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Bispo Emérito em entrevista: o Natal em terras de missão

Sumbe, Angola – 21 de dezembro de 2025 (entrevista à agência ECCLESIA e RR) – D. Manuel Felício, bispo emérito da Diocese da Guarda, atualmente em missão na Diocese de Sumbe, defendeu a necessidade de uma “amnistia geral” em Angola, considerando que grande parte da população continua a viver condicionada pelo medo, fruto de alinhamentos políticos e sociais do passado.

Em entrevista conjunta à Renascença e à Agência ECCLESIA, o prelado sublinhou a importância do recente Congresso da Reconciliação, promovido pela Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, que contou com a presença do Presidente da República, João Lourenço.

“É preciso que aqui acabem os medos. As pessoas vivem com medo. Portanto, que haja uma lei da amnistia geral, para que deixem de ter medo por alinhamentos políticos ou sociais que tiveram e que agora estão a pagar faturas elevadas”, afirmou.

D. Manuel Felício encontra-se em Angola desde abril, onde está a reativar o Centro de Espiritualidade da Missão Dom João de Oliveira Matos. O bispo emérito confirmou o retrato social exigente traçado pelos bispos angolanos, apontando situações de pobreza extrema e a ausência de infraestruturas básicas.

“Aqui há situações de pobreza bastante extrema”, referiu, lamentando a falta de estradas, de água canalizada e de eletricidade, mesmo em zonas próximas de redes energéticas existentes.

“A eletricidade está aqui a dois passos, mas na Kilenda não há. São apenas 20 quilómetros de rede que há muito tempo se prometem, mas que não se concretizam.”

O responsável denunciou ainda uma política fiscal que classificou como “violenta”, relatando o encerramento de pequenos comércios devido à ação do fisco, sem que a receita arrecadada se traduza numa melhoria das condições de vida da população.

A viver o seu primeiro Natal em terras africanas, D. Manuel Felício descreveu uma celebração marcada pela simplicidade e pela centralidade do essencial da fé cristã.

“Vou viver o Natal sem luzes na rua, sem Pais Natal a passear, sem reclames comerciais”, disse, acrescentando:

“É um Natal com parcimónia de símbolos, mas voltado para o essencial, que é o Presépio e o Menino Jesus.”

O bispo destacou também a forte solidariedade das famílias angolanas, onde a partilha é regra, contrastando com o que designou como algum “frio humano” sentido na Europa.

Referindo-se à realidade portuguesa, manifestou preocupação com sinais de fecho à imigração, alertando para a necessidade de mão-de-obra estrangeira em setores essenciais.

“O nosso setor social, se não for a migração, não tem gente para responder às necessidades dos lares e dos cuidados ao domicílio”, advertiu.

Defendendo uma legislação orientada para a integração, criticou o foco excessivo na lei da nacionalidade, apelando a uma abordagem mais humana.

“Tínhamos de apostar era numa migração humanizada”, afirmou.

Após 20 anos à frente da Diocese da Guarda, D. Manuel Felício partiu para Angola, recusando o descanso habitual dos bispos eméritos, para abraçar um desafio missionário centrado na formação de leigos e no apoio social, decisão que descreveu como uma “oportunidade positiva” ao serviço da Igreja e das populações locais.