Skip to content Skip to footer

Depois da Visita “ad Limina”

Aos Diocesanos

Cumpriu-se a Visita “ad Limina Apostolorum” dos Bispos Portugueses, que decorreu de 20 a 24 deste mês de maio. Cada um de nós Bispos levou consigo a realidade e as preocupações da sua Diocese.

Estas já tinham feito parte do “ Relatório Quinquenal” que chegou a Roma impreterivelmente até ao final do mês de janeiro.

O espírito da Visita “ad Limina Apostolorum” é que ela seja feita em atitude interior de oração e de peregrinação.

Por isso, esta nota foi aquela que quisemos colocar à frente de todas as outras. Celebrámos na cripta da Basílica de S. Pedro, no Vaticano, diante do sepulcro do mesmo Apóstolo S. Pedro, aquele a quem Jesus confiou a responsabilidade primeira de conduzir a Sua Igreja e sobretudo de garantir a Fé de todos os discípulos. Celebrámos também na Basílica de S. Paulo, fora de muros, onde está o seu túmulo. Igualmente o fizemos ma Basílica de S. João de Latrão, que é a Catedral do Papa e referência para todas as Igrejas e suas catedrais; e na Basílica de Santa Maria Maior, testemunha milenar da devoção do Povo de Deus a Nossa Senhora, Maria Santíssima, que remonta às suas origens. E ainda peregrinámos à Igreja de Santo António dos Portugueses, que é uma presença secular do mundo português em Roma.

Nos encontros com os diferentes dicastérios da Cúria Romana, dialogámos sobre as grandes preocupações da Igreja na hora atual e recebemos algumas orientações que vão certamente ajudar os nossos serviços diocesanos e a nossa ação pastoral no seu todo a melhorar.

Assim, a sinodalidade, quando decorre um Sínodo sobre o assunto, as vocações de especial consagração e a vida religiosa dentro da Igreja Particular ou Diocese, as vocações sacerdotais, seu acompanhamento e formação nos Seminários; a responsabilidade de evangelizar, seja com o primeiro anúncio, no mundo da missão “ad gentes”, sejam as formas de evangelizar nas Igrejas mais tradicionais, desde a catequese para todas as idades até à intervenção nos mundos da cultura e da educação, com as escolas e universidades ou da comunicação social, foram algumas dessas preocupações.

Por sua vez, as grandes questões da Fé e da disciplina, os mundos específicos dos leigos, da Família e da Vida enquanto tal, bem como a prática organizada da Caridade, com atenção particular aos mais necessitados, incluindo migrantes e refugiados, o mundo da oração e das celebrações do Povo de Deus estiveram muito presentes nos encontros desta visita “ad Limina Apostolorum”.

A realidade dos ministérios na vida da Igreja, sempre com a preocupação de os conjugar bem, a começar pela relação entre ministérios ordenados e ministérios confiados a leigos, bem como a formação que a todos é devida, foi outro assunto tratado em vários dos dicastérios que visitámos. E viemos com a convicção fortalecida   de que este é assunto determinante para a vida da Igreja e concretamente das nossas comunidades.

Também falámos sobre a aplicação da justiça na vida da Igreja, uma justiça que queremos seja sempre expressão da Misericórdia infinita de Deus; e recebemos sugestões e algumas orientações sobre o funcionamento dos tribunais eclesiásticos. Não podemos esquecer que temos um Código de Direito Canónico para regular a vida da Igreja, incluindo as suas relações com a sociedade civil e para este aspeto temos em Portugal uma Concordata, que, por sinal,  foi várias vezes referida nos diferentes dicastérios que visitámos.

A Visita terminou na audiência  com o Santo Padre.

Por vontade do mesmo, não houve discursos formais, mas diálogo espontâneo, à sua volta, com os Bispo diocesanos e auxiliares.

Praticamente, nesta conversa foram retomados os assuntos referidos, com o Papa a expressar-se em castelhano, como sabemos a sua língua materna, e pedindo que também nós nos expressássemos em português. Foram duas horas muito agradáveis, em que o Papa, sem perder o seu sentido de humor e sempre com expressões muito espontâneas, nos animou a prosseguir o trabalho pastoral, nas nossas dioceses e suas comunidades.

Dois assuntos desta conversa podemos destacar. Um deles foi o mundo dos jovens e da pastoral juvenil; o outro, a realidade dos migrantes e refugiados.

Quanto ao primeiro, fez espontaneamente memória da Jornada Mundial da Juventude/2023, sublinhando que o que está em causa não é pedir coisas para os jovens fazerem, mas sim pôr os jovens a pensá-las e a fazê-las, participando, por dentro, em todos os processos.

Sobre os migrantes e refugiados, tema recorrente no magistério deste Papa, referiu que, e cito de memória, “vós sois um povo que foi emigrante e foi criando mundos novos. Agora tendes de acolher os imigrantes que vos procuram, porque o mundo em que vivemos é um mundo de migração constante. E sendo Portugal também um país de fraca natalidade, vós precisais dos imigrantes, como eles precisam de vós. Por isso, acolham-nos, integrem-nos, formem-nos e vivam juntos, criando, assim, um futuro melhor para todos”.

Estas foram algumas das recomendações que o Papa nos deixou, na audiência a que nos estamos a referir.

Agora é o tempo de dar graças a Deus pela Visita “ad Limina Apostolorum” e de lhe pedirmos a graça de sabermos implementar entre nós, da melhor maneira possível, os seus resultados.

26.5.2024

+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda