Não raras vezes se ouve uma crítica dirigida a um Sacerdote, quando solicita uma licença para uma festa que o povo sempre celebrou ou quando se recusa aceitar alguém como padrinho num Batizado. Porém, tudo tem uma razão de ser e o Pároco, por muita liberdade que tenha na administração da sua paróquia e no acompanhamento pastoral dos fiéis que lhe estão confiados, não deixa de estar obrigado a cumprir e a fazer cumprir a Lei da Igreja. Foi essa a promessa que fez quando assumiu exercer o ofício com diligência e fidelidade.
A história bíblica é toda ela baseada na lei e no seu cumprimento. Se fomos salvos pelo sangue derramado por Cristo na cruz, é porque necessitávamos de o ser, porque nos tornámos pecadores, porque não cumprimos a Lei que Deus entregou a Moisés quando celebrou a Antiga Aliança e porque a nossa vida por vezes se desvia dos ensinamentos de Jesus Cristo quando renovou o pacto com o povo de Deus.
A Igreja tem uma Lei, toda ela vocacionada para a salvação das almas e para que um dia todos possamos entrar no Reino dos Céus. A mão que abençoa, também ensina. E o Deus que nos ama infinitamente, foi instruindo o povo de Deus para nos ensinar a viver em fé, numa caminhada de descoberta de nós próprios e do próximo, mas obedecendo aos preceitos divinos.
A lei da Igreja, o chamado direito canónico, rege toda a nossa vida em comunidade cristã e tudo o que está prescrito na lei, tem por base as Sagradas Escrituras, a própria vivência de Jesus, que sendo verdadeiro Deus, se fez verdadeiro homem para nos salvar. A lei existe, não para punir, não para castigar ou simplesmente complicar a vida, como muitas vezes se ouve dizer. A lei existe porque tem um fundamento espiritual, completamente sagrado, para nos ajudar a viver numa grande comunidade, a comunidade de Jesus Cristo.
Talvez ao longo dos anos, em algumas paróquias, se foram criando hábitos e facilitísmos, talvez por desleixo, desconhecimento ou porque simplesmente se pensou que agindo de uma forma diferente ao que a lei impunha, se exercia melhor a função pastoral.
Ninguém vai preso por não ter uma licença de uma festa, nem ninguém é impedido de assistir a uma Celebração Eucarística se não estiver plenamente reconciliado com Deus. Mas uma lei que tem por base a misericórdia divina, nunca poderá ser contrária ao que nos convém. A catequese cristã não termina o dia da primeira comunhão e devemos ter sempre o coração aberto para aprendermos tudo o que ainda não sabemos da Lei de Deus e da Sua Igreja e a colocarmos em prática.
Quando nos depararmos com uma orientação sacerdotal que nos surpreende e até nos desagrada, podemos sempre questionar o Sacerdote pela razão de ser do que diz ou faz. E aí iremos perceber e muito certamente aceitar, pois a Igreja de Cristo não é uma Igreja que afasta, discrimina ou segrega. É uma Igreja que acolhe, integra e congrega. E a Lei da Igreja não deixa de ser o reflexo do amor que Deus tem por nós e pela qual nos demonstra a vontade de nos acolher na Sua imensa Glória.
Artigo de Opinião: Ilda Manso, Advogada