Vamos viver o Natal, com a memória ainda muito fresca do acontecimento que foi, em agosto passado, a Jornada Mundial da Juventude. Concentraram-se em Lisboa centenas de milhar, mas também na semana anterior, por todas as cidades, vilas e aldeias de Portugal, foi igualmente um mar de jovens vindos de todas as partes do mundo. Jesus foi o centro e a razão de ser desta festa.
Agora vamos viver a Festa de Natal, olhando para o nascimento do mesmo Jesus em Belém e para a sua mensagem. Ele que era rico fez-se pobre para ir ao encontro de todos. E, se a alguém privilegiou, foram os pobres, os mais pequenos, os doentes e os abandonados. Entre estes estavam os pastores, no meio dos quais encontrou uma manjedoira para nascer, porque para ele não houve lugar nas hospedarias. E foram estes os primeiros a receber a alegre notícia, através dos anjos, que lhes apareceram e disseram – anuncio-vos uma grande alegria: hoje nasceu, na cidade de David, o Salvador.
Mais do que uma mensagem, o Natal é a presença de Jesus nascido em Belém na nossa vida, para nos abrir os caminhos da esperança.
Este Natal encontra os portugueses envolvidos em alguns factores de desilusão, que não podemos ignorar.
Citando os dados de um recente inquérito feito por especialistas, em 30 países da Europa, incluindo Portugal, nele se conclui que os portugueses estão muito desiludidos com os políticos e com os partidos políticos; e também porque a justiça parece, entre nós, funcionar pelo menos a duas velocidades, uma para os ricos e outra para os pobres, sendo que é célere, quando os incriminados são os pobres e lenta em demasia, quando se trata de ricos. Segundo o mesmo inquérito, uma das graves limitações do sistema democrático em que assenta a vida pública do nosso país é que ele não tem conseguido fazer diminuir o desequilíbrio entre ricos e pobres, que, pelo contrário, cada vez aumenta mais.
Nele se refere também que os portugueses procuram segurança e por isso voltam-se para as forças que a podem garantir, nomeadamente a polícia.
Uma coisa positiva nele se revela: é que, no conjunto dos países inquiridos, os portugueses são aqueles que manifestam maior acolhimento para os imigrantes.
O Natal convida-nos a procurar caminhos para desfazer estes desencantos e para, em contrapartida, potenciar tudo o que possa trazer nova esperança.
Assim, quanto aos políticos e aos partidos políticos, é este o tempo para eles apresentarem os seus projectos e que os cidadãos em geral procurem intervir na sua definição para depois fazerem a escolha que se impõe.
Por sua vez, a justiça é um assunto recorrente na mensagem deste Tempo do Advento que prepara o Natal e queremos assumir o propósito e a coragem de tudo fazer para que a sua aplicação respeite sempre a verdade e os direitos de todos. Não é tolerável a excessiva morosidade dos processos e que, em muitos deles, a culpa continue a morrer solteira.
É de sublinhar, agora pela positiva, o valor da disponibilidade dos portugueses para acolherem bem os imigrantes que nos procuram. Essa atitude, que o Papa Francisco, de forma recorrente, tem incentivado, também faz parte do espírito do Natal. Claro que esse acolhimento precisa de ser complementado com iniciativas de inserção, seja através do ensino, seja na saúde ou na protecção social.
Felizmente que temos já, entre nós, alguns bons exemplos, mas precisamos de os multiplicar e desenvolver. Quando quase dez por cento da população portuguesa já é constituída por estrangeiros (os números apontam para 800 mil) este cuidado não pode faltar.
Que a Festa do Natal, com o espírito e a luz do Menino do Presépio, nos ajude a progredir no cuidado de uns pelos outros e no bom acolhimento devido a todos, sem excluir ninguém.
Boas Festas de Natal e também de Ano Novo.
Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda