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Nota Pastoral por ocasião do 5.º Congresso Eucarístico Nacional

A propósito do 5.º Congresso Eucarístico Nacional a realizar-se em Braga, de 31 de maio a 2 de junho de 2024, sob o tema: «Partilhar o Pão, alimentar a Esperança. “Reconheceram-n’O ao partir o Pão” (Lc 24,35)», convidamos a todos a olhar a Eucaristia como o sacramento da Páscoa e a fonte esperançosa da salvação.

O congresso eucarístico nacional (www.congressoeucaristico.pt) é uma manifestação especial do culto eucarístico, considerado como uma “estação” para a qual a Conferência Episcopal Portuguesa convoca a Igreja que peregrina em Portugal, a fim de reconhecer mais profundamente o mistério da Eucaristia e lhe prestar um culto público nos laços da caridade evangelizadora.

Juntos, neste grande encontro eclesial, no Ano da Oração rumo ao Jubileu de 2025, podemos consolidar a arte de bem celebrar, o silêncio, a escuta, o canto, a música, a adoração e o maravilhamento da Eucaristia na sua nobre simplicidade e beleza.

1. Partilhar o pão, alimentar a esperança

Antes de «partir o pão», Cristo, «começando por Moisés e seguindo por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que lhe dizia respeito» (Lc 24,27). No partir do pão é o próprio Cristo que é partido no pão da Eucaristia, da caridade, no encontro com os pobres, os mais vulneráveis, os mais frágeis e com todas as necessidades do mundo em que vivemos para que tenhamos este sentido de plenitude e sejamos capazes de, à luz das Escrituras, reconhecê-los em todas as pessoas e situações da comunidade neste tempo tão complexo e delicado.

O Papa Francisco pede a toda a Igreja uma cultura eucarística, onde se mostrem as atitudes da comunhão, do serviço e da misericórdia: «capaz de inspirar os homens e as mulheres de boa vontade nos âmbitos da caridade, da solidariedade, da paz, da família, do cuidado da criação» (discurso à plenária do Pontifício Comité para os Congressos Eucarísticos Internacionais, 10 de novembro de 2018).

O tema do caminho está sempre presente na evangelização. A fé dos discípulos nasce no caminho, que não é apenas geográfico, mas é espiritual e atravessa a desilusão, as dúvidas, o vazio, a desconfiança da sua peregrinação na história.

A alegria do primeiro e fundamental anúncio é sempre o mesmo: «“Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” E eles contaram o que lhes tinha acontecido pelo caminho e como Jesus se lhes dera a conhecer, ao partir o pão» (Lc 24, 34-35). O caminho conduz-nos ao encontro com Jesus Cristo e com os outros, com a comunidade cristã e com aqueles a quem somos enviados a testemunhar com a vida, a fé que acreditamos e celebramos.

2. Reconhecer Jesus Cristo ao partir do pão

O texto de Emaús, segundo a narração lucana, atinge o seu vértice quando o desconhecido peregrino, ou melhor, Cristo peregrino que não reconheceram logo, sentando-se à mesa com os dois discípulos desiludidos com o fim trágico de Jesus de Nazaré, «tomou o pão, pronunciou a bênção e, depois de o partir, entregou-lho. Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no». Jesus Cristo, o Ressuscitado, manifesta-se vivo com o mesmo gesto de partir o pão, o grande gesto que realizou na noite da instituição da Eucaristia.

Por consequência, a celebração eucarística da ceia do Senhor deve ser o grande momento em que se mostra a alegria do reconhecimento («os seus olhos abriram-se e reconheceram-no») e da visão («vimos o Senhor», Jo 20,25). De facto, como se exprime na Oração Eucarística V, é grande a alegria de “ver” Jesus vivo: «sois verdadeiramente Santo e digno de glória, Deus, amigo dos homens, que sempre os acompanhais no seu caminho. Verdadeiramente bendito é o vosso Filho, que está presente no meio de nós quando nos reunimos no seu amor e, como outrora aos discípulos de Emaús, Ele nos explica o sentido da escritura e nos reparte o pão da vida», é grande a alegria de “ver” Jesus vivo. É a alegria da Páscoa que arde no coração.

3. O maravilhamento eucarístico

A experiência pascal é o paradigma cristão. Os discípulos foram fulminados de fora e tocados e feridos por dentro, a ponto de lhes arder o coração. «Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?» (Lc 24,32).

