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D. João de Oliveira Matos – O evangelizador da Diocese da Guarda

A figura do Venerável Servo de Deus D. João de Oliveira Matos continua a ser uma memória incontornável na vida da Diocese da Guarda. Confirmam-no os que ainda o conheceram e outros que, sem o terem conhecido, sentem os efeitos da sua ação de pastor e evangelizador desenvolvida através de toda a Diocese, durante largos anos.

Muito cedo se começaram a revelar, no jovem sacerdote, Padre Matos Ferreira, a sua dedicação e os seus especiais dotes de pastor e de ação apostólica, o que não passou despercebido aos olhos do novo Bispo D. Manuel Vieira de Matos, que, acabado de chegar à Diocese, logo o convidou para integrar a equipa do Seminário do Mondego, criado na Quinta da Mitra.

Voltou a afirmar-se, quando tomou conta das pregações quaresmais, na ausência do Bispo Diocesano, que fora expulso da sede da Diocese, em resultado da Revolução Republicana de 1910; continuou a evidenciar-se durante os poucos anos em que foi Pároco em Celorico da Beira, mormente na forma como se dedicava ao Ministério da Palavra. Consta que, em determinada Quaresma, organizou aí uma formação sobre as bem-aventuranças, a qual foi de tal modo participada que, 50 anos depois, uma testemunha relatava assim o sucesso: “O povo, em pé, comprimia-se na Igreja, escutando com toda a atenção. E o que mais impressionava era o seu duplo sermão: o da palavra e o do exemplo” (S. de CARVALHO – Um Bispo para o nosso tempo, p. 107).

Depois de passar 5 anos em Braga, como secretário do arcebispo D. Manuel Vieira de Matos, em boa hora, o Bispo da Guarda D. José Matoso teve a feliz ideia de pedir o seu regresso à Diocese, para lhe confiar as funções de visitador diocesano, que ele iniciou em meados do ano de 1920. Complementarmente, o Papa Bento XV concedeu-lhe a faculdade de presidir ao Santo Sacramento do Crisma e, passados três anos, já tinha visitado 300 paróquias, sempre com programa muito exigente, que realmente deixava as pessoas com marcas profundas do evangelho e muito transformadas, operando-se mesmo muitas e verdadeiras conversões.

O Sr. D. João fazia as visitas pastorais por arciprestado e fixava-se, em cada paróquia, durante todo o tempo necessário para cumprir o programa da visita. Este incluía sempre saudação inicial e visita ao cemitério, pregação diária, de manhã (madrugada) e à noite, na Igreja Paroquial e, durante o dia, iniciativas variadas de formação e catequese para crianças e outras idades, sabendo nós que da visita pastoral fazia parte a administração do Santo Sacramento do Crisma. Incluía também longas horas de atendimento no Confessionário para o Sacramento da Reconciliação. E como todo o proces-so de evangelização requer a primazia da ação de Deus, que precede sempre, com a sua graça, as iniciativas do evangelizador, ele próprio dedicava, no seu programa diário, longos tempos à oração pessoal e pedia oração também a outras pessoas, antes e durante os trabalhos destas visitas.

Chegou a dizer para os seus colaboradores mais diretos que, neste trabalho das visitas pastorais, trazia sempre na memória o modelo do grande arcebispo, agora S. Bartolomeu dos Mártires.

De facto, a Diocese, no seu conjunto, ficou outra, depois da ação pastoral do Sr. D. João; e as visitas pastorais foram o grande ponto de viragem, principalmente na catequese e, em geral, na formação da fé, quer através dos retiros, que praticamente se institucionalizaram, em vários pontos espalhados pelo todo diocesano, quer pelas propostas de espiritualidade centrada no Mistério da Eucaristia.

Não nos admira, por isso, que a sua intervenção no encerramento do 1º Congresso Eucarístico Nacional, que o fez retornar a Braga, a meio do ano de 1924, poucos meses depois de ter fundado a Liga dos Servos de Jesus, tenha sido tão extraordinariamente acolhida e mesmo aplaudida.

O legado pastoral do Sr. D. João como evangelizador da Diocese continua, por isso,  a interpelar-nos principalmente para fortalecer a proximidade às pessoas e às comunidades, para lhes distribuir o Pão da Palavra e da Eucaristia, como ele fazia, para levar cada vez mais a sério a força da oração, em todo o processo evangelizador. Acrescente-se-lhe o exemplo que nos deixou da obrigação cumprida de descobrir e recrutar os colaboradores necessários para o serviço da evangelização e da pastoral das comunidades, próprio de todo o pastor. Por isso, aprendemos com ele a identificar bem esses potenciais colaboradores, a chamá-los, a formá-los, a acompanhá-los e mesmo a providenciar pela sua melhor organização, como aconteceu com a fundação da Liga dos Servos de Jesus.

Guarda, 16.2.2024

+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda