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Na visita “Ad Limina Apostolorum” – Audiência com o Santo Padre

Os Bispos Portugueses tiveram, esta manhã, na conclusão da Visita “Ad Limina Apostolorum”, a audiência com o Santo Padre.

Apresentou-se sem cadeira de rodas e cumprimentou cada um de nós, à chegada.

Não quis usar microfone para se sentir mais perto de cada um de nós.

Não houve discurso formal nem da parte do Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa nem da sua parte.

Ele falava em castelhano, a sua língua mais comum, enquanto arcebispo de Buenos Aires e nós falávamos em português.

A audiência foi, de facto, um colóquio de partilha de assuntos vários que nos preocupam e que de facto já tinham sido abordados nas reuniões com os diferentes dicastérios, ao longo da semana.

Mas nós tivemos a possibilidade de agora sentir ao vivo a forma como o Santo Padre vive os assuntos que lhe foram colocados e que orientações dá sobre cada um deles.

Entre esses vários assuntos abordados, o primeiro a aparecer foi a evangelização, que constitui, na prática, o programa deste Pontificado, como consta da Evangelii Gaudium (2013), seu texto programático. Tanto o 1º anúncio, como as outras dimensões da evangelização, desde a catequese à homilia, passando pelo uso dos meios de comunicação social, são mandato dirigido a todos e cada um dos discípulos de Cristo.

Outro assunto foi o acompanhamento das famílias, objeto de dois sínodos convocados por ele. Discernir, acompanhar e integrar foram, de novo, os conselhos que nos deixou, para cada um de nós saber aplicar, com a criatividade própria das comunidades e dos serviços pastorais.

Esteve presente também a realidade das vocações sacerdotais e  da formação nos seminários, assim como a formação permanente dos sacerdotes e a necessidade do seu acompanhamento. E, a propósito, lembrou-nos também a nós Bispos que não podemos descuidar a nossa formação.

Em continuidade, passou-se para a formação dos leigos. E, a esse propósito, foi-nos lembrado que o Ministério Ordenado, só bem conjugado com os ministérios confiados a leigos, poderá cumprir bem a sua missão. Por isso, impõe-se programar a formação dos nossos leigos, criando para tal as necessárias condições e lembrou-nos, a propósito, as novas possibilidades que, hoje, a formação á distância nos oferece para esse efeito.

Claro que a evangelização como também a formação acontecem sempre em ambientes condicionados pela cultura, que marca a vida das pessoas e das comunidades. Por isso, fomos alertados para a necessidade de cuidar formas de estarmos presentes nesse mundo da cultura, seja a universitária, seja a escolar em geral ou a das instituições que mais influenciam a vida das pessoas, sejam as expressões culturais mais espontâneas do nosso povo. Alguém disse que os tempos atuais são, de facto, tempos de “ex-culturação” da Igreja; Igreja que sempre marcou, ao longo da história, lugar decisivo nas criações da arte e da cultura. Embora em contextos muito diferentes dos anteriores, o certo é que não podemos abandonar o mundo da cultura e, quanto possível, deixarmos nela as marcas dos valores que o Evangelho inspira.

Assunto que não podia deixar de aparecer nesta audiência, em estilo de colóquio, foi o da imigração. O Papa voltou a lembrar-nos a necessidade de criar condições para que as pessoas possam circular em liberdade, sendo que a mobilidade de pessoas, bens e serviços é assunto hoje incontornável. Mas, como ele insistiu,  precisamos de saber acolher, formar e integrar, fazendo respeitar os direitos humanos de quem chega, para que o encontro de diferentes culturas e formas de viver seja enriquecimento para todos, a começar pelos que acolhem. A este propósito, lembrou-se o monumento ao refugiado que se encontra na Praça de S. Pedro, no Vaticano, para assinalar o drama de muitos imigrantes que procuravam a Europa, mas não conseguiram vencer os obstáculos que encontraram, nomeadamente as águas do Mediterrânio.

Sobre os jovens, o Papa lembrou, mais uma vez, a Jornada Mundial da Juventude, realizada em Portugal no mês de agosto do ano passado e que teve a sua presença, durante cinco dias. E recomendou-nos que, de forma criativa, saibamos aproveitar a dinâmica deste acontecimento, que foi admirado pelo mundo em geral, para sabermos organizar bem o acompanhamento pastoral dos nossos jovens.

Perguntámos-lhe também como o é que a sinodalidade que ele insistentemente tem recomendado à Igreja, já desde a celebração do cinquentenário do Sínodo dois Bispos, em 2015, pode e deve marcar a via ordinária das nossas comunidades.

Durante a partilha sobre este assunto, lembrou-nos que o protagonista da caminhada sinodal é sempre Espírito Santo. Remeteu-nos, a seguir, para o modelo das conversações no Espírito experimentado na 1ª sessão do Sínodo sobre a sinodalidade e como ele pode ser inspirador das nossas comunidades e dos serviços pastorais.

Foram quase duas horas de diálogo, em que o Santo Padre se esqueceu das suas limitações, em particular da cadeira de rodas, sem deixar de revelar algum cansaço, o que é compreensível. Mas o facto é que ainda teve força para várias expressões do humor que lhe conhecemos e para referir alguns momentos da infância e juventude relacionados com a sua vocação, em contexto familiar, incluindo a presença da avó.

No final, despediu-se, cumprimentando pessoalmente cada um de nós. Tivemos, assim, oportunidade de lhe expressar, neste cumprimento, algum  assunto pessoal ou das nossas dioceses que mais nos preocupa.

Aqui fica o registo sobre o acontecimento desta audiência que foi, sem dúvida,  o momento mais marcante da visita “ad limina Apostolorum”.

+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda

 

Foto: Vatican media