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Fazenda da Esperança – “70×7”

Igreja/Sociedade: «Espiritualidade, trabalho, convivência», o tripé que ajuda a recuperar projetos de vida na Fazenda da Esperança

Miguel Alfama e “Emanuel” estão a reconquistar o controlo da sua vida na Fazenda da Esperança em Portugal, são dois utentes da casa que acolhe pessoas com dependência de álcool, drogas e jogo, na Diocese da Guarda.

“Eu estou invadido pelo carisma da fazenda e, assim, sinto que consigo tudo aquilo que eu quiser; Eu vim para cá como alguém com muita pouca energia, com muitas atribulações, e custava-me imenso, por exemplo, sair da cama às seis e meia da manhã, que tem sido uma rotina. Custava-me trabalhar, até tomar banho custava”, partilhou Miguel Alfama com a Agência ECCLESIA.

A Fazenda da Esperança é um projeto internacional que nasceu no Brasil há mais de 40 anos, e está em Portugal há 12 anos; foi inaugurada no dia 6 maio de 2012, em Maçal do Chão (Celorico da Beira), na Diocese da Guarda, e acolhe pessoas que querem recuperar a sua vida da dependência do álcool, das drogas e do jogo, através de um processo assente no tripé ‘espiritualidade, trabalho, convivência’.

“O nosso tripé é como se fosse o guia. Temos sempre de pensar na espiritualidade, na convivência e no trabalho, temos sempre de procurar levar isso para a frente para preservar, seja naquilo que for, para a nossa vida inteira”, desenvolveu Miguel Alfama, jovem de 23 anos, natural de Torres Vedras.

Na Fazenda da Esperança “Mártires do Brasil”, em Maçal do Chão, estão nove pessoas, sete em recuperação de alguma adição, vivem com o responsável da casa, um jovem brasileiro que passou também por esse processo, e um voluntário.

“Cá dentro é uma casinha quentinha longe do lobo mau que não nos deixa fazer coisas más, não nos deixa disparatar. Então, eu estou a passar um tempo cá dentro sóbrio, que antes era muito difícil. Eu antes não sorria sequer, eu era mesmo uma pedra e agora tenho energia, e graças a Deus”, refere Miguel Alfama, revelando que o que mais gosta “é a comunidade com os amigos e a hora do treino”, no “ginásiozinho na garagem onde dá para descontrair”.

Já “Emanuel”, nome fictício, trabalhava na construção civil, onde era armador de ferro, e lembra que andou à procura, com a sua esposa, de outros locais para este tratamento mas, com quatro meses e uns dias na Fazenda da Esperança, projeto que conheceu em Cabo Verde, entende que “o propósito era a Fazenda, e não outra clínica”

“Eu precisava era de Deus, porque eu estava trabalhando, estava ganhando, e a minha esposa a trabalhar, a ganhar, tínhamos dinheiro para viver tranquilo e sem fazer coisas erradas, mas, na verdade, acredito que faltava um bocadinho de tempero, como falamos na nossa terra, que é o amor. Não que nos outros lugares não consiga o amor, mas eu precisava de afastar, de ir para o deserto e chegar ao pé de Deus”, explicou em entrevista à Agência ECCLESIA.

Cada utente fica na Fazenda da Esperança durante um ano, “Emanuel” é o cozinheiro da casa “Mártires do Brasil”, praticamente desde o iniciou do seu tratamento, e realça que “não foi difícil entrar na cozinha” mas, às vezes, é um lugar “bastante doloroso” porque fica sozinho com os seus “pensamentos e a saudade”.

“Tem alguma coisa que incomoda que acredito que é saudade, a falta de família. Acho que é a única coisa que incómoda, porque gosto desse lugar e gosto do tempo, não do tempo do verão, mas do tempo mais frio; esse lugar é bastante bom: bastante bom para viver, o silêncio, a ouvir simplesmente a natureza, a ouvir as ovelhas lá em baixo, ir para o pomar, as frutas, e ter esse tempo de frio, é bem fixe”, assinalou o jovem cabo-verdiano.

“Emanuel” afirma que “o plano é ir para fora e trabalhar e juntar a família” e fazer o que sempre fez na sua recuperação, isto é, voluntariado, ser solidário e ajudar os outros, porque a partir do momento em que deixou de “ajudar as pessoas, entendia que já não era necessário fazer tantas coisas assim, iniciou a recaída”.

Durante o tempo de recuperação não têm televisão, nem telefone, dinheiro, e, claro, não há bebidas alcoólicas, nem tabaco, a família pode visitá-los mensalmente, a partir do terceiro mês.

Miguel Alfama, o jovem de 23 anos, conta que foi para a Fazenda da Esperança “principalmente para os pais terem um tempo de descanso, porque levava um estilo de vida muito radical”, não se importava com eles “a 100% como deve ser”, mas, agora, quando o visitam já se sente “diferente, mais em casa”.

“O que é que me faz sorrir? Acho que todas as boas ideias, todos os momentos de partilha. Que a minha família consiga sorrir também. Isso faz-me sorrir muito.”

A ‘Fazenda da Esperança’ nasceu no Brasil em 1983, foi fundada pelo leigo Nelson Rosendo, na altura um jovem com 21 anos, e pelo frade franciscano Hans Stapel, um sacerdote alemão a trabalhar nesse país lusófono; quatro décadas depois estão em 26 países, dos cinco continentes.

A Fazenda da Esperança ‘Mártires do Brasil’ em Portugal, na Diocese da Guarda, vai estar em destaque no Programa ‘70×7’ deste domingo, a partir das 07h35, na RTP2.

Notícia – agencia ECCLESIA – CB/OC