Interpelações do Papa à Europa
O Papa Francisco terminou, no domingo passado, a sua 46ª viagem apostólica. E desta vez, viajou ao coração da Europa, mais propriamente ao Luxemburgo e à Bélgica, onde a União Europeia tem a grande força dos seus serviços, nomeadamente da Comissão Europeia e do Conselho da Comunidade Europeia e ainda parte do Parlamento Europeu.
No Luxemburgo, onde passou um dos 4 dias desta viagem, encontrando-se com as autoridades e nomeadamente no palácio do Grão Ducado, apelou a uma Europa unida e fraterna, lembrando que a riqueza produzida envolve responsabilidade para com os pobres e na defesa da Casa comum. Dirigindo-se em particular à comunidade católica, na Catedral de Notre Dame do Luxemburgo, pediu atitude de serviço e alegria para cumprimento da missão. E por sinal, foi uma religiosa portuguesa que já serviu na cidade da Guarda que lhe fez a saudação inicial.
Na Bélgica, logo à chegada, no encontro com as autoridades, convidou a Europa a derrotar o inverno demográfico e o inferno da Guerra. Enfrentou os dramáticos casos de abuso de menores por membros da Igreja, flagelo que, como referiu, a mesma Igreja está a tentar enfrentar com decisão e firmeza. Recebeu 17 vítimas destes abusos. Falou também na problemática questão da adoção forçada, que aconteceu na Bélgica, durante as décadas de 50 a 70 do século passado e da qual permanecem ainda feridas não curadas. Falando para o interior da Igreja pediu aos Padres que não se limitem a conservar e gerir o património do passado, mas procurem ser pastores verdadeiramente apaixonados por Jesus Cristo.
Em vésperas de se cumprir a segunda e última sessão do Sínodo, pediu que o processo de sinodalidade seja caminhada conjunta de regresso ao Evangelho para vermos também conjuntamente como o levar de novo à nossa sociedade, que, de facto, já não o escuta e, em grande escala, vive mesmo de costas voltadas para a Fé.
Na Universidade Católica de Luvaina, que cumpre estes ano 600 anos de existência, dialogou primeiro com os professores e depois com os estudantes; e, nestes diálogos, surgiram questões recorrentes como sejam o lugar da mulher na vida da Igreja e da sociedade, o aborto e o tratamento devido aos homossexuais.
A viagem terminou com a Celebração da Eucaristia no Estádio do rei Balduíno participada por 40 mil pessoas.
No texto do Evangelho desta Celebração, aparecia o Apóstolo João pedindo a Jesus para mandar calar alguém que não andava com eles, mas expulsava demónios. A resposta de Jesus foi que quem não está contra nós está connosco.
Também o Papa nesta viagem foi ao encontro de muitos que “não andam connosco”, mas, em muitas decisões e procedimentos, não estão contra nós, antes pedem ou aceitam a nossa colaboração; e, pelo diálogo, podemos sempre valorizar o que cada um faz em favor do bem comum.
2 de outubro de 2024
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda
imagem: site RR