Uma reflexão do Padre Martins Almeida, Sac. Diocesano
A celebração da Festa do Batismo de Jesus é uma oportunidade para refletirmos sobre o nosso batismo, o que ele é e significa para nós, o impacto que ele tem na nossa vida.
- O batismo pressupõe a fé. Jesus deixa bem claro que os apóstolos só devem batizar aqueles que, depois de ouvirem o seu Evangelho, acreditam n’Ele (Mc 16,15-16). Só quem conhece Jesus pode acreditar n’Ele, e só quem acredita deve ser batizado em seu nome!
Se recebeste o batismo em criança, foste batizado(a) na fé dos teus pais e padrinhos, pois não tinhas a capacidade de conhecer e acreditar em Jesus. Depois, no decorrer da tua vida, tiveste e aproveitaste a oportunidade de conhecer pessoalmente Jesus, o Jesus do Evangelho, o Jesus da Boa Nova do reino de Deus, o Jesus do Natal e da Páscoa? Conheces Jesus ao ponto de te sentires seduzido e conquistado por Ele? Reconheces, acreditas e acolhes Jesus na tua vida como teu Senhor e Salvador, teu Mestre e guia, teu companheiro e amigo?
Sentes que Ele faz toda a diferença na tua vida, no sentido e na intensidade com que vives, com que te relacionas e te entregas aos outros? Ele poderá sentir que tem um lugar garantido no teu coração? Consideras que os teus pais fizeram bem ao pedir o batismo para ti e experimentas gratidão por isso?
Se és pai ou mãe e já pediste o Batismo para o teu filho, lembra-te do compromisso que assumiste. Tu és o principal responsável por levar o teu filho, através da tua palavra e do teu exemplo, ao conhecimento e à fé em Jesus! Tem presente o que os teus pais fizeram contigo e imita-os ou, se for o caso, faz melhor!
Somos, de facto, filhos de Deus”(1Jo 3,1-2)!
- O Batismo é o “nascer da água e do Espírito” (Jo 3,5), o nascer do Alto, o nascer como filhos de Deus, participantes da sua vida divina! O Batismo opera em nós algo de extraordinariamente admirável: Deus partilha connosco o seu amor e a sua vida, faz de nós seus filhos, dando-nos acesso ao seu coração, à sua intimidade! Somos filhos com direito à sua herança: “somos herdeiros, herdeiros de Deus e herdeiros com Cristo” (Rom 8,17)!
Tu, que és batizado, dás conta e tens consciência que existe em ti algo de divino, algo que te eleva e aproxima de Deus, algo que te capacita e te impele a relacionar-te e a viver em comunhão com Ele? Captas a presença e a proximidade de Deus, sentes que Ele te quer e te ama, te presta atenção e se preocupa contigo, te inspira confiança e segurança como um Pai?
Reconheces que ter Deus como Pai implica olhar, sentir, amar e tratar os homens como irmãos? Vês a lógica e aceitas que ser e viver como filho de Deus acarreta ser e viver como irmão de todos os outros filhos de Deus? Não é possível amar Deus Pai com o coração de filho único, isto é, como se não existissem irmãos!! Não se pode separar a paternidade divina da fraternidade humana!
Ser filho de Deus e irmão dos homens, a grande novidade do batismo, é para ti apenas uma doutrina que conheces e aceitas ou é algo que toca a tua existência, o teu modo de ser e de viver, mesmo os teus sentimentos, atitudes e ações?
- O Batismo, precisamente porque faz de nós filhos de Deus, introduz-nos na família alargada de Deus, a Igreja! Esta é formada por todos os que acreditam em Jesus e são batizados em seu nome. Na verdade, a lógica e a coerência da fé implicam que quem acredita em Jesus e é batizado viva unido e em comunhão com todos aqueles que partilham a mesma fé e receberam o mesmo Batismo! Não pode ser de outro modo.
São Paulo, para exprimir e defender a interligação e interdependência, a unidade e a comunhão que devem existir no seio da Igreja/família de Deus, usa a imagem do corpo humano (1Cor 12,12-31). O corpo humano só funciona bem se cada membro realizar a missão que lhe é própria. Por sua vez, cada membro só pode realizar a sua missão, se estiver e se mantiver unido a todos os outros membros do corpo. Sim, se um membro quisesse ser autónomo e viver desligado do corpo, simplesmente não conseguiria sobreviver e, ao mesmo tempo, poria em causa a sobrevivência do corpo.
O mesmo acontece na e com a Igreja, a família de Deus, o Corpo de Cristo. Ilude-se e engana-se quem pensa e se convence que pode ser e viver como verdadeiro cristão, vivendo desligado e à margem da Igreja, sem contactos e sem encontros com os outros batizados. Quem reduz a sua fé a uma mera questão pessoal e, nessa linha, confina a vivência da mesma ao âmbito da vida privada, suicida o seu ser cristão, pois a fé cristã é, intrínseca e necessariamente, comunitária.
A nossa pertença à Igreja bem como a nossa condição de filhos de Deus e de irmãos uns dos outros só as podemos viver no concreto de uma comunidade cristã, normalmente uma paróquia.
Tu tens o sentido de pertença, vives inserido e integrado numa comunidade cristã? Sentes a comunidade como imprescindível para aprofundares, celebrares e viveres a tua fé? Assumes que como cristão tens uma missão a desempenhar na e com a Igreja, para que esta no seu todo possa realizar a missão que Jesus lhe confiou?
4. O Batismo torna-nos participantes da vida e da missão de Jesus, muito especialmente da sua morte e ressurreição. São Paulo afirma-o claramente: “todos nós que fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte … para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, também nós vivamos uma vida nova” (Rom 6,3-4).
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