Skip to content Skip to footer

Comunicar numa Diocese: da transmissão de recados à construção da comunhão eclesial

Num contexto marcado pela saturação comunicacional e pela fragmentação da atenção, a comunicação institucional da Igreja enfrenta desafios significativos.

Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre a comunicação no âmbito diocesano, identificando obstáculos estruturais e culturais e apontando caminhos para uma comunicação mais coerente com a identidade e missão eclesial. A partir de fundamentos teológicos e comunicacionais, defende-se que comunicar, para a Igreja, é um ato profundamente pastoral e evangelizador.

Introdução

A comunicação, no contexto eclesial contemporâneo, não pode ser entendida como mera transmissão de informações ou divulgação de eventos. A Igreja, enquanto comunidade de fé, é, por natureza, comunicadora. A comunicação que brota do Evangelho deve ser, antes de mais, um serviço à comunhão, expressão de uma identidade relacional e testemunhal. Como afirma o Papa Francisco (2014), “a comunicação tem o seu núcleo na relação entre pessoas”.

Comunicação eclesial: para além da funcionalidade

Um dos equívocos mais persistentes na comunicação diocesana consiste em reduzi-la a um conjunto de anúncios institucionais ou recados administrativos. Tal visão empobrece a comunicação, convertendo-a numa prática fria e hierarquicamente unidirecional. A verdadeira comunicação eclesial é, porém, um espaço de relação, escuta e partilha de vida. Trata-se de uma comunicação que constrói unidade e dá corpo à sinodalidade, princípio fundamental da vida eclesial contemporânea.

Obstáculos à comunicação eficaz na Diocese

A prática comunicativa em muitas estruturas diocesanas é marcada por diversos bloqueios:

  • Falta de cultura comunicacional: A ausência de formação específica e de uma consciência clara da relevância da comunicação pastoral impede o seu desenvolvimento estratégico.
  • Linguagem hermética: Discursos excessivamente clericais, técnicos ou fechados afastam-se da linguagem comum dos fiéis e da cultura contemporânea.
  • Centralismo informativo: Em muitos casos, a comunicação permanece vertical e unidirecional, com escassa valorização do diálogo e da diversidade comunitária.
  • Descontinuidade e improviso: A inexistência de uma linha editorial coerente ou de planeamento pastoral da comunicação leva a iniciativas isoladas, reativas e pouco eficazes.

Como refere Giaccardi (2011), “uma comunicação verdadeiramente cristã não pode limitar-se à transmissão de conteúdos religiosos, mas deve nascer da partilha da vida e da experiência da fé” (p. 42).

Fundamentos para uma comunicação eclesial renovada

Comunicar bem numa Diocese exige investimento pastoral e estratégico. Entre os princípios orientadores destaca-se:

  • Verdade e clareza: A mensagem cristã deve ser comunicada com autenticidade, simplicidade e empatia, com atenção à realidade concreta das pessoas.
  • Planeamento estratégico: A comunicação deve ser pensada de forma integrada na missão pastoral, com definição clara de objetivos, públicos-alvo, linguagens e canais.
  • Formação e profissionalização: É essencial investir na capacitação de agentes pastorais da comunicação, reconhecendo o seu papel estruturante na vida diocesana.
  • Multiformidade de meios: A comunicação deve recorrer a diferentes formatos – texto, imagem, vídeo, redes sociais – mas sempre com um núcleo testemunhal e não meramente técnico.

A comunicação como dimensão evangelizadora

No horizonte da missão da Igreja, comunicar não é uma função acessória, mas um ato intrinsecamente evangelizador. Trata-se de fazer ressoar, através de meios humanos, a Boa Nova de Jesus Cristo na vida concreta das comunidades. Nenhuma campanha, por mais sofisticada, substituirá o testemunho de uma comunidade viva, coerente e esperançada. A comunicação é, por isso, um prolongamento da vida cristã e da própria liturgia da Igreja, que se torna visível, audível e acessível no espaço público.

Conclusão

A comunicação diocesana deve ser compreendida como uma expressão essencial da pastoral, não como apêndice técnico. É tempo de assumir com coragem e visão que comunicar é servir a comunhão, alimentar a esperança e anunciar o Reino de Deus. Como assinala Bernal (2006), “a comunicação da Igreja é eficaz quando se torna presença amiga, voz de proximidade e expressão da caridade pastoral” (p. 88).

Referências

Bernal, J. M. (2006). La comunicación en la Iglesia. PPC.

Francisco. (2014). Mensagem para o 48.º Dia Mundial das Comunicações Sociais.
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/communications/documents/papa-francesco_20140124_messaggio-comunicazioni-sociali.html

Giaccardi, C. (2011). Comunicazione e media nella Chiesa. Vita e Pensiero.

– – –

A. M.