o Papa São Paulo VI quem celebrou pela primeira vez este dia, a 7 de maio de 1967. Desde então, todos os anos, o Santo Padre publica uma mensagem por ocasião da memória de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, celebrada a 24 de janeiro.
Nos últimos anos, os temas propostos pelos Papas refletem a crescente complexidade dos desafios comunicacionais:
• Em 2022: “Escutai! A palavra é um meio, mas a escuta é um meio de paz”
• Em 2023: “Falar com o coração”
• Em 2024: “Inteligência Artificial e sabedoria do coração: por uma comunicação plenamente humana”
Em 2025, no contexto do Ano Jubilar “Peregrinos da Esperança”, o Papa Francisco, antes da sua partida e da eleição do Papa Leão XIV, deixou como herança a sua última mensagem para este Dia, intitulada:
“Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações” (cf. 1Pd 3,15-16)
Nesta mensagem, o Papa Francisco traça um verdadeiro programa espiritual e pastoral para os comunicadores do nosso tempo. Identifica quatro atitudes fundamentais para uma comunicação cristã que promova a esperança e cure as feridas do nosso mundo:
1. Desarmar a comunicação
Francisco denuncia o uso da linguagem como arma, seja em redes sociais, programas de opinião ou debates públicos, onde a comunicação muitas vezes promove medo, ódio e divisão. “Nunca dá bom resultado reduzir a realidade a slogans”, adverte, apelando a uma comunicação livre de agressividade e manipulação.
2. Dar com mansidão a razão da nossa esperança
Inspirando-se na Primeira Carta de São Pedro, o Papa recorda que a esperança cristã tem rosto — o de Cristo ressuscitado — e que os cristãos não são apenas transmissores de ideias, mas testemunhas de uma nova forma de viver. “É o amor vivido que suscita a pergunta e exige uma resposta”, escreve.
3. Esperar juntos
A esperança, lembra Francisco, não é um esforço solitário, mas um projecto comunitário. Num mundo fragmentado, a comunicação deve ajudar a tecer comunhão, partilhar histórias de bem e fazer ecoar o grito dos últimos, mostrando que é possível recomeçar com misericórdia e dignidade.
4. Não esqueçais o coração
Por fim, o Papa convida à cura da vida interior, alertando para os riscos do protagonismo e da superficialidade. Dirige-se especialmente aos comunicadores:
“Sede mansos e nunca esqueçais o rosto do outro; falai ao coração das mulheres e dos homens ao serviço de quem desempenhais o vosso trabalho.
Não permitais que as reações instintivas guiem a vossa comunicação. Semeai sempre esperança, mesmo quando é difícil, quando custa, quando parece não dar frutos.
Sede testemunhas e promotores de uma comunicação não hostil, que difunda uma cultura do cuidado, construa pontes e atravesse os muros visíveis e invisíveis do nosso tempo.
Contai histórias imbuídas de esperança, tomando a peito o nosso destino comum e escrevendo juntos a história do nosso futuro.”
Esta mensagem, agora recebida no início do pontificado de Papa Leão XIV, é um legado de Francisco à Igreja e aos profissionais da comunicação. Um verdadeiro testamento pastoral e missionário, que nos recorda que comunicar é mais do que informar: é servir a verdade, cultivar o bem, e ser canal da esperança que brota do Evangelho.
Que Jesus, o Comunicador por excelência, abençoe todos os que se dedicam à missão de comunicar ao serviço da vida, da verdade e da dignidade humana.
Imagem: Jornal de Proença
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