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Homilia de D. Manuel Felício na noite de Natal

Missa da Meia Noite – Sé Catedral

O Povo que andava nas trevas viu uma grande luz- diz-nos hoje o Profeta Isaías. E isto porque, continua o mesmo profeta, um Menino nasceu para nós, que é o Conselheiro Admirável, Deus Forte, o Príncipe da paz.

E nós agora sabemos que esse menino é o Menino do Presépio, o Senhor Jesus, que o principal documento do Concílio Vaticano II chama a luz dos povos (Lumen Gentium).

 S. Paulo, na carta a Tito, que acabámos de escutar, diz-nos que o mesmo Menino Jesus é a manifestação da graça de Deus e fonte de salvação para todos os povos.

Irmãos e irmãs, nesta noite santa, queremos, mais uma vez parar diante do Presépio de Belém para aprendermos bem a lição que o Menino Jesus nos quer dar.

Essa é uma lição de humildade e de proximidade; uma lição que relativiza tudo o que são riquezas e importâncias deste mundo.

Assim, ficamos a compreender que quem é rico, porque verdadeiro dono de todas as riquezas, se fez pobre; quem possui todo o poder do mundo, se colocou ao serviço de todos; para desfazer todas as distâncias, se fez um de nós, no mistério da Encarnação, sem qualquer privilégio, mas, pelo contrário,  começando a sua vida  a partilhar a pobreza e mesmo o desconforto dos sem abrigo, pois para Ele, no Seu nascimento, não houve lugar dentro da cidade. Por isso, foi nascer fora de portas e na pobreza da manjedoura do Campo dos Pastores.

É por isso que o Nascimento de Jesus é o grande sinal e a mais eloquente mensagem de esperança que poderíamos imaginar num mundo como o nosso, muito marcado pelas sombras do medo e da incerteza. Ele, de facto, é a luz para quantos andam à procura do seu próprio caminho,  no meio das trevas que nos cercam.

De facto, a vida de todos e cada um de nós é uma jornada, na qual nós somos caminhantes rumo à meta da vida eterna do Reino de Deus. Não temos, por isso, aqui morada permanente, estamos todos a caminho e em muito nos podemos ajudar uns aos outros, tanto na identificação desse caminho como depois no esforço para o percorrermos até ao fim.

À partida, andamos todos envolvidos nas trevas da incerteza e do desconhecimento sobre qual é co verdadeiro rumo do percurso que devemos tomar. Felizmente que vem em nosso auxílio a luz de Belém, pois, tremeríamos de medo e de ansiedade, se não soubéssemos que há alguém sempre a caminhar ao nosso lado. Esse alguém é Jesus, o Menino recém-nascido do Presépio, que, de facto, nasceu numa manjedoira por não haver para Ele lugar dentro da cidade.

Ora, no nosso mundo atual, as trevas  são as várias formas de violência contra a vida humana, que infelizmente continuam a marcar os acontecimentos da nossa história coletiva.

E, a avaliar pelas notícias que constantemente nos entram em casa sem pedir licença, parece-nos que o mundo atual está a ser governado pela lei da violência, contrariamente ao que para todos é desejável. Ainda nesta noite passada, foram mais 58 as vítimas mortais resultado da violência da guerra e, para mais em terras da Palestina, que nos lembram a Pessoa de Jesus.

Por isso, mesmo em noite de festa, como é para a nós a Noite de Natal, não podemos deixar de lembrar as vítimas das guerras que se multiplicam no mundo, como são os casos da Ucrânia, da Palestina ou do Mian-Mar, além de outros.

Vemo-nos, assim, obrigados a dar razão às palavras do Papa Francisco, quando fala na terceira guerra mundial aos pedaços.

O que está em causa, nos dramas que afligem de tantos seres humanos vítimas da Guerra, é o respeito pela vida humana.

E nós sabemos que a vida é um dom de Deus oferecido a todos e cada um de nós, dom esse que  precisamos de saber proteger bem, desde o seu início até ao fim, sem exceções. Por isso, a violência que destrói a vida ou a enfraquece não a podemos tolerar. Isto porque a proteção da vida em todas as suas formas e etapas é o mais elementar cumprimento do respeito pelos direitos humanos e a fonte da verdadeira esperança.

Hoje mesmo o Papa Francisco abriu a porta do Jubileu de 2025 na Basílica de S. Pedro em Roma.

Nós, como acontece em todas as Dioceses, vamos abrir o mesmo Jubileu de 2025 no próximo domingo, nesta Sé da Guarda, com o programa que já foi anunciado.

Com este Jubileu toda a Igreja deseja abrir de par em par as portas para oferecer refúgio e conforto aos caminhantes que procuram discernir o seu caminho, quantas vezes às apalpadelas, neste mundo em trevas. E nós desejamos também, quer com as peregrinações à catedral, único lugar jubilar da Diocese quer com outras práticas recomendadas, abrir as portas da nossa vida à Pessoa de Jesus e beneficiar dos abundantes frutos da Miseri-córdia divina, colhidos principalmente através da Indulgência Jubilar.

Todos nós, enquanto discípulos de Cristo, temos a responsabilidade testemunhar esta luz que brilha nas trevas e, particularmente durante o tempo do Jubileu, os abundantes dons de Deus que, pela Indulgência, Ele nos quer comunicar.

Enquanto aguardamos a chegada do nosso Bispo, nomeado na passada sexta-feira, desejamos fortalecer, nesta Natal,  a vontade de, sob a sua orientação, progredirmos na alegria que nos vem de Jesus e da luz que Ele representa para as nossas vidas.

Que este Natal seja para todos nós ocasião bem aproveitada para pararmos, uma vez mais, diante do Presépio e aprendermos de novo a lição do Menino Jesus.

Boas Festas de Natal para todos vós e vossas famílias.

24.12.2024

+Manuel da Rocha Felício