O Cristianismo fundamenta-se numa experiência tocante, qualificante, que muda gente desesperada em testemunhas de uma vida transformada. Redescobrir a santidade como vocação batismal é um convite para todos e não um privilégio para poucos. Este é um imperativo para todos e para cada um de nós, como exorta o autor da Carta aos Hebreus: «procurai a paz com todos e a santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor» (Heb 12,14).

A vida cristã só tem sentido como vida em Cristo. Deus é o Santo e, na sua santidade, somos chamados à mesma santidade de vida. Isto mesmo reza a Igreja na Liturgia: «Vós, Senhor, sois verdadeiramente Santo, sois a fonte de toda a santidade» (Oração Eucarística II). Deus é a vida dos Santos.

A celebração da Eucaristia prolonga-se na vida e na adoração eucarística com o culto eucarístico fora da Missa. Porque não promover em cada domingo a adoração eucarística comunitária nas nossas comunidades eclesiais? Porque não criar um lausperene eucarístico diocesano com todas as Paróquias e comunidades nas Unidades Pastorais?

De facto, «apenas na adoração, só diante do Senhor, é que recuperamos o gosto e a paixão pela evangelização. E, curiosamente, perdemos a oração de adoração; e todos, sacerdotes, bispos, consagradas, consagrados têm de a recuperar: recuperar aquele permanecer em silêncio diante do Senhor» (Papa Francisco, Lisboa, 2 de agosto de 2023).

4. O Domingo, Páscoa semanal

«Sine dominico non possumus!» Sem o Domingo do Senhor, sem o Dia do Senhor não podemos viver: assim responderam no ano 304 alguns cristãos de Abitínia, atual Tunísia, quando, surpreendidos na celebração eucarística dominical, que estava proibida. Eles foram conduzidos ante o juiz, que lhes perguntou por que, no Domingo, haviam celebrado a função religiosa cristã, sabendo que isso implicava castigo de morte. Não há Paróquia sem Domingo nem Domingo sem Paróquia.

A liturgia é o lugar do encontro com Jesus Cristo. De facto: «não nos basta ter uma vaga recordação da última Ceia: nós precisamos de estar presentes nessa Ceia, de poder ouvir a sua voz, de comer o seu Corpo e beber o seu Sangue: precisamos d’Ele. Na Eucaristia e em todos os sacramentos é-nos garantida a possibilidade de encontrar o Senhor Jesus e de ser alcançados pela potência da sua Páscoa» (Desiderio desideravi 11). É verdade que a Igreja faz a Eucaristia e a Eucaristia faz a Igreja, segundo o dinamismo pascal.

Nas circunstâncias atuais, o Domingo como o dia do Senhor fica, muitas vezes, reduzido a um “fim de semana”. Por isso, é necessário redescobrir o seu sentido verdadeiro. Pois, se o Domingo deixar de ser um dia, no qual haja espaço para a oração, o repouso, a união e a alegria, pode acontecer que, como referiu São João Paulo II: «o homem permaneça encerrado num horizonte tão restrito, que já não lhe permite ver o ‘céu’. Então, mesmo bem-trajado, torna-se intimamente incapaz de ‘festejar’». Apesar de tudo, a Igreja vive fielmente este dia semanal da Palavra e da Eucaristia.

A feliz oportunidade do 5.º Congresso Eucarístico Nacional orienta-nos para a centralidade da Eucaristia e do Domingo: na valorização da celebração eucarística para que seja, efetivamente, um momento de encontro com Deus e com os irmãos; na participação ativa e no envolvimento de todos nas diferentes celebrações litúrgicas; na formação de todos os ministérios, serviços e carismas; na promoção do crescimento e do amadurecimento espiritual de cada um; na Paróquia, como casa e escola de oração com as portas abertas.

Em Emaús, no dia de Páscoa, os apóstolos reconheceram Jesus ressuscitado ao partir do pão. Só à luz da Páscoa podemos celebrar e viver a Eucaristia. A partir da Eucaristia a Igreja faz-se sinodal, samaritana e missionária, na sabedoria do coração “eucarístico” da Virgem Santa Maria e dos santos e santas.

Fátima, 11 de abril de 2024