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Igreja Paroquial de Malhada Sorda: Descoberta de raríssimo ciclo iconográfico sobre São Miguel

A Fundação Família Luzia Esteves Pinheiro e a Diocese da Guarda anunciam que a continuação dos trabalhos de conservação e restauro das pinturas murais da Igreja Matriz de Malhada Sorda trouxe à luz do dia um raríssimo conjunto de magníficas pinturas de evidenciada qualidade artística, realizadas, muito provavelmente, ainda em finais do século XV.

O historiador de arte Ruy Ventura (investigador no Centro de História da Sociedade e da Cultura, da Universidade de Coimbra), procedendo a uma apreciação preliminar do conjunto, defende que se trata de um ciclo iconográfico relacionado com o padroeiro da igreja, São Miguel. O retábulo fingido em pintura mural, do qual faziam parte pelo menos cinco pinturas, tem um carácter narrativo. Essas cenas, circundadas por um enquadramento gótico, permitem, para já, identificar algumas das aparições do Arcanjo, narradas num texto do século IX e também na “Lenda Dourada”, obra escrita no século XIII pelo dominicano Jacopo de Varazze, arcebispo de Génova. Tanto quanto pode ser visto já nessas obras de arte, antes da sua limpeza, conservação e restauro (em curso), estamos perante pelo menos três momentos ocorridos no Monte Gargano (Itália), talvez o principal santuário dedicado ao chefe das milícias celestes: o Milagre do Touro; a aparição do Arcanjo ao bispo de Siponto, que lhe pede a proteção contra os napolitanos, ainda pagãos; e a deslocação de todas as autoridades da cidade à igreja dedicada a São Miguel, agradecendo a sua intervenção sobrenatural, que lhes garantiu a vitória sobre os inimigos e a sua posterior conversão. Uma quarta cena existia sob esta, mas foi em grande parte destruída. No centro, temos uma grande representação da figura angelical, sob a qual poderia existir uma quinta “história”, entretanto eliminada.

Segundo o investigador referido, este conjunto pictórico revela influência das gravuras de Michael Wolgemut, que acompanham a “Crónica de Nuremberga”, de Hartmann Schedel, mas também de outros gravadores de finais do século XV. Tem ainda semelhanças fortes com o trabalho de Maestro Bartolomé, pintor que trabalhou na mesma época em Ciudad Rodrigo (urbe espanhola que chegou a ter jurisdição religiosa sobre a região onde se situa Malhada Sorda), nomeadamente no retábulo principal da sua catedral.

A conclusão dos trabalhos de limpeza das pinturas e a observação das pinturas in loco permitirá, a seu tempo, desenvolver estudos mais alargados sobre o conjunto pictórico.